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terça-feira, 6 de março de 2018

Por que será que Cristo disse que não se pode servir a Deus e a Mamon ao mesmo tempo?

"Na origem do dinheiro temos uma 'relação de representação' da morte como um mundo invisível, antes e além da vida - uma representação que é o produto da função simbólica adequada à espécie humana e que prevê o nascimento como uma dívida original contraída por todos os homens, uma dívida devido aos poderes cósmicos dos quais a humanidade emergiu.

"O pagamento desta dívida, que pode, contudo, nunca ser resolvido na terra - porque o seu reembolso total está fora de alcance -, toma a forma de sacrifícios que, ao renovar o crédito dos vivos, permitem prolongar a vida e mesmo em certos casos a alcançar a eternidade juntando-se aos deuses. Mas esta crença inicial também está associada ao surgimento de poderes soberanos cuja legitimidade reside na sua capacidade de representar todo o cosmos original. E são esses poderes que inventaram o dinheiro como meio de liquidar dívidas - um meio cuja abstração permite resolver o paradoxo sacrificial pelo qual a morte se torna o meio permanente de proteger a vida."

-- Bruno Théret, "as dimensões sócio-culturais da moeda : implicações para a transição para o euro"

Roberto Santos 


Facebook, 6 de março de 2018.

A riqueza se torna uma salvação quando a moeda se torna uma commodity

1) A noção filosófica - ou teológica - de que há um abismo ontológico entre a criatura e Deus, ou de que há uma dívida infinita que não pode ser ser liquidada jamais senão com um sacrifício, aparece com muita força em períodos históricos em que os metalistas (bullion brokers), rentistas e financistas de toda sorte usurpam o direito do Estado de emitir moedas e a transformam numa commodity escassa.

2) A moeda deixa de ser, como dizia Aristóteles, algo que representa a riqueza produzida para se tornar ela mesma uma mercadoria (improdutiva) com a qual se obtém, não lucro, mas renda, transformando a incerteza numa certeza, como se tivesse um quê de divino. A escassez da moeda, somada ao débito monetizado, gera uma situação em que as pessoas não conseguem pagar a sua dívida jamais, pois o sistema gerado se torna análogo àquela brincadeira das cadeiras em que, no final, só sobrará um vencedor.

3) Esse sistema de escassez é gnóstico, fechado e sacrificial; alguém sempre tem que morrer para que ele continue existindo. Em suma, ele é pura magia negra, feitiçaria da "boa".

4.1) O problema, portanto, não é o livre mercado, mas o sistema financeiro.

4.2) O livre mercado é um sistema aberto e produtivo; o sistema financeiro é fechado e improdutivo, pois vê na riqueza uma salvação, já que o mundo foi dividido artficialmente entre eleitos e condenados.

Roberto Santos 


Facebook, 06 de março de 2018.

Notas sobre a questão do paradigma da escassez na economia

Roberto Santos Há alguma coerência no conservador que defende o paradigma da escassez na economia  e ao mesmo tempo condena o aborto? É óbvio que os que vivem defendendo o paradigma da escassez jamais entederão a condenação do aborto.

Comentários:

1) Deus veio para dar a vida - vida em abundância. E como o Roberto Santos bem apontou, a riqueza deriva a partir do momento em que as plantas e os animais se reproduzem, já que a vida é um dom de Deus e tende a ser abundante.

2) Se a riqueza é abundante, e não escassa, os bens se tornam fungíveis e tendem a ser trocados, a ponto de ser possível trocar 20 galinhas por um cavalo e uma égua, já que criar cavalos é mais trabalhoso do que criar galinhas. Ou seja, trocar bens reais por bens reais é perfeitamente possível, considerando esta realidade de coisas, que é transcendente.

3.1) Se o metal não se reproduz e a quantidade tende a ser fixa ao longo do tempo, então não faz sentido advogar escassez num cenário de vida em abundância, onde a vida é fundada naquilo que é conforme o Todo que vem de Deus, pois no paraíso não é preciso dinheiro para se ter uma vida feliz.

