Eis o resumo de uma conversa que eu tive com o amigo Tiago Barreira sobre a economia e a ordem das grandes cidades:
01) Um dos maiores problemas espirituais de quem vive no país de modo a tomá-lo como um lar em Cristo ocorre justamente no âmbito trabalhista: muitos acabam se submetendo ao jugo de gente gananciosa, que trata os empregados de modo injusto. E é justamente por eles tratarem os empregados de modo injusto que eles, seduzidos pelo socialismo, acabando colaborando no processo de criar sistemas legais que pervertem a lei e à própria justiça, criando um senso de coitadismo. Esse coitadismo nasce de um desejo de vingança contra o capitalista opressor - e isso vai contra a ordem de Deus
02) A verdade é que é mais fácil servir a quem é sério e conhecido do que a um patrão desconhecido. Esse é aí o problema das relações impessoais de emprego - quem é sério e conhecido ama e rejeita as mesmas coisas que você, tendo por Cristo fundamento - e essa integridade foi tão pulverizada que é difícil de se encontrar gente assim por aí. Se o organizador da atividade produtiva agisse como se fosse o Cristo em sua empresa, isso traria mudanças muito importantes
nas relações de emprego. Nela, empregado pode tornar-se sócio. Eis o cooperativismo, enquanto ramo do comunitarismo econômico.
03) Quando empregados são convertidos em sócios, os poderes decorrentes do controle da coisa, da organização da empresa, são distribuídos a todos os sócios, que passam a ser donos da coisa comum. Isso gera uma relação horizontal de trabalho e isso elimina a necessidade de uma intervenção estatal no âmbito econômico.
04) O grande problema da intervenção econômica está justamente na natureza assimétrica da relação de trabalho - a assimetria cria conflitos de interesse qualificados por uma pretensão de trabalho - e acaba criando uma jurisdição no âmbito trabalhista. Isso é uma espécie de publicização do direito privado.
05) O problema por que estamos passar decorre de uma sociedade cada vez menos cristã, seja no âmbito familiar, seja no âmbito profissional.
06) Ao se pregar um libertarismo, uma liberdade laica, divorciada da tradição cristã, isso deu causa o totalitarismo comunista.O liberalismo do século XIX, decorrente da revolução francesa, que nada tem a ver com o liberalismo, tal como sustentado por Erik von Kuehnelt-Leddin: o da ordem livre fundada na liberdade em Cristo.
07) Grandes cidades tendem a uma maior impessoalidade - são uma ordem anti-natural, tal como foi apontada por Santo Tomás de Aquino
08) As grandes metrópoles decorrem da concentração econômica em território específico. Muito disso decorre da aliança entre governantes e a elite econômica da cidade. As grandes metrópoles são de um certo modo um sintoma de oligarquização do poder.
09) Nossa industrialização forçada concentrou muito o PIB regionalmente. Por isso que não temos cidades médias que se destacam. A economia se concentra nas grandes capitais.
10) Quando se distribui o desenvolvimento econômico por todo o território e se incentiva o desenvolvimento do talento local, o que ocorre é nacionismo.
11) Nacionismo não é protecionismo. O nacionismo preza por uma economia aberta fundada na confiança e na colaboração. Numa ordem fundada na colaboração, o tomador de serviço investiga quem faz um serviço melhor e toma o melhor preço possível - e para ele conseguir um bom acordo comercial, ele precisa saber se relacionar com o seu semelhante - se a pessoa ama e rejeita as mesmas que ele, tendo por Cristo fundamento, bons negócios são feitos, fundados na justiça de Deus e na lei natural, que se dá na carne.
12) A publicidade, tal como a conhecemos, só faz sentido onde ninguém conhece ninguém, criando-se o risco de que uma mentira dita mil vezes torna-se verdade, forçando-se a necessidade de haver uma justiça consumeristas. Por isso que propaganda boca-a-boca é sempre a melhor solução.
13) Numa economia impessoal, o grande tem os meios econômicos para perverter as leis - e o socialismo é um desses mecanismos. Assim o grande destrói o pequeno.
14) Por isso que prefiro cidades pequenas e médias a metrópoles.Metrópoles são uma maravilha para todos aqueles que defendem o planejamento familiar e a regulamentação de tudo.
15) Nas metrópoles, Os relacionamentos sociais são dados de tal forma que fica impossível a formação de uma associação de grupos, de modo a se fazer resistência a tirania, pois é bem raro encontrar pessoas que amem e rejeitem as mesmas coisas - como se pode fazer associação para se defender o direito de qualquer coisa, o que se semeia é uma diversidade relativista, afastada da verdade de Cristo. Enfim, Um relativismo moral.
16) É necessário reduzir o inchamento e o crescimento desordenado das grandes cidades - é preciso fazer a população dos grandes centros migrar para territórios, de modo a que mais cidades médias possam surgir e progredir - e isso é uma idéia que favorece o sentido de se tomar o país como um lar. Pois havendo menos concentração econômica há mais chance para relações mais pessoais e uma ordem social mais humana, havendo mais liberdade em Cristo.
17) O liberalismo verdadeiro se funda em distribuir liberdade por todo o território, de modo a que o país inteiro seja tomado como um lar.
18) Em uma sociedade verdadeiramente livre, todas a potencialidades humanas se desenvolvem em todos os campos do território. Não faria sentido existir um Nordeste e um Sudeste. O êxodo nordestino não existiria.
19) Nos EUA há grandes cidades, mas o peso delas na economia da nação não é tão grande quanto aqui. Lá, todo o país é desenvolvido; Aqui, toda a economia está centralizada no Centro-Sul. Por isso que temos um país populoso e pouco povoado.
20) No Império, havia senhores de engenho que estimularam a industrialização do lugar. E isso era comum no Nordeste. Se esse processo tivesse continuidade, não haveria favelização aqui. Com a República, o estímulo terminou, Bastou o café-com-leite e temos o que temos. O Rio, por ser a capital da nação que ficava entre o dois grandes centros da política, terminava por ser o fiel da balança dessa relação triangular de poder, que tinha caráter oligárquicos.
21) Quando a economia é toda dirigida, o custo de vida aumenta e as pessoas tendem a ter menos filhos. Além disso, existe toda uma situação de modo a que cada um tenha a sua verdade e nem tenha filhos, ou aborte, ou se divorcie
22) Numa cidade grande, é muito comum encontrarmos famílias com poucos filhos ou com filho único. É o berço da família planejada.
23) Quando você tem uma sociedade antinatural, a família antinatural é aquela que tem menos filhos, e no caso, único.
24) O instinto de maternidade é pervertido e se torna uma obsessão. Nela, criamos um ambiente de tensão familiar, que leva ao conflito geracional.
25) Isso não só destrói o país demograficamente, como traz implicações morais sérias, pois aumenta a proporção de filhos mimados.
Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2015 (data da postagem original)