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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Sobre a economia de mercado fundada no encontro e sobre a economia de mercado fundada na sujeição

1.1) A verdadeira economia de mercado se pauta no encontro de pessoas na praça.

1.2) Se a praça é o ambiente da sociabilidade, onde as pessoas se conhecem e passam a amar e a rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, então é também o encontro onde o necessitado encontra aquilo de que necessita. É essencialmente o lugar onde se serve ao próximo.

2.1) Se as pessoas se encontram na praça, então seus conflitos de interesse se resolvem em praça.

2.2) Por isso que o Fórum Romano era uma praça e um centro comercial - e lá as grandes decisões políticas e judiciais eram feitas, às vistas de todos. Se o Estado é integração, então ele reflete o estado de sua principal praça. Por isso, o Estado garante a liberdade onde o mercado reflete a realidade da praça: um lugar de encontro e não de sujeição. Esse é o Estado de Direito.

3.1) Onde se conserva o que é conveniente e dissociado da verdade, a liberdade será servida com fins vazios.

3.2) A moral será extremamente utilitarista e tenderá a se reduzir ao comando emanado na lei que regula as relações sociais.

3.3) Quando se fala em mercado, não se fala em encontro de vontades, mas na prática humana que interessa ao Estado, já que este parte do pressuposto de que o poder está nas mãos de um príncipe rico e poderoso, no sentido maquiavélico do termo, que pode ser um partido, como bem apontou Gramsci. E ele fará isso concentrando os direitos de usar, gozar e dispor em poucas mãos.

4.1) Se o mercado não se funda em pessoas, mas em ações impessoais que devem ser reguladas pelo direito, já que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele e contra ele, então isto é uma característica gnóstica, pois a ações dos homens foram tomadas como coisa em si mesma, sem se levar em conta o caráter de alguém e a natureza do agente que praticou determinada ação.

4.2.1) Se as pessoas são substituíveis umas pelas outras - tanto na posição credora quanto devedora, tal como falei em artigos anteriores -, então as relações econômicas tendem a ser mecânicas e abstratas, pois se reduz à cartularidade e literariedade de um título de crédito. E isso leva ao relativismo moral e a liqüefação dos valores morais, já que tudo se reduziu ao vil metal, que não se reproduz, tal como acontece com um animal ou uma planta. 

4.2.2) Eis o Estado-mercado dos liberais que seguem a linha de Bobbitt: ele necessita do pensamento de Gramsci, Hobbes, Montesquieu e outros pensadores de marcadamente revolucionários. Ele resume bem o estado de natureza hobbesiano, bem típico da cosmologia protestante, onde o mundo é dividido entre eleitos e condenados, uma vez que a riqueza se tornou sinal de salvação e de salvacionismo do próprio status quo do Estado tomado como se fosse religião.
José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de maio de 2018.

Notas sobre a necessidade de preencher uma lacuna que há nos estudos católicos

1) Penso na existência de uma grande lacuna, em todos os Institutos de Estudos Católicos, no que tange alternativas socioeconômicas para o país.

2) Penso que nos falta um Centro de Estudos Econômicos baseados na Escolástica da Idade Média e principalmente na Escolástica Tardia de Salamanca. Não estou propondo a negação do Sistema Econômico do Distributismo, jamais: quero apenas levantar um contraponto ao Liberalismo destruidor e escravizador profano voltado ao mercado, mostrando o Liberalismo consciente da lapidação do Homem e equilíbrio da sociedade voltada aos preceitos Divinos: que não só existiu, como influenciou as escolas liberais de economia que os Iluministas tomaram para si e desfiguraram de acordo com seus interesses.

3) O Catolicismo Apostólico Romano e seus apologistas têm a função de buscar a salvação de seu próximo; se eles se negarem a influenciar o ambiente onde este próximo está inserido, não fica só mais difícil buscar a salvação de todos como facilita a influência do mal pelo mundo onde jaz o maligno.

Marcelo Dantas

Facebook, 21 de maio de 2018.
https://web.facebook.com/marcelo.dantas.961/posts/1051092711682533

Se o mercado é tomado como se fosse religião, então a economia será escravagista, pois tudo será fundado na sujeição e não no encontro

1) Se a noção de mercado é tomada como se fosse religião, em que tudo está no mercado e nada pode estar fora dele ou contra ele, então o mercado se torna o novo Estado, o novo príncipe. E a economia de mercado se torna sujeição e não encontro.