3.2) Seria preciso criar uma cultura de caos para impor uma nova ordem - uma visão apocalíptica em que o homem é lobo do próprio homem, em que Deus, sendo mau, dividiu o mundo entre eleitos e condenados, predestinando aos eleitos a riqueza, que passa a ser vista como um sinal de salvação. E isso é necessariamente gnóstico - dentro desta ordem apocalíptica nós dois tipos de homem: o homo oeconomicus e o homo faber, fabricador de bens infungíveis, que fazem da moeda o meio de troca que viabiliza a fungibilidade de bens antes infungíveis. E aí surge a questão do paradigma da escassez na economia, já que o homem se tornou a medida de todas as coisas - e a melhor maneira de medi-lo seria quantificando as horas trabalhadas.

4.1) Com isso, a economia perde a sua real finalidade que é preparar o país para ser tomado como se fosse um lar em Cristo, a ponto de nos preparar para a pátria definitiva, que se dá no Céu.

4.2) Se a economia se reduz à plutologia, ao estudo da riqueza em si mesma, então a riqueza como sinal de salvação se torna um dado da realidade dos que conservam isso conveniente e dissociado da verdade - e neste ponto a técnica plutológica se torna uma pseudociência, uma ideologia, pois relativa a verdade em pessoa, que é Cristo Jesus, a ponto de edificar liberdade com fins vazios.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 6 de março de 2018.

Quando a produção industrial começou a ser imaginada? De que forma o industrialismo contaminou a política?

1.1) Se a transformação de matéria-prima em matéria processada e acabada é feita sem imaginação, então é artesanato. Logo, o artesanato, seja para fins práticos ou decorativos, é a indústria mais rudimentar que há.

1.2) Quando o artesão se especializa em fabricar bens e instrumentos que facilitem o trabalho de outras pessoas, então ele se torna um artífice, pois as ferramentas não possuem padronização - cada peça se adequa às necessidades do cliente, a ponto de ser feita praticamente sob encomenda, tornando seu trabalho muito mais valioso.

2) Quando foi introduzido o design industrial, a produção passou a ser imaginada, a ponto de atender a certas necessidades pensadas e imaginadas pelo fabricante, fundadas no auto-interesse, ainda que divorciadas das necessidades da clientela. Se o designer tiver um ego exacerbado, tal como ocorre com os arquitetos que projetam construções que fogem às características da cidade, então a tendência geral é produzir produtos de qualidade inferior à prometida, uma vez que é próprio do design o uso de materiais similares, mais baratos, fazendo com que a economia de materiais seja voltada para o nada, por força de mesquinharia.

3) O design industrial passou a ser levado para a política, a ponto de projetarem comunidades imaginadas ou mesmo a criar todo um mitologema artificial, toda uma tradição inventada de tal maneira que Deus não esteja mais no centro das nações livres, mas o homem enquanto medida de todas as coisas. E nisso o Estado será tomado como se fosse religião, pois é o Estado obra de seu fundador ou emancipador, mais ou menos como vemos o caso de Bolívar, em relação à Bolívia e à Venezuela.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 6 de março de 2018 (data da postagem original).

Notas sobre a relação entre automação industrial e usura

1) Se os produtos industriais decorrem do que vem da terra, então podemos dizer que a primeira indústria por excelência é a mineração, pois você retira metal do minério de modo a se tornar um metal trabalhado.

2) É das ferramentas vindas do metal que vêm todo o artesanato. Como o artesanato é criatividade sem imaginação, então ela cria produtos infungíveis, pois cada peça tende a ser única, fundada no fato de que o artesão em suas circunstância teceu a si mesmo.

3.1) A troca de bens infungíveis só pode ser regulada por metais, pela moeda - e as moedas, antes cunhadas a martelo, eram diferentes umas das outras, tornando a transação única, facilmente registrável. Por isso, a função da moeda é dar fungibilidade a bens infungíveis, de modo que o produto acabado de um artesão habilidoso tenha tanto valor quanto o produto que sai da terra e que se reproduz (como os animais e as plantas). Por isso, quando uma indústria avançava, as outras avançavam junto, integrando as pessoas de todas as classes, criando uma espécie de concórdia entre elas.

3.2) Como a produção de bens infungíveis pede mão-de-obra especializada e qualificada, então ela é regulada pelos metais mais nobres que há, como a prata e ouro - ou mesmo o eléctron, a liga decorrente desses dois metais.

