A globalização, por muitos vista apenas como fenômeno econômico, abriu também espaço para um novo tipo de sujeito político: o cidadão transnacional, que atua simultaneamente em múltiplas jurisdições com base em laços legítimos de residência, família, fé e trabalho. Em sua forma mais elevada, esse cidadão se torna um diplomata eleitoral — alguém que, ao alternar conscientemente seu domicílio eleitoral entre duas ou mais nações, atua como ponte viva entre povos e sistemas jurídicos distintos, compondo com sabedoria cristã os melhores arranjos possíveis de participação política e ordem social.
1. Descompasso eleitoral e oportunidade estratégica
O Brasil e os Estados Unidos possuem calendários eleitorais alternados. As eleições presidenciais brasileiras ocorrem a cada quatro anos, sempre em anos pares (2022, 2026, etc.), enquanto as americanas também se realizam a cada quatro anos, mas em anos pares distintos (2020, 2024, 2028, etc.). Isso significa que um cidadão que tenha o direito de votar em ambos os países pode, teoricamente, exercer esse direito de maneira ininterrupta a cada dois anos, com períodos de transição que permitem a mudança de domicílio eleitoral legalmente reconhecida por ambos os sistemas.
Essa condição não é uma mera curiosidade técnica: é uma chave para o exercício contínuo de influência política lúcida. Em vez de estar restrito a uma única jurisdição, o diplomata eleitoral estende sua consciência política a dois mundos, ampliando o campo da ação cristã sobre a ordem civil.
2. O fundamento jurídico e legítimo da alternância
A alternância de domicílio eleitoral entre Brasil e EUA é perfeitamente legal quando baseada em vínculos reais, como residência, casamento, atividade econômica ou missão espiritual. No caso do cidadão brasileiro casado com cidadã americana, a obtenção do green card e, posteriormente, da cidadania americana permite que ele participe dos pleitos nos EUA. Ao mesmo tempo, nada o impede de manter ou retomar seu domicílio eleitoral brasileiro dentro das normas da Justiça Eleitoral nacional.
Essa prática exige conhecimento da legislação eleitoral, fiscal e migratória dos dois países, bem como da política de tratados internacionais — como os acordos de bitributação ou de reconhecimento mútuo de obrigações civis. Em outras palavras, exige formação jurídica, inteligência prática e retidão moral, características próprias de um verdadeiro diplomata.
3. O diplomata como cidadão no sentido pleno
A palavra diplomata vem do grego diploun, que significa “dobrar”. No contexto jurídico, trata-se daquele que representa e negocia. Mas no contexto cristão, esse "dobrar" assume um sentido muito mais profundo.
Nas línguas eslavas, a palavra dobro (добрo, dobrý, dobre) significa bem, virtude, bondade. Assim, o ato de dobrar carrega a conotação de fazer o bem, agir de forma virtuosa e justa. No Cristianismo, esse simbolismo se aprofunda: ao partir o pão, Cristo multiplica-o. Ao dividir, ele não subtrai, mas aumenta. Multiplica-se não somando, mas repartindo. Dá-se a vida para ganhá-la. Encontra-se a glória ao carregar a cruz.
Portanto, dobrar, para o diplomata eleitoral cristão, é:
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Multiplicar sua cidadania sem traí-la, pois onde está Cristo, ali está sua pátria;
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Dobrar sistemas distintos como quem dobra um mapa, para aproximar realidades sem violentá-las;
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Agir com dobro de consciência, de responsabilidade, de caridade, por representar mais do que um Estado: representar o Reino de Deus entre as nações.
4. A eleição como campo de batalha espiritual
Cada eleição representa um campo onde se disputa a alma das nações. O diplomata eleitoral, consciente dessa dimensão, entende que seu voto e sua presença em diferentes jurisdições têm poder formativo — moldam políticas públicas, influenciam leis, definem pactos sociais.
Mais do que um instrumento de escolha entre candidatos, o voto é para ele:
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Um ato de lealdade à Verdade;
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Uma declaração de guerra contra a tirania, a mentira e o despotismo jurídico;
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Uma estratégia de longo prazo para restaurar a ordem cristã no mundo.
Nesse sentido, ele é também um soldado-cidadão, tal como formulado anteriormente: alguém que, pela via legítima do empreendedorismo, da elisão fiscal e do conhecimento das leis, resiste à tirania jurídica e fortalece o Reino de Deus na Terra.
5. O papel da moral cristã na diplomacia eleitoral
O que distingue o diplomata eleitoral de um simples oportunista é a conformidade com a moral cristã. Ele não busca vantagens pessoais ilícitas, mas a construção de uma ordem mais justa e verdadeira. Ele compreende que a alternância de domicílio, a otimização tributária e a circulação entre sistemas legais não são atos de fuga, mas de missão.
Ele age por vocação, não por ambição.
Não busca explorar os sistemas, mas aperfeiçoá-los pela presença de Cristo neles.
E sabe que sua vida pública será julgada por Deus, o qual examina os corações e as intenções.
6. O retorno do aristocrata do espírito
Esse tipo de sujeito representa o retorno da aristocracia verdadeira — não aquela baseada no sangue, mas aquela fundada na sabedoria, na responsabilidade e no serviço. Ele encarna o ideal do homem de Ourique, chamado a conquistar terras e estruturas pela força da fé e da inteligência, não da espada.
Ele não precisa ocupar um cargo político para ser relevante. Sua simples presença nos sistemas, sua escolha lúcida de candidatos e sua capacidade de articular pontes entre realidades distintas fazem dele um verdadeiro apóstolo da política, nos méritos de Cristo.
Conclusão: entre leis e nações, uma vocação
Ser diplomata eleitoral é muito mais do que alternar votos entre dois países. É reconhecer que a cidadania é uma vocação, e que a verdadeira lealdade não é a uma bandeira, mas à Verdade.
É saber que o Reino de Deus se estende por todas as fronteiras, e que, quando o justo governa, o povo se alegra — seja no Brasil, nos Estados Unidos ou em qualquer outra parte do mundo.
É, enfim, viver como cidadão do Céu atuando entre as nações, usando os instrumentos da história para servir à eternidade.
E se dobrar, no mundo, é curvar-se diante da realidade, no Reino é multiplicar a graça. Porque só Cristo consegue multiplicar dividindo — e quem aprende isso, vive já desde agora o bem eterno.
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