1) Houve um livro que dizia que o Brasil era uma construção interrompida. Quem escreveu este livro partiu do quinhentismo como pressuposto, pois o autor, influenciado por idéias positivistas, acreditava que começo do despertar da nação brasileira, enquanto nação ivre, deu-se com a independência, o que é tecnicamente errado.
2) O Brasil nasceu em Ourique e começou a ser uma realidade quando o descobrimento da Terra de Santa Cruz passou a ser um desdobramento desta tradição em terras americanas. Além do mais, o país não foi construído, mas governado sob o apoio da Divina providência, coisa estabelecida desde 25 de julho de 1139: a Aliança do Altar com o Trono. E este governo era algo extramente natural e favoreceu o desenvolvimento econômico, moral e cultural da Terra de Santa Cruz, de modo a ser tomada como se fosse um lar em Cristo. Ou seja, desde o descobrimento, o país nasceu livre em Cristo: e a maior prova disso foi a santa missa aqui celebrada.
3.1) A secessão do Brasil do Reino Unido marcou a troca do governo natural, fundado na Aliança do Altar com o trono, por um governo artificial, já que o sentido de país tomado como um lar foi trocado pelo senso de tomar o país como se fosse religião, amputado daquilo que foi edificado em Ourique: a missão de servir a Cristo em terras distantes. Buscou-se a falsa alegação de que o Brasil foi colônia de Portugal, criando a ideologia da liberdade fora da liberdade em Cristo, o que gera apatria no longo prazo e liberdade voltada para o nada, a ponto de o país perder toda a sua conexão de sentido em relação àquilo que foi fundado em Ourique. Ou seja, desde o 7 de setembro de 1822 o país adota a lógica do filho pródigo - o detalhe é que, ao contrário do filho pródigo, ele ainda insiste em não querer voltar à casa do Pai.
3.2) A queda daquilo que foi edificado em Ourique fez com que a Aliança do Altar com o Trono fosse mantida por meios artificiais, coisa que se deu por meio da carta de 1824 com o regime do padroado, criando uma verdadeira distanásia política, já que o poder secular não pode subjugar o poder espiritual, fundado na conformidade com o Todo que vem de Deus.
3.3) O Imperador, tal qual napoleão, nomeava os bispos - como ele estava envolvido com idéias liberais, revolucionárias (idéias essas vindas da maçonaria), isso acabou desaguando na questão religiosa, envolvendo D. Vital e D. Pedro II. Esse padroado artificial, enfim, favoreceu a laicização promovida pelos republicanos (a separação definitiva da Igreja e do Estado, edificada em Ourique), o que confirma o argumento do Loryel Rocha, ao dizer que o Império, aqui, serviu de transição para a República.
3.4) O governo artificial, fundado em mentiras históricas e em arranjos artificiais que favoreciam a interferência do Imperador em assuntos da Igreja - assuntos esses que não lhe competiam, por força da Lei Natural -, interrompeu tudo aquilo que foi edificado em Ourique, levando tudo à estaca zero.
3.5) O país ficou sem cultura, sem espiritualidade, destituído de sentido e bestializado. Foi algo, no campo cultural, tão nefasto quanto a hecatombe nuclear que deu fim à Segunda Guerra Mundial. A história da nacionalidade brasileira, tal como os positivistas contam, é a história da vinculação de um povo a algo voltado para o nada, fora daquilo que foi edificado em Ourique, que lhe deu origem. Logo, é a história de apatria sistemática.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 2016.
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