1) Se o príncipe é o primeiro cidadão de uma república - o primeiro dentre seus pares, os melhores dentre um povo de uma cidade que ama e rejeita as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento -, então ele é a pessoa escolhida por Deus para ser vassalo de Cristo de tal modo que proteja seu povo das invasões estrangeiras, bem como outras cidades a ponto de elas todas estarem sujeitas a sua proteção e autoridade, a ponto de se tornarem um reino.
2.1) Como vassalo de Cristo, o príncipe, e consequentemente rei, diz o direito, cabendo aos nobres aplicar o direito e administrar o reino em todas as suas instâncias: a questão civil, a questão militar - e a questão eclesiástica, se esse príncipe tiver sido coroado pelo próprio Cristo, tal como se deu em Ourique, a ponto de ter a prerrogativa que é típica do padroado.
2.2) Afinal, o vigário de Cristo, o Papa, pode delegar a seus vassalos, os reis, a gestão da administração apostólica das terras de além-mar se as relações desse príncipe com a cristandade forem muito boas - afinal, se a Europa é uma república cristã, então os reinos são províncias eclesiásticas, a ponto de terem ainda mais liberdade se servirem a este bem comum fundado na conformidade com o Todo que vem de Deus - e neste ponto, a evangelização do povo nativo descoberto se torna uma política de Estado, uma vez que devemos servir a Cristo em terras distantes. Se o príncipe é a personificação da justiça e da santidade, então isso é possível - afinal, ele é senhor dos senhores sendo servo dos servos em Cristo.
3.1) Além do patrocínio da instrução religiosa e da segurança, o príncipe diz o direito na questão da emissão da moeda, que é símbolo de justiça e de serviço.
3.2.1) Todos os que estão sujeitos à proteção e autoridade do soberano, se contribuírem com a missão de servir a Cristo em terras distantes, têm direito a uma parte das riquezas de todo o principado (ou reino, se houver pelo menos duas ou mais cidades sob a proteção de um mesmo príncipe, a ponto de ser chamado de Rei).
3.2.2) A riqueza que faz o principado ou o reino ser conhecido em toda a Cristandade se torna o lastro. Esse lastro deve vir de algo que possa ser reproduzível, uma vez que riqueza é serviço e serve para ajudar na construção do bem comum - como essa riqueza decorre da santificação através do trabalho, então tal modelo deve ser imitado a partir da santidade do príncipe. E geralmente, as maiores riquezas do Reino devem ser produzidas sob o patrocínio do príncipe, já que isso se funda no projeto de servir a Cristo em terras distantes.
3.3.1) Tomemos o caso das indústrias. Elas transformam a matéria-prima derivada das plantas em bens de consumo duráveis e não-duráveis, dentro de um prazo razoável, uma vez que as plantas se reproduzem.
3.3.2) Se houver o patrocínio do príncipe, isso estimula a todos os outros a investirem nessa indústria também, criando uma maior integração entre o príncipe e os que organizam atividades economicamente organizadas de modo a melhor servirem a todos do reino bem como a todos na Cristandade, pois a iniciativa pública da autoridade revestida de Cristo ajuda aperfeiçoar a liberdade, a ponto de estimular os outros a se organizarem melhor a ponto de servir aos que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, ainda que em terras distantes.
3.3.3) Se a mão que produz é a mesma mão que preserva, então bens que necessitam de duas ou três gerações passadas até ficarem prontos para serem transformados serão mais racionalmente aproveitados, a ponto de gerar um maior valor agregado, como é o caso do pau-brasil. Graças a isso, a produção de bens de curto e médio prazo pode estimular a uma produção bens de longo prazo, criando uma espécie de troca intertemporal entre os diferentes produtos, gerando uma moeda ainda mais forte, já que o lastro se dará sobre uma variedade de produtos que viabilizem a troca daquilo que exige curto e médio prazo para ser produzido pela produção de bens valor agregado que exigem um longo prazo para ser produzindo - e se houver um preço médio por força desse câmbio, então isso acaba fortalecendo a moeda nacional.
4) Este poderia ser um verdadeiro projeto civilizatório, se a cultura da riqueza como sinal de salvação e o maquiavelismo não tivessem corrompido as consciências de todos os príncipes, a ponto de pavimentar o caminho para os tempos em que estamos. Eis uma grande chance perdida!
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2018.
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