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domingo, 10 de agosto de 2025

Speakers’ Corner: o palco livre da liberdade de expressão no coração de Londres

No extremo nordeste do Hyde Park, em Londres, existe um espaço singular que há mais de um século simboliza, para britânicos e estrangeiros, a liberdade de expressão: o Speakers’ Corner.

Trata-se de um ponto onde qualquer pessoa — sem distinção de nacionalidade, origem ou credenciais — pode subir num pequeno caixote ou banco improvisado e discursar para quem quiser ouvir.

Origens e história

A tradição remonta ao século XIX, em um contexto de efervescência política e social no Reino Unido. Após as revoltas e protestos por mais direitos civis, o governo britânico, em vez de reprimir totalmente as manifestações, delimitou no Hyde Park um espaço onde a população pudesse falar abertamente, desde que respeitasse a lei.

Assim nasceu o Speakers’ Corner, oficialmente reconhecido em 1872, durante o reinado da rainha Vitória, como parte de um ato parlamentar que regulamentava a realização de reuniões públicas no parque.

Símbolo de pluralidade

Desde então, o local já recebeu pensadores, ativistas, pregadores, artistas e curiosos. Karl Marx, Vladimir Lênin, George Orwell, missionários cristãos e defensores de diversas causas já subiram ali para falar ao público.

Não existe uma pauta única: há quem fale sobre política internacional, filosofia, religião, direitos humanos, economia, cultura pop ou mesmo sobre teorias excêntricas. O essencial é que o orador saiba que o espaço é aberto e que qualquer pessoa na plateia pode responder, questionar ou contestar.

Como funciona

O Speakers’ Corner está aberto a qualquer hora, mas a tradição viva acontece principalmente aos domingos pela manhã.

Para falar, basta encontrar um espaço, subir num apoio — tradicionalmente um caixote de madeira — e começar. Não há inscrição prévia, nem necessidade de autorização específica. No entanto, é preciso respeitar a lei britânica: não se pode incitar à violência, proferir discurso de ódio ou difamar indivíduos de maneira criminosa.

Outro detalhe é que o orador deve estar preparado para o debate: o público ali é ativo e muitas vezes provocador, e isso faz parte do charme do lugar.

Um espaço internacional

Londres é uma cidade multicultural, e o Speakers’ Corner reflete isso. Discursos já foram feitos em dezenas de línguas — do árabe ao polonês, do espanhol ao português —, o que permite que comunidades inteiras encontrem ali um canal de expressão. Para um brasileiro vivendo no Reino Unido, é perfeitamente possível usar o espaço para falar à diáspora brasileira sobre política, cultura, fé ou qualquer outro tema, mesmo sem saber inglês.

Por que importa

Num mundo onde a liberdade de expressão é frequentemente relativizada ou restringida, o Speakers’ Corner mantém viva a tradição de que a palavra é uma forma de poder legítima e pública. Não se trata apenas de um ponto turístico, mas de um símbolo histórico do direito de falar, ouvir e debater em espaço aberto.

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