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sexta-feira, 27 de julho de 2018

Tomar o país como se fosse religião tem cunho gnóstico

1) Quando uma nação é tomada como se fosse religião - em que Deus está morto e tudo está no Estado e nada pode estar fora dele ou contra ele -, a História desse domínio é pautada por eras de nacionalismo e salvacionismo, uma vez que essa nação não é livre de modo a ser tomada como um lar em Cristo, a ponto de ter sua razão de ser n'Ele, por Ele e para Ele.

2.1) Novas constituições são escritas quando o senso de conservar o que é conveniente e dissociado da verdade entra em crise, seja por conta da corrupção do pecado, seja por conta das constantes contradições fundadas nas falsas promessas, em que se promete uma coisa e se faz outra.

2.2) Enfim, nesse país tomado como se fosse religião, a mentira é a razão de ser desse país, uma vez que se inventou a alegação de que ele foi colônia de um país ibérico e católico, que serviu a Cristo em terras distantes, por força do milagre de Ourique (no caso, Portugal). E com base nessa mentirosa alegação de que foi colônia de Portugal, foi buscar a grandeza por si, imitando o grande irmão do norte, a ponto de ter o mesmo destino que o filho pródigo, tal como vemos na Bíblia.

3) O país teve 7 ou 8 constituições, sendo a primeira no Império secedido do Reino Unido, marcando a transição para esta República, este inferno em que nos encontramos hoje. Olhando para todos estes fatos, isto explica o argumento de Ernest Gellner, mas é fora da conformidade com o Todo que vem de Deus.

4.1) As explicações de Gellner sobre as eras de nacionalismo tendem a ser explicações panenteístas, a ponto de resumir esse senso a uma única causa, sempre fatalista. O ciclo é uma linha reta, com começo e fim nela mesma, já que o fim da pólis é a própria pólis - o que é uma concepção marcadamente neopagã, gnóstica, uma vez que se trata de um sistema fechado. 

4.2) Da crise do conservantismo da situação anterior vem um senso de tomar o país como se fosse religião, que e feito de tal maneira a reescrever a constituição e reedificar a ordem nacional a partir do zero. E nesse ponto, a nova ordem é sempre pior que a antiga ordem constitucional. Basta ver a experiência republicana brasileira, ao longo desses quase 130 anos.

5.1) Esta é a mesma impressão que eu tive do artigo que meu colega Haroldo Monteiro escreveu, quando disse que a monarquia é o começo do fim de uma civilização, não sua aurora, tal como se deu em Ourique.

5.2) Esta explicação só tem sentido num mundo quinhentista e divorciado daquilo que se fundou em Ourique, marcado por um mundo em que os eleitos foram agraciados com a República (os EUA) e os condenados imitados a imitá-la (Brasil e os demais países ibero-americanos). Enfim, isto não procede, pois não faz sentido.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 27 de julho de 2018.

Paulo Manuel Sendim Aires Pereira:   

1) O Brasil foi um país que já nasceu recusando duas constituintes populares. As elites queriam ser as campeãs da democracia, mas quando esta não foi de acordo com a sua vontade simplesmente a ignoraram. Primeiro, recusaram a constituinte democrática do Império porque não queriam se submeter à vontade dos deputados da metrópole. Depois fizeram uma constituinte só com brasileiros, mas também acabaram por recusá-la. 

2) A tática da elite dominante foi quase sempre a mesma: dominar aparentando democracia e manipular o povo por força disso. Tem sido assim até hoje.

Gilmara Farias:  Sete ou oito constituições é muita coisa. Este fator fragiliza a credibilidade de uma nação.

José Octavio Dettmann: É o que dá tomar o país como se fosse religião. Se ela não está presente diante do Senhor, do Crucificado de Ourique, que credibilidade terá? Eis porque o professor Olavo fala tanto da cultura de fingimento que há por aqui,

Gilmara Farias: Essa inconstância dá medo em qualquer investidor.

José Octavio Dettmann: Exatamente.

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