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sexta-feira, 9 de março de 2018

Notas sobre economia financeira e gnose

1) O ímpeto de controlar ou dominar a realidade, em si mesmo, não é 'a' gnose. Esse ímpeto é o efeito que é deflagrado por uma determinada cosmovisão, essa sim gnóstica e a causa dele.

2) Se há uma doutrina que é 'carne de vaca' em todas as grandes tradições é a doutrina da trindade. Essa doutrina, excetuando o dogma cristão, é, tal como nos ensinou Schwaller de Lubicz, uma concepção FÍSICA da realidade. É por essas tradições que, ao falarem de trindade, estavam falando da NATUREZA divina e fazendo COSMOLOGIA, da qual emana uma Cosmovisão, como todos sabem.

3) Dessa doutrina, surge a concepção de que a realidade emerge de um nada primordial. Esse 'nada', porém, não é um não-ser. Ele é um 'No-Thing', um nada de eventos físicos determinados. Ele seria um oceano de informações funcionais, puras funcionalidades das quais o mundo físico seria a expressão.

4) Pois bem, esse oceano de informações funcionais é potencialmente infinito. Daí a cosmovisão predominante no mundo antigo de que o que prevalece na realidade é a abundância infinita, não a escassez. Essa cosmovisão é essencialmente não-sacrificial.

5.1) Mas há certos períodos históricos em que essa cosmovisão foi adulterada.

5.2) A idéia de que o mundo implicado era um oceano de informações funcionais foi trocada pela idéia econômico-financeira de que a realidade explicada tem um débito para com a realidade implicada. Como a realidade explicada é finita, esse débito jamais poderia ser pago porque a realidade implicada, ao contrário, é potencialmente infinita.

5.3) Essa cosmovisão é essencialmente sacrificial, pois a morte é vista como um meio de o mundo explicado pagar, pelo menos, os juros para o mundo implicado, pois o 'principal' é impossível de pagar.

5.4) Essa cosmovisão é justamente aquela que Cristo quis abolir de uma vez por todas. O cristianismo não só reafirma a noção primordial da abundância do mundo implicado como ainda revela o que as outras tradições não conheceram: para além da trindade natural do mundo implicado, há a Trindade revelada das Pessoas Divinas. Ou seja, há a abundância que emerge da Natureza Divina, e a abundância que emerge das Pessoas Divinas.

Roberto Santos

Facebook, 6 de março de 2018

Notas sobre o problema filosófico e teológico relativo ao conceito de "pessoa"

1) O conceito de 'pessoa' no mundo ocidental é um grande pepino. Filósofos como Ortega y Gasset e Julián Marías tentaram resolver esse problema no século passado, mas, ao meu ver, não conseguiram, pois caíram na armadilha da dialética.

2) A famosa frase de Ortega y Gasset "eu sou eu mesmo e a minha circunstância" pode facilmente ser transformada numa equação: Eu Concreto (pessoa) = Eu Abstrato + Circunstância. Ou seja, a pessoa é algo que emerge de uma dialética, não algo que a antecede, que a deflagra. Ela não só emerge de uma dialética, como ela é uma fusão de atributos e funções.

4) Se os filósofos espanhóis tivessem lido com atenção os padres da Igreja, teriam descoberto um meio muito simples de sair dessa encrenca. Os padres faziam três perguntas simples:

A) Quem é esse que está operando?

Resposta: Roberto (Pessoa).

B) O que é essa coisa nesse "quem" que está operando?

Resposta: A humanidade (Natureza) do Roberto.

C) O que são essas operações da coisa desse "quem"?

Resposta: As funções e atributos (alma) do Roberto.

5) O método é tão simples que é difícil imaginar que filósofos tão cultos como os espanhóis não fossem capazes de o entender e aplicar.

6) Se a pessoa é algo que emerge de uma relação dialética entre atributos e funções (operações da natureza), então, segundo essa lógica, as pessoas divinas emergem da natureza divina, bem como a pessoa humana emerge da natureza humana.

