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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Notas sobre uma coisa da qual sinto falta do meu tempo de faculdade

1) Uma das coisas que mais sinto falta nos meus anos de universidade é dos momentos em que ficava a sós comigo mesmo, distante dos meus pais. De tanto enfrentar a solidão e a miséria dos que estavam ao meu redor na época que desenvolvi um espírito filosófico. Naquela época não havia rede social.

2) Quando passei a me dedicar à rede social, eu pude trocar os medíocres ao meu redor pelos melhores dispersos pelo país afora. É de tanto lidar com os melhores que fui ganhando conhecimento e esse conhecimento me poupou muitas leituras.

3) Se somarmos os itens 1 e 2, isso me deu mais de 4000 mil artigos escritos. Isso foi possível porque tenho um conhecimento empírico monstruoso, segundo o que meu amigo Rodrigo Arantes me disse.

4.1) Desde que minha mãe se aposentou em 2011, eu perdi de alguma forma esse senso de enfrentar a solidão.

4.2) Mesmo que esteja sozinho em meu quarto a maior parte do tempo, eu não me sinto sozinho: meus pais podem entrar no meu quarto a qualquer momento pedindo a minha ajuda, assim como tenho a companhia dos melhores na rede.

4.3) Mas tem momentos em que o pessoal na rede fica discutindo tanto assunto irrelevante e falando um monte de besteira que sinto vontade de pegar um bom tablet e ler os livros que eu mesmo digitalizei.

5) O problema é que eu preciso me sentir só para me sentir livresco. E só quando estou na missa, aos domingos, é que consigo me sentir a sós comigo mesmo. Esse é o momento em que estou longe da família e desenvolvendo uma atividade filosófica intensa - e aí que sinto vontade de ler livros, já que o silêncio da paróquia é convidativo. Se a cidade fosse segura e os pacotes de dados fossem baratos, eu poderia aproveitar o momento em que a missa ainda não começou para ler os livros que digitalizei. Eu consigo fazer isso, quando estou na sala de espera esperando meu pai ser liberado pelo médico. Meu pai sempre leva o meu smartphone, mas o pacote de dados não dura muito.

6.1) Enfim, é desta solidão que eu sinto falta, coisa que só encontro na igreja, onde estou comigo mesmo e com meu ouvinte e leitor onisciente. É isso que me move a ler.

6.2) Isso me faz muita falta, sobretudo quando vejo certas opiniões na rede social mais ou menos deste tipo: certa ocasião estava acompanhando algumas postagens do mural de uma amiga minha quando vi alguém dizendo esta estupidez: que a Igreja Católica condena o lucro, enquanto no protestantismo o lucro é uma bênção.

6.3) Imediatamente, eu bloqueei o sujeito, mas a sensação que eu tenho é que isso, o bloqueio, não é o bastante. Se estivesse diante de um sujeito que tivesse falado tal asneira no mundo real, teria partido para as vias de fato, pois tal declaração é um acinte à inteligência, um atentado contra a conformidade com o Todo que vem de Deus - e eu odeio esse tipo de coisa profundamente. Ver alguém falando essas coisas é conservar o que é conveniente e dissociado da verdade e vejo nisso um pecado mortal - e este é de longe o pecado que mais odeio.

7.1) Enfim, estas são algumas das coisas que mais sinto falta - às vezes eu vejo na rede o mesmo vazio que vejo no tempo de faculdade, o que me pede solidão. 

7.2) Como esse bem tem sido escasso, então eu sinto muita falta disso, dessa solidão que edifica, a ponto de querer ler mais livros de modo a não me enervar com a estupidez alheia.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2018.

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