1) Em uma prova de português, houve uma questão em que tomava a palavra "cerva", derivação regressiva de cerveja, como uma palavra culta e digna de uso. Uma candidata ficou indignada, pois dizia que cerva é uma gíria - e perdeu pontos junto ao examinador.
2) Esta questão está voltada àquela velha briga entre lingüistas e gramáticos - e isso leva à ideologização da linguagem. No caso da língua portuguesa, eu aceito tomar a mente do examinador como se fosse coisa porque a língua é uma ferramenta. Agora, quando o negócio é prova de Direito, a coisa muda de figura: qualquer questão ideológica numa prova de Direito é feita de maneira deliberada, de modo a escolher os mais medíocres, os mais cordeirinhos, de modo a que façam a vontade do demônio. Quando faço uma prova de Direito ideologizada, é como se estivesse fazendo parte de uma farsa - e isso atenta contra a minha consciência, pois sou tão preso à verdade, àquilo que é conforme o Todo que vem de Deus, que não admito responder a perguntas que não sei ou que vão contra os princípios dos quais sou um arvorado defensor, por crer realmente neles. Esse tipo de coisa me forçaria a fingir ou a mentir - e isso é muito ruim.
3) Quanto mais se formaliza o ensino, quanto mais se avança na cultura do formalismo, coisa que descamba na economia de concurso público, maior é o fingimento e maior o auto-engano. É preciso se ter uma alma muito íntegra de modo a não ser varrido pela pressão de ser mais um na multidão de apátridas que não sabem o que fazem.
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