7) Agora, raciocinemos com São Máximo Confessor. Se Cristo tem duas naturezas, uma humana e outra divina, então, seguindo essa mesma lógica, Cristo teria que ter DUAS pessoas, o que é manifestamente absurdo, desde que Ele é a segunda pessoa da Trindade, e portanto uma só.

8) Apenas com esse pequeno exemplo dado por São Máximo Confessor já podemos ter um vislumbre do quão absurda é a doutrina que extrai o conceito de pessoa de uma dialética.

Joathas Bello: O esquema das perguntas e respostas está correto. A crítica a Ortega y Gasset é razoável; a que foi feita a Julian Marías não procede. (ver Antropologia Filosófica de Julián Marías, páginas 40 a 45). Se Zubiri ou Laín Entralgo forem incluídos entre os filósofos espanhóis, então o teor generalizante desta crítica não procede mesmo.

Thaylan Granzotto:  Ele coloca a referência bibliográfica de Julián Marías. As páginas a que ele alude – na fonte – demonstram.

Roberto Santos: Já li as referências que o Joathas citou e não me parece proceder a crítica.

Amélia Rodrigues:  A circunstância já não inclui a humanidade e a alma?

Roberto Santos: A circunstância em Ortega é um elemento exterior que, dialetizado com o Eu Abstrato, daria nascimento ao Eu Concreto, que é a pessoa.

João Pedro Garcia: Roberto, mas por que chama de "armadilha dialética"? O homem não pode ser o resultado dessa síntese?

Roberto Santos:  O que você quer dizer com "homem"? Eu estou falando da 'pessoa' do homem. Há também a pessoa angélica, para a qual também há uma natureza determinada.

João Pedro Garcia: Seria a personalidade?

Roberto Santos:  O que eu chamo de "armadilha dialética" é a concepção de pessoa como algo que emerge de uma relação dialética. Os padres da Igreja eram enfáticos em afirmar que a pessoa precede a relação dialética. Ela não só precede como deflagra e acompanha o processo dialético, o qual não é nada mais que a natureza do ser; divina, se a pessoa for divina, e humana, se a pessoa for humana.

Asley Vieira:  Essa manifestação da 'pessoa' em Ortega y Gasset - que é feita de maneira indissolúvel no espaço e no tempo, de maneira dialética - seria, de algum modo, análoga à colocação de Marx, ao dizer que não é a consciência dos homens que determina seu Ser, mas, pelo contrário, é o seu ser social que determina sua consciência, na forma de circunstâncias?

Roberto Santos:  Analogia sempre há, nem que seja remota, pois eles são filósofos herdeiros do cristianismo ocidental.

Wladimir Caetano de Sousa: Não seria uma consequência inevitável da prática filosófica retalhar a idéia de 'pessoa' em várias funções e atributos pelo fato de ela não ser propriamente uma idéia a qual possa ser construída por meio do "uso natural" da razão?

Roberto Santos: Não, porque a pessoa é algo que transcende as funções e atributos.

Wladimir Caetano de Sousa: Não é próprio da filosofia a dialética, que trabalha com redução a funções e atributos?

Roberto Santos: Sim - é próprio da filosofia a dialética. No entanto, quando você a usa para explicar algo que transcende a natureza, você reduz esse algo transcendente à natureza. Quando você aplica a dialética para explicar um dogma, você o reduz ao natural. Por isso eu digo: a ordem teológica ocidental é menos uma teologia do que uma física.

Wladimie Caetano de Sousa: Foi isso mesmo que pensei - eis a razão de eu ter dito ser uma consequência inevitável da aplicação da dialética aos dogmas essa redução ao natural. A teologia ocidental tem de fato essa tara de dialetizar tudo. Daniel Fernandes e eu chegamos a conversar brevemente sobre isso.

Roberto Santos:

1) Quando você faz uso da dialética em um dogma, você já entra de cara no gnosticismo, pois você transforma um sistema aberto, fundado na conformidade com o Todo que vem de Deus, em um sistema fechado, fundado no homem como a medida de todas coisas.

