Introdução
Se no mundo falta exemplo daquilo que você deseja imitar, ao menos seja o contrexemplo daquilo que o mundo conserva de conveniente, ainda dissociado da verdade. É no contraexemplo que se planta a semente da mundança — o conservantista sempre vai afirmar que isso ocorrerá passando por cima do cadáver dele.
No lugar de você bater de frente com o Adamastor, você o contorna de modo que o Cabo das Tormentas vire Cabo da Boa Esperança. A arte de ser português implica viver no kairológico e contornar os que se prendem à matéria por conveniência, ainda que dissociado da verdade — no final, Chronos os devorará todos sem distinção, pois ele sempre quererá ser sempre o primeiro a cada segundo, coisas que nunca serão, posto que são mortais.
Este texto serve como ponto de partida para refletir sobre ações estratégicas, temporização kairológica e resistência indireta à conveniência social. Ele sintetiza a experiência de quem busca transformar o mundo sem depender de exemplos prévios, utilizando a metáfora literária do Adamastor e a oposição entre os conceitos de kairos e chronos.
O contraexemplo como semente da mudança
Quando a sociedade não oferece modelos dignos de imitação, surge a alternativa de tornar-se a antítese do que mantém o mundo preso à conveniência.
O contraexemplo não é apenas uma forma de resistência; é uma ação que planta ideias e provoca reflexão, mesmo que aqueles que defendem o status quo digam que nada mudará sem esforço extremo ou derramamento de sangue.
Comentário: Nesta seção, o texto base inspirou a ideia de que a mudança pode ser indireta, silenciosa e ainda assim eficaz. Ele mostra que o exemplo inverso funciona como catalisador de reflexão e transformação.
Contornando o Adamastor: estratégia e esperança
A figura do Adamastor representa os desafios que parecem intransponíveis. Contorná-lo, em vez de confrontá-lo diretamente, é uma estratégia de sabedoria: transformar o Cabo das Tormentas em Cabo da Boa Esperança.
Comentário: Aqui, o texto original fornece a metáfora central. A ideia de “contornar” ao invés de enfrentar frontalmente traduz-se em estratégia prática e filosófica, aplicável tanto a desafios pessoais quanto históricos.
Essa abordagem kairológica permite agir no momento oportuno, respeitando o tempo da verdade, em contraste com a pressa de Chronos, que devora tudo o que é mortal.
Kairos e Chronos: dois tempos em conflito
A distinção entre os dois tipos de tempo é crucial:
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Chronos: tempo cronológico, linear, devorador, que avança sem discernimento.
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Kairos: tempo oportuno, qualitativo, que permite ações conscientes e transformadoras.
Comentário: A introdução original já delineava esta oposição. Kairos é vivido por quem contorna a conveniência, enquanto Chronos devora os que permanecem presos ao imediato e material.
Conclusão
O contraexemplo emerge como ferramenta de transformação quando os modelos sociais são insuficientes. Contornar obstáculos, agir no tempo oportuno e plantar sementes de mudança são estratégias que permitem transformar a realidade, mesmo diante de forças aparentemente invencíveis.
Comentário: O texto original encerra com uma meditação sobre a mortalidade, a verdade e a ação estratégica. A reflexão final integra kairos, Chronos e o Adamastor como metáforas interconectadas, oferecendo uma visão poética e filosófica da resistência e da mudança.
Notas de Rodapé
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CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Canto V: o episódio do Adamastor representa os medos e limites do homem diante do desconhecido.
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HESÍODO. Teogonia. Chronos (ou Crono) é o titã devorador dos próprios filhos, símbolo do tempo inexorável.
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KAIROS é explorado na filosofia grega como o “tempo certo” para a ação. Ver: KAIROS. In: Dicionário de Filosofia de Abbagnano.
Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2000.
HESÍODO. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2009.
RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
TAYLOR, Charles. As fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Loyola, 1997.
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