1) É verdade que Deus e ser humano são categorias ontológicas diferentes - um é criador e outro é criatura. Embora não seja sensato comparar coisas que são de categorias ontológicas diferentes, a realidade nos aponta algumas coisas interessantes.
2) Cito como exemplo o que já me aconteceu. Minha ex-namorada, que sempre foi ligada nas coisas do mundo, dizia que quem não é visto não é lembrado. Como este é um argumento tipicamente materialista, imanentista, nihilista - portanto, fora da conformidade com o Todo que vem de Deus -, cheguei a esta conclusão: "se isso fosse verdade, todos seriam ateus, uma vez que Deus fala através de palavras, atos e coisas e é sempre lembrado pelos conservam o que é conveniente e sensato, já que isso faz chegar à verdade, à conformidade com o Todo que vem de Deus".
3) Embora a analogia seja formalmente errada, uma vez que Deus e homens são realidades ontológicas diferentes, isso é um retrato perfeito da realidade, pois o homem que conserva o que é conveniente e dissociado da verdade almeja ser Deus, a tal ponto que nega alguns elementos verdadeiros e que nos são invisíveis, mas que podem ser percebidos pela razão humana, pela prudência e pela sensatez. Se tudo fosse parte do mundo material, do mundo aparente, não faria sentido criar raízes profundas na verdade, de modo que houvesse o crescimento espiritual, uma vez que estar conectado ao eterno, ao invisível liga a terra ao céu.
4) Eis a beleza da linguagem literária - ela retrata a lógica do absurdo, uma vez que a sabedoria humana está agindo de contraponto à sabedoria divina. E isso transcende à lógica formal, a tal ponto que lidar com essa contradição fundada, no pecado original, pede a constante readequação das coisas, de modo a que se semeie a verdade, na conformidade com o Todo que vem de Deus. Pois como disse Camus, o absurdo é a primeira verdade. E é de tanto conhecermos o absurdo que no fundo vamos chegando à verdade, uma vez que vamos fazendo a engenharia reversa de todo o conteúdo que há por trás daquilo.
5) Por isso mesmo que uma falsa analogia não é de todo um absurdo, uma vez que ela retrata a realidade. E o professor Olavo nos pede que estudemos a realidade, que façamos engenharia reversa de cada coisa dita de absurdo, de modo a ficar com o que é conveniente e sensato, coisa que nos leva à conformidade com o Todo que vem de Deus.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2016.
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