2) Como todo bom ídolo, o mercado tomado como religião é uma projeção sistemática da alma fundada no amor de si até o desprezo de Deus. E só idólatras vêem a riqueza como um sinal salvação e vêem a sociedade arbitrariamente dividida em eleitos e condenados, a ponto de a usarem de modo a conseguir benefícios.

3.1) Eles não percebem que a própria noção de mercado como sujeição - uma reprodução do estado de natureza hobbesiano - cria uma espécie de solidariedade forçada, mecânica.

3.2.1) Nessa solidariedade mecânica, as coisas tendem a ter um fim em si mesmo, inadmitindo abertura para a verdade, que é Cristo. E como todas as coisas que decorrem do homem são imperfeitas, então essas coisas tendem a se desgastar a ponto de se liqüefazerem ao entrarem em contato com a luz que não se apaga, que é de uma clareza meridiana. E quando essas coisas se tornam líqüidas, ocorre anomia na sociedade, a ponto de haver anarquia. 

3.2.2) A própria contradição dialética das coisas já vai criando os desgastes necessários a essa estrutura mecânica - a alma humana é voltada para a verdade e enxergá-las por meio do exame das contradições presentes nas próprias coisas existentes na realidade já faz com que essa estrutura acabe caindo por si mesma, pois ela é fora da conformidade com o Todo que vem de Deus. Afinal, nada pode subsistir sem Deus.

4) Eis as conseqüências do Estado-mercado fundado na sujeição e não no encontro.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de maio de 2018.

Crítica à afirmação de que devemos usar a sociedade

1) Liberais (libertários-conservantistas, como eu os chamo) falam em "usar a sociedade de modo a conseguir benefícios".

2) Destaco duas coisas: o verbo "usar" e o substantivo "sociedade".

3.1) Sociedade, para poder existir, pressupõe um contrato social.

3.2) Como é um ato inter vivos, ele só obriga quem está vivo e não quem ainda não nasceu. Como não assinei contrato social algum, então não sou obrigado a servir a um Estado tomado como se fosse religião, em que tudo está nele e nada pode estar fora dele ou contra ele.

3.3.1) Como não sou obrigado, por força de contrato, servir a um Estado tomado como se fosse religião, então eu não autorizei ninguém a usar minha força de trabalho de modo a colher benefícios com isso.

3.3.2) Para conseguir isso, a pessoa tem que ser íntegra e me convencer a fazer parte de um projeto onde tanto ele quanto eu colhamos benefícios mútuos. E isto só posso conseguir por meio de uma pessoa que eu conheça e que ame e rejeite as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento.

3.3.3) Por isso, é ilusão pensar que conseguirei isso com desconhecidos que me surgiram à tona da noite pro dia reunidos numa mesa de modo a pensar a sociedade do amanhã, o que não passa de ilusão.

4.1) Além disso, o uso pressupõe o descarte.

4.2) Se uso a sociedade para colher benefícios, então não sou obrigado a ser leal a ninguém, o que faz com que a liberdade tenha fins vazios. Isso faz com que a moral seja relativizada, a ponto de o princípio da não-triação não ser observado, pois as pessoas estão conservando o que é conveniente e dissociado da verdade, que é Jesus Cristo.

4.3.1) Se o homem foi reduzido a homo oeconomicus e a um homo faber, então ele se reduziu à coisa, a um nada, a um escravo, a ponto de não ter direito à vida.

4.3.2) Se o principal não tem direito à vida, muito menos o acessório, sua mulher e seus filhos. E mais grave ainda se os filhos nascem com deficiência - para uma sociedade assim, os imprestáveis não têm direito à vida. Eis a eugenia.

5) Se tudo o que é sólido se desmancha no ar, então o caminho da transição entre o sólido e o gasoso está no líqüido. Se o líqüido assume a forma do recipiente que lhe é hospedeiro, então ele está conservando algo conveniente e dissociado da verdade, pois tudo se tornou utilitarismo. Não é à toa que o libertário-conservantista é o navio quebra-gelo do comunismo.

6.1) Seria mais sensato falar em comunidade e não sociedade.

6.2) A comunidade pressupõe comunhão, vida em comum. E a amizade é base da sociedade política. E para isso precisamos amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento.