2) Se você for ver a ciência da topologia, seja ela física ou matemática, o que ela faz é exatamente o que Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino fizeram com o dogma da Trindade. Só que a topologia é muito mais sofisticada - a teologia ocidental é, na verdade, uma física codificada, um embrião da topologia.

Wladimir Caetano de Sousa: Ainda não atinei para a conexão entre elas. Conheço superficialmente topologia matemática.

Roberto Santos:  Estabeleça, então, uma conexão entre a ciência topológica e a teoria dos números qualitativos ou funcionais do Mário Ferreira dos Santos . Elas são exatamente a mesma coisa, pois é com essa teoria (dos números funcionais) que Santo Agostinho explica a Trindade. Não, evidentemente, como o Mário a expõe, mas tal como ele a entendeu do neoplatonismo plotiniano.

Wladimir Caetano de Sousa: Muito interessante. Vou meditar com calma.

Roberto Santos: Considere isto como um dado topológico:

1) O retângulo é um nada infinito.

2) O círculo é a primeira cisão nesse nada infinito.

3) Com a primeira cisão dada nesse topos, você já obtém todas as outras informações a partir de sua relação, reciprocidade, organização etc. É a mesma coisa coisa que a teoria dos números funcionais do Mário, mas aplicado à física.

4) O retângulo é o Um. O círculo é o Dois. A relação entre o retângulo e o círculo é o Três etc.

Wladimir Caetano de Sousa:  Isso aí é uma forma elegantemente geométrica de expressar a aritmética funcional do Mário.

Roberto Santos: Por isso eu digo: a teologia agostiniana é menos uma teologia que uma física.

Wladimir Caetano de Sousa: Mas isso é terrível! Quantas operações não podem ser feitas com esse instrumental?

Roberto Santos: Por isso, eu também digo: Santo Agostinho reduziu as pessoas da Trindade à natureza, pois confundiu as pessoas divinas com a NATUREZA Divina. A natureza divina é esse nada infinito passível de cisão e multiplicação informacional. A natureza divina é, em outras palavras, o que se costuma chamar de "matéria-prima".

Wladimir Caetano de Sousa: Isso acaba virando física porque não há outra maneira de o número funcional se atualizar senão no próprio mundo físico.

Roberto Santos: Exatamente.

Romulo Atallah:  Isso tem a ver com anjo ou corpo alma e espírito?

Roberto Santos: Não.

https://web.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10215850737604802

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Facebook,  9 de março de 2018 (data da postagem original)

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quinta-feira, 8 de março de 2018

O conservantista constrói pontes sinuosas; o conservador constrói pontes retas, ao mortificar o seu ego

1) Allan dos Santos, do Terça Livre, falou que é possível convencer uma pessoa que esteja buscando a verdade, mas que é impossível convencer alguém inclinado a conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, uma vez que essa pessoa está projetando poder, um ato de vontade.

2.1) A ponte edificada pelo conservantista é sinuosa, construída conforme o sabor das necessidades e circunstâncias de momento, a ponto que extrapolar o ensinamento do Ortega y Gasset, ao falar que as coisas são fundadas no mais puro amor de si até o desprezo de Deus e nas suas circunstâncias, nas suas razões de ser que fazem disso algo conveniente de ser conservado para a posteridade, ainda que dissociado da verdade.

2.2.1) Se tomasse por verdadeiro o que ouvi na chama Quinta Pensante, então a arquitetura das coisas seria bem ao estilo "português". Da forma como me disseram, a cidade não teria desenho arquitetônico definido, a ponto de as coisas serem criadas conforme o sabor do vento, mais ou menos como se dá nesta república, pois essa arquitetura cai como uma luva para este regima, dado que as coisas são criadas segundo a lógica da biruta de aeroporto. Esse tipo de alegação só confirma argumento de que o Brasil foi colônia de Portugal.

