Enquanto os Correios do Brasil concentram seus esforços na expansão de lockers inteligentes em território nacional, uma ideia ousada e estrategicamente viável começa a ganhar corpo entre brasileiros com visão empreendedora: por que não levar a presença logística dos Correios para fora do país? Mais especificamente, por que não iniciar um projeto-piloto no estado do Delaware, nos Estados Unidos?
Essa proposta — à primeira vista inusitada — encontra base não apenas na necessidade real da comunidade brasileira no exterior, mas também na combinação singular de vantagens econômicas e estruturais que esse pequeno estado americano oferece.
Delaware: muito além das compras sem imposto
O estado de Delaware é conhecido entre brasileiros que vivem ou visitam os Estados Unidos como um paraíso de compras. Com zero imposto estadual sobre vendas, tornou-se um dos destinos mais vantajosos para quem deseja adquirir bens de consumo com menor carga tributária¹. Além disso, está geograficamente inserido num corredor logístico privilegiado, entre Nova York, Filadélfia, Baltimore e Washington D.C. — áreas que concentram grandes comunidades brasileiras².
Mas o que torna Delaware ainda mais atrativo do ponto de vista logístico e empresarial é sua legislação corporativa simplificada, seus baixos custos de operação e a presença de centros de distribuição e transporte altamente eficientes, integrados aos serviços de couriers como UPS, USPS, FedEx e Amazon³.
Lockers como solução diplomática e logística
Ao pensarmos em serviços postais modernos, os lockers automatizados — armários de autoatendimento onde clientes podem retirar ou enviar pacotes com segurança e autonomia — tornaram-se peça-chave na estrutura de e-commerce global⁴. Tanto a USPS quanto empresas privadas americanas operam esses sistemas em shoppings, farmácias, postos de gasolina e mercados⁵.
No Brasil, os Correios têm expandido esse modelo desde 2020, começando pelo Rio de Janeiro e pelo Distrito Federal, e com a promessa de alcançar todas as capitais até 2025⁶. Mas por que não ir além?
Instalar um locker dos Correios no exterior, em um lugar estratégico como Delaware, não apenas atenderia a brasileiros que compram ou vendem produtos entre os dois países, mas também abriria caminho para uma nova forma de diplomacia econômica e comunitária — mais ágil, mais conectada e mais útil ao cidadão.
Da ideia à ação: como tornar isso realidade
É importante reconhecer: não é possível abrir uma franquia oficial dos Correios fora do Brasil, pois a empresa é uma estatal federal sem previsão de operação direta no exterior⁷. No entanto, isso não impede que um empreendedor privado monte uma empresa binacional, atuando como:
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Agente logístico autorizado (como já fazem empresas como DHL, Shopee, AliExpress)⁸;
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Hub internacional de redirecionamento de pacotes;
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Ponto de apoio para serviços consulares em cooperação com embaixadas e consulados brasileiros.
A proposta é montar, no Delaware, uma empresa americana (LLC) com sede física equipada com:
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Um locker próprio, identificado como “Locker Brasil” — com tecnologia RFID, senha ou QR Code;
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Um locker da USPS, obtido via convênio como Authorized Shipping Provider⁹;
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Sistemas integrados para recebimento, expedição, rastreio e consolidação de remessas EUA–Brasil–EUA;
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Um espaço comunitário para atendimento em português, voltado à diáspora brasileira, com serviços como renovação de documentos, apoio a estudantes e suporte logístico para microempreendedores.
Detaxe, cidadania americana e parcerias internacionais
Ao obter a cidadania americana, seja por casamento ou outro meio, o empreendedor amplia significativamente sua capacidade jurídica e comercial para atuar nos EUA. Isso permite não só a abertura da empresa com maior facilidade, mas também a possibilidade de realizar lobby junto a órgãos reguladores e parceiros comerciais¹⁰.
Nesse contexto, uma parceria estratégica com empresas como a Global Blue — líder mundial em soluções de detaxe — pode transformar sua agência em um ponto homologado para validação e liberação do detaxe para compras feitas em varejistas brasileiros, facilitando a devolução de impostos para brasileiros residentes nos EUA e turistas.
