Pesquisar este blog

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Notas sobre o contexto cultural em que foi enunciada a lei da oferta e da demanda

1) A questão da lei da oferta e da demanda surge num contexto de tecnicismo - algo muito comum aos tempos do século XIX. E foi nessa mesma época que surgiu o positvismo, onde a lei tende a prevalecer sobre o costume.

2) Só num ambiente em que se dá muita primazia às ciências naturais é que vemos as coisas se reduzirem a lei tal como são as leis da física. Trata-se de um tipo de gnose, pois ignora a questão da fraternidade universal e da conformidade com o Todo que vem de Deus.

3) Embora a troca seja um fenômeno regular e constante, ela deve ser olhada com os olhos voltados para a Lei Eterna - o homem é criatura e está sujeito à Lei Eterna de Deus. Se o fenômeno da troca for tomado como se fosse coisa, então ela será reduzia a uma lei e isso vira um mecanicismo. E a economia se torna uma técnica de manipulação - e isso favorece a uma intervenção maior no Estado na economia, justificando o argumento de que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2016 (data da postagem original).

O libertarismo não gera vida gregária

1) Nenhuma sociedade fundada com base no amor ao dinheiro edificou vida gregária. O amor ao dinheiro leva ao individualismo metodológico - se todos os indivíduos têm a sua verdade, então a vida seria um conflito permanente de todos contra todos. E isso é promover a cultura da morte, pois nega a fraternidade universal. Seria a desgraça completa.

2) Por isso que nenhuma sociedade desenvolveu seu senso de nacionidade amando mais o dinheiro do que a Deus. Pois o amor ao dinheiro leva a se edificar liberdade fora da liberdade de Cristo, base para se edificar um espectro de ordem, fundado numa liberdade para o nada, que na verdade é a nossa prisão.

3) Todas as sociedades que abraçaram a Cristo se tornaram livres, pois Cristo foi liberal, magnânimo, pois veio para que todos tenham vida - e vida em abundância. Quem conserva a dor de Cristo é necessariamente livre em Cristo e o imita em seu liberalismo, em sua magnificência.

4) Adotar praxes capitalistas, fundadas no amor ao dinheiro, tal como os protestantes fazem, é perverter tudo o que é mais sagrado.

Notas sobre a lei da oferta e da demanda

1) A lei da oferta e da demanda tende a ver as coisas de forma automática, pois toma como se fosse coisa a impessoalidade da economia e a praxe dos mercadores, que manipulam o preço de acordo com seus interesses.

2) Os mercados, justamente por serem um ponto de encontro entre o comprador e o vendedor, tendem a praticar os mesmos preços costumeiros, de modo a manterem uma relação justa e de serviço para com o comprador.

3) O que é fundado no costume se funda na justiça, no fato de se tomar o comprador como um irmão, alguém com um igual em Cristo. Tomar o costume como se fosse uma lei é perverter a confiança. Mais grave ainda é positivá-la, sem olhar para as circunstâncias - a lei positiva é abstrata e fria e ela não tem a flexibilidade necessária de modo a se adaptar as circunstância de um mundo que muda constantemente. Só os costumes é que possuem essa flexibilidade.

4) Não é à toa que usura e positivismo tendem a ser sinônimos. Pois o crescimento do Estado, divorciado das leis de Deus, depende do quão subserviente ele é ao interesse dos mercadores.

Notas sobre especulação

Situações de jogo que encontro no Patrician II - Quest for power:

1) Lübeck, sede das minhas atividades, está demandando cerâmica. Na cidade vizinha, que fica a menos de um dia de barco, a cerâmica custa em torno de 250 dinheiros; em Gdansk, o centro produtor de cerâmica por excelência e que fica a um dia de barco de Lübeck, o preço está em 180 dinheiros. Faço a compra e volto para Lübeck.

2) Quando Lübeck não tem esse bem a oferecer, eles costumam pagar 360 dinheiros.

3) Enfim, quando uma pessoa é experiente e conhece as praxes comerciais dos mais variados centros comerciais que compõem a Liga Hanseática, ela tende a manipular o sobe-e-desce dos preços - eis o fundamento da especulação.

4) O sobe-e-desce dos preços depende da oferta e da demanda. A compra dos produtos pelo menor preço possível e a venda pelo maior preço possível é uma questão de oportunidade. Quando  o vendedor troca a circunstância X (compra pelo menor preço possível) pela circunstância Y (venda pelo maior preço possível), ela está fazendo uma troca intertemporal e maximizando o financiamento de sua atividade. Como está a almejar o dinheiro, então essa manipulação do tempo passa à margem da oferta e da demanda - e ao passar à margem da oferta e da demanda e ao manipular o tempo com a especulação, ele está a praticar economia de ordem pública - e com isso, a impessoalidade, base para se edificar liberdade para o nada. Se o comprador tivesse a oportunidade de ver como é a praxe do mercador, ela perceberia que se sentiria lesada - algo que costumamos ver na usura.