6.3) Cada membro da comunidade tem uma vocação - e essa vocação é servida aos demais de modo a gerar uma interdependência, o verdadeiro fundamento da solidariedade. É pela mútua assistência e mútua santificação sistemática que as pessoas tomarão o país como um lar em Cristo, a ponto de se prepararem rumo à pátria definitiva, a qual se dá no Céu.

6.4) Se há uma cultura de mútua assistência e mútua santificação entre as pessoas da comunidade, então o trabalho é o meio de santificar todas as coisas, o que confirma aquilo que São Josemaría Escrivá tanto sustenta. Assim a liberdade, pautada na verdade, terá sua justa utilidade, pois edificará algo concreto e duradouro: o bem comum, enquanto legado para as futuras gerações. E só é possível falar em tradição quando há um bem comum, algo que se incorpora à realidade concreta de tal maneira que faz as pessoas não esquecerem aquilo que foi esquecido. Afinal, a própria presença da coisa lembra às pessoas da necessidade de sua preservação, seu não esquecimento.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 21 de maio de 2018.

Carlos Cipriano de Aquino:

1) Liberais não precisam de religião porque eles já possuem a deles: "o mercado". Tudo o que possa atrapalhar o funcionamento deste os asseclas do liberalismo atacam ferozmente e de todas as formas possíveis, assim como tudo o que o favoreça é defendido como dogma.

2) No fundo, a única coisa que eles querem é que nada atrapalhe o dinamismo peculiar do mercado.

José Octavio Dettmann: No fundo, o mercado para eles é sujeição - no final, pervertem a idéia de economia mercado fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus, que se trata de encontro, de descoberta sistemática dos outros, a ponto de conhecer suas necessidades e assim supri-las.

domingo, 20 de maio de 2018

Viver sob a dependência dos pais é aprender a viver sob a dependência de Deus, se seus pais são virtuosos

1) Uma coisa é certa: os pais são a visão mais próxima daquilo que você pode ter de Deus. Se os seus pais são virtuosos, então obedecer a eles e cooperar naquilo de que necessitam é obedecer a Deus.

2) Conviver com os pais é um verdadeiro evangelho. Você aprende a depender de Deus ao depender de seus pais. Enquanto não se constrói a própria casa de modo a abrigar nela a esposa que colaborará contigo, você terá um porto seguro na casa de seus pais.

3.1) O mundo, sobretudo os EUA, ainda está muito encantado com a idéia de família nuclear, que é basicamente abolição da família enquanto porto seguro, a ponto de estar exposto aos riscos sociais dos que vivem para si até o desprezo de Deus
 
3.2) Enfim, esse negócio de ser independente e ter um amor de si a ponto de desprezar Deus não é comigo. Se tiver minha própria casa, eu a terei com a ajuda dos meus pais - e mesmo que eu não consiga uma segunda casa para abrigar a minha esposa e meus filhos, então a casa onde moro com eles já será um porto seguro, pois será o legado que me será passado e que preciso bem cuidar. 
 
3.3.1) Eu encaro o fato de morar com eles como uma oportunidade de poder prosperar, pois morando com eles eu praticamente não tenho despesa e consigo montar uma poupança - trata-se de uma verdadeira incubadora de empresas. Se o país não fosse esse atraso de vida, eu poderia ganhar muito mais dinheiro do que ganho hoje. 

3.3.2) Mas este é o tipo de coisa que não está sob o meu controle - a única coisa que posso fazer é escrever meus textos e falar o que tenho a dizer a quem está disposto a me ouvir. Se ganharei mais doações, por força do meu esforço em prol da verdade, então isso aí decorre da bondade de Deus. Por isso que preciso depender d'Ele, como dependi dos meus pais para poder escrever alguma coisa, quando não sabia ler e escrever, durante meu tempo de criança.
 
José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2018.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Como a serpente é capaz de se limpar na própria sujeira - o caso do direito falimentar enquanto direito pessoal

1) No Gênesis, o pecado original foi induzido pela serpente. Como a serpente é capaz de morder a própria cauda, então ela é o símbolo da vida, a ponto de ser tornar um ciclo, um sistema fechado.