Essa agência, além de funcionar como hub logístico, atuaria como intermediária na formalização das remessas e comprovação fiscal, agregando valor para consumidores e comerciantes, e incentivando o comércio bilateral¹¹.
A atuação combinada de lockers para entrega e retirada, serviços consulares e suporte à devolução de impostos transformaria o ponto no Delaware em um verdadeiro centro multifuncional de apoio à comunidade brasileira e ao comércio internacional.
Ganhos para todos os lados
1. Para o empreendedor
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Entra num mercado internacional de nicho com alta demanda reprimida¹².
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Consolida parcerias com entidades públicas e privadas dos dois países.
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Cria um modelo escalável para replicar em outras cidades com presença brasileira (Orlando, Lisboa, Milão, Tóquio).
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Possibilita influência regulatória por meio de lobby estruturado.
2. Para os Correios
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Passa a contar com um ponto de apoio real fora do país, algo inédito na história da estatal¹³.
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Fortalece sua imagem como empresa global, conectada à diáspora.
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Reduz gargalos e fraudes em remessas informais vindas do exterior.
3. Para a comunidade brasileira
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Ganha um local seguro, em português, para enviar e receber pacotes.
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Acessa serviços consulares de forma mais eficiente e humanizada.
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Se beneficia de custos menores, maior previsibilidade e atendimento culturalmente compatível.
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Pode usufruir da devolução de impostos em compras, ampliando seu poder de compra.
Um gesto de patriotismo estratégico
Levar um locker dos Correios para o exterior — começando pelo Delaware — é mais do que um empreendimento visionário. É um gesto de patriotismo estratégico, que reforça os laços entre o Brasil e seus filhos espalhados pelo mundo. É também um símbolo de que a inovação e a identidade nacional podem caminhar juntas, mesmo nos corredores mais gelados e silenciosos da costa leste americana.
Com visão, coragem e articulação institucional, essa ideia pode deixar de ser apenas uma hipótese promissora para se tornar um marco na reinvenção do serviço postal brasileiro em tempos de globalização real.
Referências bibliográficas
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DELAWARE.GOV. Tax Information - Sales and Use Tax. Disponível em: https://revenue.delaware.gov/sales-use-tax/. Acesso em: 03 ago. 2025.
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U.S. CENSUS BUREAU. American Community Survey: Brazilian Population Estimates. Disponível em: https://www.census.gov/programs-surveys/acs/. Acesso em: 02 ago. 2025.
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DELAWARE DIVISION OF CORPORATIONS. Business & Corporate Laws in Delaware. Disponível em: https://corp.delaware.gov/. Acesso em: 03 ago. 2025.
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USPS. Parcel Locker Program. Disponível em: https://about.usps.com/newsroom/service-alerts/parcel-lockers.htm. Acesso em: 03 ago. 2025.
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AMAZON.COM. Amazon Locker: Secure Package Delivery. Disponível em: https://www.amazon.com/locker. Acesso em: 03 ago. 2025.
-
AGÊNCIA BRASIL. Correios ampliam lockers no Rio e DF. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-12/correios-lancam-no-rio-modalidade-de-entrega-com-armarios-inteligentes. Acesso em: 03 ago. 2025.
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EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. Quem somos. Disponível em: https://www.correios.com.br/aempresa/quem-somos. Acesso em: 03 ago. 2025.
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DHL. International Shipping and Logistics Services. Disponível em: https://www.dhl.com/global-en/home.html. Acesso em: 03 ago. 2025.
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USPS. Become a USPS Shipping Provider. Disponível em: https://about.usps.com/suppliers/becoming.htm. Acesso em: 03 ago. 2025.
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GLOBAL BLUE. Tax Free Shopping Solutions. Disponível em: https://www.globalblue.com/. Acesso em: 03 ago. 2025.
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IBGE. Estatísticas sobre a diáspora brasileira. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 02 ago. 2025.
-
UNIVERSAL POSTAL UNION (UPU). Global Postal Services Cooperation. Disponível em: https://www.upu.int/en/Universal-Postal-Union. Acesso em: 03 ago. 2025.
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APEXBRASIL. Comércio Exterior e Parcerias. Disponível em: https://www.apexbrasil.com.br/. Acesso em: 03 ago. 2025.
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