5) A economia impessoal tende a ser abstrata, pois ela visa muito a conhecer o que cada cidade produz de bom, a escolher o melhor momento de comprar e o melhor momento de vender. É uma economia de manejo - e ela não olha para o que o povo está precisando, mas para as melhores condições de venda. Trata-se uma economia técnica, fundada em números e não em pessoas. Se os números governam o mundo, então o dinheiro é tomado como se fosse um Deus e o Estado tende a ser tomado como se fosse religião.

6) O germe do Renascimento Comercial levou necessariamente ao ressurgimento da usura e à descristianização da sociedade, no longo prazo.

Da natureza produtiva ou improdutiva de um empréstimo

1) A classificação do empréstimo ser produtivo ou improdutivo leva em conta duas pessoas em três situações:

1.1) O empréstimo é produtivo aos homens, mas não para Deus. Eis a usura, pois o homem quer ser Deus e usa sua sabedoria humana dissociada da divina, de modo a ganhar mais dinheiro - e para isso, ele quer manipular o tempo a seu favor. Eis a ordem privada querendo se sobrepôr à ordem pública fundada na bondade.

1.2) O empréstimo é produtivo aos homens e é produtivo para Deus. Eis o investimento. Quando o país é tomado como se fosse um lar em Cristo, você investe nas pessoas de modo a que elas possam servir aos seus semelhantes - se elas fazem algo de extraordinário, em conformidade com o Todo que vem de Deus, então o dinheiro que deu fundamento para a atividade produtiva deve ser remunerado com juros.

1.3) O empréstimo é improdutivo aos homens, mas é produtivo para Deus. Eis a caridade. Quando se empresta ao pobre, você está emprestando para Deus. Se o pobre resolve com esse dinheiro tudo o que precisa e passa a ter uma atividade produtiva, ele, que é rico em honra, pagará esse empréstimo não só restituindo a quantia paga, como também dará uma recompensa fundada no quanto este empréstimo lhe foi útil aos seus propósitos. Essa recompensa é fundada na gratidão e Deus faz desse pobre o instrumento dessa generosidade. Ele pode te dar um dinheiro a mais ou ele pode dar algo diverso de dinheiro e que tende a valer mais do que o próprio dinheiro - e isso se chama lealdade, base para se amar e rejeitar as mesmas coisas, tendo por Cristo fundamento.

2) Para Deus nada é impossível, pois só Ele é capaz de converter algo improdutivo em algo produtivo. E a verdadeira riqueza está nisso.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2016.

Matérias relacionadas:

http://blogdejoseoctaviodettmann.blogspot.com/2015/04/notas-sobre-o-conceito-de-emprestimo.html

Notas sobre risco e incerteza

1) A questão do risco e da incerteza na economia está fortemente relacionada à impessoalidade.

2) Quando você está servindo de maneira impessoal, o risco tende a ser maior, pois haverá mais chance de haver conflito de interesse qualificado pela pretensão resistida. Logo, o Estado terá de intervir a partir do momento em que a economia impessoal passa a ser a base da vida humana. E é assim que começa a publicização do Direito Privado.

3) Se o risco maior leva a lucros maiores, isso implica necessariamente custos maiores - pois o Estado tenderá a ser maior, justamente porque o Deus do dinheiro vive necessariamente da negação da fraternidade entre nós.

4) Numa ordem onde a verdade, aquilo que é conforme o Todo que vem de Deus, é conhecida e obedecida, o risco é zero, pois você confia no seu próximo. Se você serve bem ao seu próximo, a recompensa virá, dentro do tempo de Deus, que é generosidade.

5) Mesmo numa ordem de conhecidos, o único risco que há se dá por força das circunstâncias - pode haver mal desempenho das colheitas, um desastre marítimo e outras coisas que não dependem da ação humana - e isso é força maior. Contra a força maior, a única solução possível é seguro, de modo a mitigar os prejuízos.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2016 (data da postagem original).

O homem não é Deus e não pode manipular o tempo - logo, a taxa de juros

1) Se Deus é a verdade e é a liberdade, então Ele é o senhor do tempo e da História.

2) Se juros são a remuneração do dinheiro que é investido em alguém ou em alguma coisa, em função do tempo, então quando você empresta para o pobre, você está necessariamente emprestando para Deus. Se Deus é a verdade, então o juro será livre, pois está relacionado à generosidade e à bondade de Deus.

3) Juro contratual fundado em sabedoria humana dissociada da divina tem natureza pragmática e materialista. O homem não é Deus e não pode manipular o tempo. Logo, o juro estipulado no contrato nunca será livre, mas arbitrado, com base na praxe comercial, que é subjetiva. E o que é arbitrário é limitativo - e isso não tem fins bons.

4) Além do mais, o juro arbitrado no contrato tende a ser impessoal e pode ser cobrado em questões de natureza improdutiva, quando não se envolve produção de riqueza. Eis aí o fundamento do relativismo moral, pois o deus do dinheiro será mais amado do que o Deus verdadeiro. 

5) O que torna a usura uma prática nefasta é o fato de o homem querer ser Deus, ao querer manipular o tempo a seu favor - e com isso, a taxa de juros.