Introdução
A história republicana brasileira pode ser lida à luz da parábola dos talentos (Mt 25,14-30): o Senhor entrega dons preciosos e espera que sejam multiplicados. Mas, em vez de fazê-los frutificar, as elites brasileiras enterraram-nos no solo da indolência. O resultado é a repetição de ciclos de estagnação e traição, que culminam na falência do regime republicano enquanto projeto de nação.
O ciclo da República Velha (1889–1930)
A primeira geração da república foi marcada pelo positivismo, doutrina que buscou substituir a Igreja como formadora de elites e transformar o Estado em religião civil. Essa fase produziu uma elite oligárquica que privilegiava seus próprios interesses em detrimento do bem comum. Como observa Caio Prado Jr., o país permaneceu preso à lógica de uma economia primário-exportadora, sem conseguir promover verdadeira industrialização ou integração nacional¹.
Esse ciclo encerrou-se em 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas, mas não sem antes deixar como herança a absolutização do Estado e a exclusão da Igreja do papel civilizatório que lhe era próprio².
O ciclo da República Nova (1930–hoje)
A segunda geração da república inicia-se em 1930, sob Vargas, e continua até hoje. Ela se caracteriza pelo salvacionismo estatal: a crença de que o progresso econômico, conduzido de cima para baixo pelo Estado, poderia redimir a nação.
Esse ciclo atravessou várias fases:
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Vargas, com o trabalhismo e o populismo de massas;
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Juscelino Kubitschek, com o desenvolvimentismo otimista;
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o regime militar (1964–1985), que radicalizou a fé no Estado como agente integrador através do “milagre econômico”;
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a redemocratização pós-1985, que não rompeu com o ciclo, mas o prolongou sob hegemonia esquerdista;
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o lulismo, como consequência direta do getulismo, continuando o mesmo processo populista-estatista até os dias atuais³.
Portanto, a chamada “Nova República” não é um novo ciclo, mas mera continuidade da República Nova inaugurada por Vargas. Esse ciclo só se encerrará com a derrota definitiva da esquerda — fruto direto de Getúlio.
O fracasso do salvacionismo militar
O regime militar exemplifica as contradições da República Nova. Se, de um lado, promoveu obras notáveis de infraestrutura e crescimento, de outro, fracassou em combater a esquerda no plano cultural. Ao afastar a Igreja de sua missão de formar elites virtuosas, abriu caminho para a hegemonia marxista no meio intelectual, midiático e artístico⁴.
Como ensinava Santo Tomás de Aquino, a lei humana só é legítima quando em conformidade com a lei natural e divina; fora disso, degenera em tirania⁵. Ao fundar-se no positivismo, o salvacionismo militar não poderia durar: produziu uma pseudo-elite tecnocrática, dependente do favor estatal, mas incapaz de conduzir a sociedade.
A falsa elite econômica
Além da falência política, o Brasil conviveu com a falência de sua elite econômica. O agronegócio e a elite financeira receberam todos os talentos — crédito subsidiado, infraestrutura pública, proteção estatal — mas, como o mau servo da parábola, enterraram-nos⁶.
Segundo Thorstein Veblen, trata-se de uma classe ociosa, que ostenta e consome mas não lidera o processo de inovação ou emancipação nacional⁷. Em vez de multiplicar os talentos, tornou o país refém de exportações primárias e do rentismo, atrasando seu desenvolvimento humano e tecnológico⁸.
Da hegemonia esquerdista à crise terminal
De 1985 a 2013, a hegemonia esquerdista reinou quase sem oposição. As manifestações populares de 2013 e a vitória de Bolsonaro em 2018 não inauguraram um novo ciclo, mas apenas revelaram a crise terminal da República Nova. Bolsonaro não é a causa, mas o sintoma de que o pacto republicano se esgotou.
O Brasil já experimentou duas formas de república:
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a Velha República, oligárquica e positivista;
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a República Nova, populista, estatista e desenvolvimentista.
Ambas fracassaram.
Conclusão: pela restauração monárquica
A superação desse impasse exige mais do que reformas políticas. Somente a restauração da monarquia católica, com a Igreja reassumindo seu papel de formadora de elites virtuosas, poderá oferecer ao Brasil uma ordem fundada na verdade e na liberdade. Sem isso, o país continuará prisioneiro de elites que enterram os talentos de Deus e será condenado, como o mau servo, às trevas exteriores do fracasso histórico.
Notas de Rodapé
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Prado Jr., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
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Olavo de Carvalho. O Imbecil Coletivo. São Paulo: É Realizações, 1996.
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Bresser-Pereira, Luiz Carlos. A Construção Política do Brasil: Sociedade, Economia e Estado desde a Independência. São Paulo: Editora 34, 2014.
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Dawson, Christopher. A Formação da Cristandade. São Paulo: Ecclesiae, 2014.
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Tomás de Aquino. Suma Teológica, I-II, q. 95, a. 2.
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Furtado, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
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Veblen, Thorstein. The Theory of the Leisure Class. New York: Macmillan, 1899.
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Leão XIII. Rerum Novarum (1891).
Bibliografia
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AQUINO, Tomás de. Suma Teológica.
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BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A Construção Política do Brasil: Sociedade, Economia e Estado desde a Independência. São Paulo: Editora 34, 2014.
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CARVALHO, Olavo de. O Imbecil Coletivo. São Paulo: É Realizações, 1996.
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DAWSON, Christopher. A Formação da Cristandade. São Paulo: Ecclesiae, 2014.
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FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
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LEÃO XIII. Rerum Novarum. Vaticano, 1891.
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PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
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VEBLEN, Thorstein. The Theory of the Leisure Class. New York: Macmillan, 1899.
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