No extremo nordeste do Hyde Park, em Londres, existe um espaço singular que há mais de um século simboliza, para britânicos e estrangeiros, a liberdade de expressão: o Speakers’ Corner.
Trata-se de um ponto onde qualquer pessoa — sem distinção de nacionalidade, origem ou credenciais — pode subir num pequeno caixote ou banco improvisado e discursar para quem quiser ouvir.
Origens e história
A tradição remonta ao século XIX, em um contexto de efervescência política e social no Reino Unido. Após as revoltas e protestos por mais direitos civis, o governo britânico, em vez de reprimir totalmente as manifestações, delimitou no Hyde Park um espaço onde a população pudesse falar abertamente, desde que respeitasse a lei.
Assim nasceu o Speakers’ Corner, oficialmente reconhecido em 1872, durante o reinado da rainha Vitória, como parte de um ato parlamentar que regulamentava a realização de reuniões públicas no parque.
Símbolo de pluralidade
Desde então, o local já recebeu pensadores, ativistas, pregadores, artistas e curiosos. Karl Marx, Vladimir Lênin, George Orwell, missionários cristãos e defensores de diversas causas já subiram ali para falar ao público.
Não existe uma pauta única: há quem fale sobre política internacional, filosofia, religião, direitos humanos, economia, cultura pop ou mesmo sobre teorias excêntricas. O essencial é que o orador saiba que o espaço é aberto e que qualquer pessoa na plateia pode responder, questionar ou contestar.
Como funciona
O Speakers’ Corner está aberto a qualquer hora, mas a tradição viva acontece principalmente aos domingos pela manhã.
Para falar, basta encontrar um espaço, subir num apoio — tradicionalmente um caixote de madeira — e começar. Não há inscrição prévia, nem necessidade de autorização específica. No entanto, é preciso respeitar a lei britânica: não se pode incitar à violência, proferir discurso de ódio ou difamar indivíduos de maneira criminosa.
Outro detalhe é que o orador deve estar preparado para o debate: o público ali é ativo e muitas vezes provocador, e isso faz parte do charme do lugar.
Um espaço internacional
Londres é uma cidade multicultural, e o Speakers’ Corner reflete isso. Discursos já foram feitos em dezenas de línguas — do árabe ao polonês, do espanhol ao português —, o que permite que comunidades inteiras encontrem ali um canal de expressão. Para um brasileiro vivendo no Reino Unido, é perfeitamente possível usar o espaço para falar à diáspora brasileira sobre política, cultura, fé ou qualquer outro tema, mesmo sem saber inglês.
Por que importa
Num mundo onde a liberdade de expressão é frequentemente relativizada ou restringida, o Speakers’ Corner mantém viva a tradição de que a palavra é uma forma de poder legítima e pública. Não se trata apenas de um ponto turístico, mas de um símbolo histórico do direito de falar, ouvir e debater em espaço aberto.
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