3.3.1) Quando a indústria passou para a fase da automação, em que todos os produtos passaram ser idênticos uns aos outros, era natural pensar que dinheiro chamava dinheiro - e se o dinheiro chama dinheiro, então isso é dizer que o metal se reproduz. Ora, se a fabricação de moedas é divorciada da riqueza produzida pela agricultura e pelo artesanato, então isso gera inflacionismo, uma vez que é liberdade voltada para o nada. 
 
3.3.3) Eis no que dá pensar que o metal se reproduz - além de gerar inflação, ela gera usura. Da usura vem a cobrança improdutiva e os abusos do direito de crédito, uma vez que a usura é a mãe da extorsão. Por conta da cultura de extorsão, há toda uma sorte de conflitos de interesses qualificados pela pretensão resistida - e isso leva a uma maior intervenção do Estado, a ponto de tudo estar no Estado e nada estar fora dele ou contra ele.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 6 de março de 2018.

Notas sobre a relação entre metalismo, protecionismo e usura

1.1) Uma das razões pelas quais Quesnay defendia que a agricultura era fonte de riquezas estava no fato de que animais e plantas se reproduzem. 
 
1.2) Se as plantas e os animais se reproduzem, então ocorre capitalização - e dentro desta lógica, remunerar com juros é justo porque esse enriquecimento teve causa, pois outra pessoa confiou sua riqueza aos meus cuidados; ela investiu naquilo que tenho de melhor, na minha administração honesta. Por isso, ela pode me cobrar por algo que teve caráter produtivo.

2) Como o metal, o produto acabado do mineral, não se reproduz, então cobrar juros por força do metal em si mesmo tende a ser improdutivo - eis a usura.

3) Houve uma época na História em que ter a maior quantidade possível de ouro e prata no país indicava prosperidade - e a cultura de país tomado como se fosse religião começou a partir da riqueza tomada como um sinal de salvação. De certo modo, o metalismo leva não só a um protecionismo como também a uma cultura de usura. Esse tipo de cultura é reforçada num cenário onde as pessoas são divididas entre eleitas e condenadas de tal maneira maneira que somos incapazes de ver nos nossos compatriotas um irmão em Cristo, uma vez que a riqueza tornou-se uma forma de salvação predestinada, a ponto de edificar liberdade com fins vazios e a relativizar tudo o que há de mais sagrado, fundado na conformidade com o Todo que vem de Deus. No final, o que a ética calvinista faz é fabricar apátridas.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 6 de março de 2018.

Por que sou contra a privatização das universidades públicas?

1) Uma das razões pelas quais eu condeno a privatização das universidades públicas está no fato de que elas são lugares onde se pensa de que forma o país deve ser tomado como se fosse um lar em Cristo, o que nos prepara para a pátria definitiva, a qual se dá no Céu.

2) Como pensar é uma forma de proclamar a verdade, reproduzindo a conduta de Cristo neste aspecto, então toda atividade universitária - seja o ensino, seja a pesquisa, seja a extensão - deve e precisa ser aberta ao público, aos ouvintes - assim, haverá sempre fiscalizadores, evitando que haja doutrinação no meio acadêmico. Eu mesmo fui um aluno ouvinte; no meu tempo livre assisti aulas de mestrado em História na UFF como ouvinte. Foi durante essas aulas que tomei contato com o conceito de nacionidade em Borneman, que foi a pedra angular de todo o meu pensamento teórico.

3) Se as universidades fossem privadas, todo o conhecimento produzido seria considerado um segredo industrial, o que concentraria o poder de usar, gozar e dispor do que foi produzido em poucas mãos, a ponto de se criar uma elite oligárquica e não uma aristocracia. Eis o caráter estratégico das universidades: formar quadros, formar a elite pensante do país, que governará o pais para as próximas gerações.

4.1) Seria mais sensato que as universidades públicas fossem pagas por todo aquele que pode pagar, pois a maioria das pessoas que se encontram na universidade tem dinheiro para pagar uma universidade privada.

4.2) O dinheiro de quem paga financia quem não pode pagar, criando uma solidariedade entre ricos e pobres que se encontram na universidade, criando uma concórdia entre as classes, uma vez que a natureza da universidade não é movida pelo lucro, já que servir a Cristo e formar os quadros de tal maneira que os melhores sirvam a todos os que necessitam ser livres em Cristo não é matéria de comércio, mas de serviço desinteressado, que deve ser patrocinado por quem pode fazê-lo.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 6 de março de 2018.