2.2.2) Mas isso é uma grande mentira, como o professor Loryel Rocha tem demonstrado; quando se serve a Cristo em terras distantes, então as cidades são projetadas de modo a se fazer com o terreno que as abriga sirva a Cristo em terras distantes, fazendo com que o país como um todo seja tomado como se fosse um lar em Cristo, sistematicamente falando. É como se Cristo pedisse emprestado a terra de modo a cultivá-la, não só com alimentos, mas também com braços de modo a fazer com que uma civilização seja edificada segundo o Seu desejo: o de montar um império de modo que seu Santo Nome seja publicado entre as nações mais estranhas.

3.1) Para quem vive a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus, o caminho, a ponte a ser criada, será reta, fundada numa fé reta e consciência reta.

3.2) Se é verdade o ensinamento de que há um caminho bom, quando se tem boa vontade, então todo aquele que busca a verdade acaba sendo um microcosmos do papa, na sua qualidade de vigário de Cristo - é preciso mortificar o ego para se edificar uma ponte de modo que esta seja a mais reta possível.

4) Eis a diferença entre o conservantista e o conservador, quando edifica pontes. Um edifica pontes sinuosas, que levam do nada a lugar algum; o outro edifica pontes bem alicerçadas, que vão de A até B de maneira lenta, gradual e segura, já que as coisas têm começo, meio e fim, uma vez que construí-las é uma epopéia, um feito heróico, tal como foram as Grandes Navegações.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 8 de março de 2018.

Pela leitura você será capaz de sentir o que o outro sentiu, se não houver meio de repetir o experimento tal como ele se deu

1) Se a escrita é a segunda voz, uma voz perene, então é a leitura é o segundo ouvido, um ouvido perene.

2) Tudo o que é bom e conforme o Todo que vem de Deus deve ser ouvido e lido com muita atenção, pois precisa ser conservado de maneira conveniente e sensata.

4.1) Uma alma que perscruta muitos livros por ano é capaz de converter todo esse input em sabedoria - e isso vale mais que ouro e prata. Por isso, aproxime-se dessa alma piedosa e ouça e leia tudo o que ela disser, tanto na forma de blog quanto na forma de postagem de facebook.

4.2) De todo esse apanhado assimilado por osmose, você será capaz de meditar sobre coisas importantes a partir de tudo o que você aprendeu ao emprestar seus olhos, sua mente e seu coração de modo a conservar o que é conveniente e sensato até ser capaz de sentir a dor de Cristo, que é o que deve ser conservado de maneira definitiva, já que a sabedoria implica provar do fruto das coisas e não esquecer o sabor das coisas provadas - o que faz da prova, do paladar, uma coisa perene, permanente, fazendo com que a leitura dos mesmos livros que o sábio leu seja um critério de verificação.

4.3.1) Do mesmo modo que o paladar, o cheiro pelo qual detectamos a fumaça da boa razão nos permite perceber o fogo que arde sem se ver, bem como nos permite que toquemos na ferida que dói e não se sente decorrente da crucificação de Jesus, uma vez que as coisas, mesmo em ruínas, ainda ardem na forma de uma chama invisível, que só pode ser percebida pelos sensatos, pelos pios, pelos que vivem a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus - mais ou menos como é a sarsa ardente, que não se consumia na época de Moisés e que ainda não se consome nos tempos atuais.

4.3.2) Eis aí a Páscoa definitiva decorrente de quem busca um atalho a partir do esforço vindo dos mais sábios, pois do sacrifício de um vem a sabedoria de muitos.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 8 de março de 2018.

Da importância de se associar aos mais sábios e sensatos, de modo a economizar seu tempo com leituras

1) Eu não leio 60 livros por ano. Eu me contento em assimilar por osmose o que os outros leram e tento meditar sobre isso - é como se pedisse empréstimo a essas pessoas que tiveram de reunir esse capital intelectual de modo a cuidá-lo sob minha administração. Por isso, devo ser leal e remunerar a título de juros tudo o que essa pessoa me emprestou, ao me contar as coisas que sabe.

2.1) Afinal, de que adiantar ingerir uma alta quantidade de dados se não sou capaz de responder a tudo isso com sabedoria? Até onde sei, excesso de input sem o devido output só gera má consciência.

