1) No Direito Romano, o parentesco se dava por relações de culto e não por relações de sangue. O pater familias era o microcosmos do sumo pontífice - e ele é quem oferecia sacrifícios ao deus da família e aos antepassados. O animal de sacrifício mais usado era o agnus, o cordeiro.
2) Geralmente essas famílias eram a base moral de toda a pátria, pois elas nunca tiveram mácula de escravidão, fundada no pecado de não se honrar os compromissos familiares para com a civitas romana. Quem não fosse honrado era escravizado por dívidas e seu corpo era vítima de castigo corporal, a ponto de este ser retalhado em tantos pedaços quantos fossem os credores. Essa prática era animalesca e partia do pressuposto de que o corpo era uma propriedade - se na propriedade temos os poderes absolutos de usar, o gozar e dispor, então naturalmente isso implicava poder de vida e de morte.
3) O pater famílias era tido como se fosse um deus vivo dentro da família, a ponto de ter poder de vida e de morte sobre os seus filhos. Esse poder de vida e de morte causava muitos conflitos sociais - a tal ponto que manter o culto doméstico dentro do sangue era difícil. Por isso, os romanos adotavam membros de outras famílias, de modo a dar continuidade ao culto doméstico, no nome do pai antecessor.
4) A cultura familiar romana, por sua própria natureza, não permitia que um homem de família tivesse poder de vida e de morte sobre outros pais de família - por isso que a república foi o regime natural dentro de um regime culturalmente totalitário. Roma se expandia constantemente em guerras, de modo a manter sua economia doméstica, fundada numa economia agrária e latifundiária - e para isso, eles precisariam tomar terras e mais terras, bem como conseguir escravos. Os filhos passaram a ser senhores de família, uma vez que o soldo lhes permitia terem bens e uma vida livre da autoridade paterna. Esses eram os bens do pecúlio castrense.
5) Como nenhum pai de família podia dominar outro pai de família, os pactos de família eram algo corriqueiro. As filhas, junto com uma importância em bens e dinheiro, eram dadas como se fossem coisa para os varões mais ilustres da família aliada, geralmente soldados destacados que serviam à causa de Roma. Os casamentos eram todos fundados no dote, uma vez que Roma era uma sociedade pagã e extremamente materialista A família que fosse rica em filhas se tornava cliente da outra que tinha mais filhos homens. Isso criava laços de servidão, por força do casamento - e a família rica em filhas era considerada algo acessório que seguia a sorte do principal, a família rica em varões. Como envolvia um grande número de indivíduos, isso gerava um verdadeiro culto doméstico. E quanto mais esse varão servisse à causa romana, mais digno de culto doméstico ele se tornava.
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