2) Se credores e devedores tendem a ser sucedidos sistematicamente ao longo do tempo, então a pessoa que estiver eventualmente assumindo a posição devedora não saberá quem é o verdadeiro credor da dívida, a ponto de não pagá-la ou pagá-la a um credor putativo. Com a dívida não paga, ou paga a um credor putativo - que pode até mesmo não fazer parte da relação de crédito e débito que circulou no mercado por meio de um título de crédito -, então os credores antecessores tendem a culpar uns aos outros bem como os devedores anteriores tendem a culpar uns aos outros, gerando uma perda da amizade com Deus sistemática. E uma expiação pelo pecado precisaria ser feita.

3) Como o Deus verdadeiro foi preterido por Manon, isso cria uma cultura de eleitos e condenados, configurada na figura da falência.

4) Em países como os Estados Unidos, a figura da falência tornou-se uma espécie de direito pessoal em tempos de crise, a ponto de gerar um verdadeiro negócio para certas empresas comprar dívidas vencidas ou mesmo prescritas, já que isso cria uma relação de negócios com os antigos credores, renovando o ciclo fechado em si mesmo. Como o comunismo, isso é se limpar na própria sujeira.

5.1) A única maneira de quebrar esse ciclo seria esmagando a cabeça da serpente, que se tornou um enorme dragão. E só uma pessoa pode esmagar a cabeça da serpente: a Virgem Maria, como foi atestado no apocalipse de São João.

5.2) Ela é que gerará o Salvador, que restaurará todas as coisas através de um sacrifício que será feito de uma vez por todas, para que tenhamos o perdão por nossos pecados.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 18 de maio de 2018.

Notas sobre a perversão do direito pessoal em direito impessoal - o caso do direito empresarial fundado numa cultura em que a riqueza se tornou um fim em si mesmo

1) No direito fundado na ação humana economicamente organizada, ativo é o complexo de bens que se encontram na titularidade de alguém, em posição credora; passivo, por sua vez, é o complexo de obrigações de dar, fazer e não fazer que se encontram na titularidade de alguém em posição devedora.

2) As relações de crédito são relações pessoais, pois admitem que credor e sucessor sejam sucedidos a título universal, por força de herança, ou a título singular, por meio da cessão tanto da posição credora quanto devedora a outras pessoas estranhas ao contrato que gerou direitos e obrigações, seja a título gratuito ou oneroso. Muito diferente de uma relação personalíssima, que veda essa sucessão, pois essa dívida é fundada numa relação de afinidade de credor e devedor, a poder de gerarem uma affectio societatis, já que os dois são necessariamente amigos ou membros de uma mesma família.

3) Além disso, as relações entre credor e devedor podem recíprocas. A pode ser devedor de B e B pode ser devedor de A. Essas relações recíprocas são relativas a algo que A pode fazer por B e a algo que B pode fazer por A.

4) Se a dívida for posta pra circular - a ponto de credor e devedor serem substituídos por outras pessoas estranhas em suas respectivas posições, enquanto não ocorrer o advento do termo pelo qual a dívida fica vencida -, então a relação de crédito tende a se reduzir às suas funções, que é chamar dinheiro, a ponto de gerar uma espécie de teoria pura da ação humana fundada nisso, do ponto de vista econômico. Como as coisas tendem a se reduzir às suas funções, então assumir a posição credora ou devedora tende a ser muito arriscado. Como isso se tornou uma prática permanente em nossa sociedade, o risco de a dívida não ser paga tende a ser um risco social, a ponto de gerar um problema social, uma crise sistêmica onde os conflitos de interesse qualificados pela pretensão resistida tendem a ser sistemáticos. E nesse ponto, acaba criando um verdadeiro pecado perene, pois a definitividade da jurisdição tenderá a não pôr fim ao problema social.

5) Eis a prova cabal de que isso tem profunda relação com a gnose, pois a riqueza tende a se tornar um fim em sim mesmo, a ponto de se tornar uma espécie de salvação.

6.1) Isso existe porque a transmissão de um direito pessoal não se funda no princípio do idem velle, idem nolle

6.2) Se a transmissão dos bens observasse os princípios da fé católica, a dívida tenderia a ser extinta ou compensada a ponto de elevar o devedor a figura de sócio, a ponto de ambos, credor e devedor, trabalharem um em função do outro. E uma sociedade de confiança seria gerada nessa direção, pois o cedente seria veria na figura do cedido a figura de Cristo - e quem é devedor do cedente seguiria trabalhando com prazer para o cedido, já que Ele é verdadeiro homem, por imita o verdadeiro Deus que assumiu a forma humana.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 18 de maio de 2018.