2.2) Por isso que é urgente ter paciência - eu vou levar um bom tempo até adquirir o que os outros estão lendo. Até porque não me pauto pelo modismo intelectual, mas pela sabedoria - quero compreender aquilo que Deus me permite que eu compreenda. Se faço bem meu papel, então ele me deixa compreender ainda mais as coisas.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 8 de março de 2018.

Mais coisas que disse ao colega Roberto Santos

José Octavio Dettmann:

1) Pelo que pude observar, a base da guilda vem de Aristóteles, não do neoplatonismo. Com isso a guilda era um corpo intermediário, tal como é a Igreja.  

2.1) É por meio dos corpos intermediários que buscamos pessoas com as quais possamos nos associar, desde que tenham um interesse em comum. 

2.2) Ou seja, a guilda é tanto uma associação, quanto um sindicato, quanto uma escola profissionalizante, quanto uma empresa. Era uma coisa integrada numa só coisa, por força da realidade da coisas. Por isso que sua constituição não se dava por meio contrato escrito, pois a linha que separa uma coisa e outra é tênue - se ela for escrita, ela cria conflito de interesses a ponto de o Estado ter que dizer o direito sobre praticamente tudo, a ponto de querer arrogar-se um Deus. Enfim, a beleza dessa instituição estava na sua complexidade - e a escrita acabaria reduzindo essas coisas que vem da alma a uma máquina, o que acabaria criando conflito de interesses qualificados pela pretensão resistida, fazendo com que o Estado tenha de se pronunciar sistematicamente sobre as supostas lesões ou ameaças de lesão de tal maneira que tudo deva estar sujeito à apreciação do Estado, já nada deverá estar contra ele ou fora dele.

2,3) Se as funções de associação, sindicato, escola profissionalizante e empresa eram uma coisa só na natureza da guilda, então a especialização visa não só a uma espécie de alienação, dessa perda do Todo, como também visava libertar os indivíduos da dependência de outros indivíduos, como se isso fosse uma espécie de dominação. E isso gerou o caráter atomicista das nossas sociedades, a ponto de a liberdade para bem servir aos semelhantes fosse voltada tão-somente ao auto-interesse e para o nada, uma vez que isso perdeu o seu caráter santificador e salvífico. E isso tem caráter gnóstico, pois a gnose a vê o corpo como uma prisão da alma.

Roberto Santos: Preciso meditar melhor sobre isso, mas em princípio parece que é isso.

Por que a guilda não se enquadra naquilo que meu colega Roberto Santos apontou?

1) Como já falei noutra ocasião, se a amizade se funda no fato de se amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, então a sistematização disso leva à constituição da vida gregária, a qual se dá em sociedade.

2.1) Se São Josemaria Escrivá falava em santificação através do trabalho, então essa santificação é melhorada quando associações de pessoas que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento se associam de modo a proteger os interesses da sua profissão de modo que os conhecimentos das gerações anteriores não caiam em mãos erradas. 
2.2) Neste ponto, a guilda é também um sindicato entre patrões e trabalhadores se unem de modo a haver uma concórdia entre as classes, de modo que uma produza em função da outra, fazendo o país ser tomado como se fosse um lar em Cristo. Nela, as guildas imitam a família, no tocante à mútua assistência e à mútua santificação.

3.1) Desta forma, a base da guilda não era neoplatônica, gnóstica, fundada num contrato social escrito, mas sim aristotélica, pois a guilda era um corpo intermediário tal como a Igreja, de modo que pessoas com interesses em comum conheçam umas às outras e possam cooperar umas com as outras, pois todos vêem a Cristo uns nos outros.

3.2) Como a lealdade entre as famílias e entre as gerações tende a se reproduzir tal como as plantas e os animais, então isso cria uma espécie de capitalização moral, uma espécie de integração entre as pessoas, já que a riqueza não visava à salvação, como vemos na cosmologia protestante, ou mesmo a um salvacionismo voltado para o nada. Essa riqueza era destinada ao aprimoramento da missão de servir aos semelhantes naquilo que é necessário, aperfeiçoando a santificação feita através do trabalho.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 8 de março de 2018.