A recente admissão por parte da Rede Globo sobre os efeitos da inflação nos alimentos evidencia uma realidade que há tempos vem sendo apontada por economistas e especialistas do setor: o Brasil está diante de um cenário inflacionário agravado por fatores internos e externos. A escalada dos preços dos produtos da cesta básica, amplamente notada pelos consumidores, é reflexo direto de um contexto global instável e de fragilidades estruturais na cadeia produtiva nacional.
Conforme reportado pela emissora, a elevação dos preços está fortemente associada ao aumento dos custos de produção no setor agrícola, especialmente no que se refere ao encarecimento dos fertilizantes, dos combustíveis e à persistência de condições climáticas adversas. A dependência do Brasil de insumos importados, como fertilizantes e defensivos agrícolas, torna o país particularmente vulnerável às flutuações do mercado internacional, intensificadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia e pelos desdobramentos da pandemia de COVID-19.
O diesel, combustível essencial para o transporte de cargas e para o funcionamento de maquinários agrícolas, também registrou alta expressiva, impactando diretamente a logística e o escoamento da produção. Soma-se a isso a estiagem em regiões produtoras, que reduz a oferta de alimentos e pressiona ainda mais os preços ao consumidor.
O quadro preocupa principalmente pela sua repercussão nas camadas mais pobres da população, que comprometem parcela significativa da renda com alimentação. A inflação dos alimentos, diferentemente de outros tipos de inflação, possui caráter regressivo, atingindo com mais intensidade os que menos têm.
Especialistas consultados pela própria reportagem sugerem que, diante desse cenário, torna-se urgente a formulação de políticas públicas voltadas à redução da dependência externa, ao estímulo da produção nacional de insumos e à ampliação dos investimentos em infraestrutura logística. Medidas estruturantes poderiam, a médio e longo prazo, conferir maior resiliência ao setor agropecuário e minimizar os efeitos das crises externas sobre o mercado interno.
A mudança de postura dos grandes veículos de comunicação, ainda que tardia, pode contribuir para a conscientização da sociedade e para a cobrança de soluções mais efetivas por parte dos poderes públicos. Reconhecer a gravidade da situação é o primeiro passo para enfrentá-la com responsabilidade e eficácia.
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