1) Quando estava com meus 18 anos e no terceiro ano do segundo grau, eu havia percebido que o manual de História que eu usava era bem fora da realidade - ele chamava de "burguês" todo e qualquer empresário, seja ele pequeno, médio ou grande.
2.1) Por que digo que termo "burguês" é um termo muito fora da nossa realidade?
2.2) Em primeiro lugar, as cidades não são fortificadas, uma vez que as fortificações hoje não protegem a cidade contra cercos, até porque o bombardeio pode vir do céu, por meio dos aviões, que podem ser tripulados ou não. Além disso, há foguetes intercontinentais que podem mascarar a sua assinatura térmica. O míssil pode vir da China e acabar acertando o Rio de Janeiro, sem que se perceba pelo radar.
2.3.1) Em segundo lugar, as cidades de uma mesma região metropolitana estão muito integradas uma às outras, a ponto de haver uma conurbação, a ponto de haver problemas urbanos em comum, o que pede uma política integrada de segurança pública, exercida por meio de uma polícia metropolitana ou por meio leis que valham para toda aquela região metropolitana, coisa que nosso odioso federalismo mequetrefe não nos permite fazer.
2.3.2) Essa conurbação faz com que não percebamos onde termina o município do Rio e onde começa a Baixada Fluminense, por exemplo. Como não há marcos naturais, por conta do crescimento desordenado, então a selva de pedra a perder de vista faz com que percamos tal referência.
2.4.1) Outro ponto que faz com que o conceito burguês desapareça é que a noção de atividade econômica organizada pode ser feita ainda no momento em que você trabalha de maneira subordinada a outra pessoa.
2.4.2) Um empregado com grande capacidade de iniciativa tende a se organizar e criar uma economia própria quando bem serve a seu patrão, a tal ponto que pode acabar se tornando seu sócio, por conta do princípio da confiança, ou acabar criando uma empresa de modo desenvolver uma solução para o patrão. E essa empresa tende a aproveitar o mesmo espaço físico onde a empresa do patrão está instalada, criando uma economia mais complexa por conta do direito de vizinhança, uma vez que atividades econômicas organizadas, capitaneadas por pessoas diferentes, estão compartilhando um mesmo espaço físico, a ponto de criar uma verdadeira comunhão de direitos e deveres sobre a coisa que eventualmente ocupam. Isso cria uma relação entre o direito civil e direito empresarial de tal forma que precisa ser tratada num sistema único, como o Código Civil de 2002.
3.1) Enfim, tanto pela realidade geográfica quanto pela complexidade das relações sociais o termo "burguês" é fora da realidade, por ser inadequado para descrever uma realidade muito complexa.
3.2) A inexistência de muralhas indica que o mundo é vasto, que há muitas possibilidades a serem exploradas, ainda que em terras distantes - e o mundo em que vivemos decorre mais daquilo que decorre de Ourique, que globalizou a fé cristã.
3.3) Além disso, a própria inexistência de muros indica que o mundo não pode estar mais dividido entre eleitos e condenados, tal como há na cosmovisão protestante. É preciso descobrir os outros e bem servi-los de modo a vivermos a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus, fazendo com que nos santifiquemos por meio do trabalho.
3.4.1) A mentalidade burguesa, enquanto resquício, é própria de quem vive a vida preso a uma redoma, cercado a uma muralha, iludido numa falsa sensação de segurança - e isso promove a mesquinharia. É mais fácil ver isso nos condomínios em que vivemos, que são verdadeiras pequenas cidades fortificadas. Isso certamente cria uma má consciência das pessoas.
3.2) Se os condomínios forem construídos observando o princípio da amizade como a base da sociedade política, então essa má consciência certamente será eliminada, uma vez que essas pequenas cidades são mais bem geridas por todos aqueles que amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, o que prepara as pessoas para servirem à cidade como um todo, no cargo de vereador.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 12 de outubro de 2018.
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