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terça-feira, 15 de abril de 2025

Quando a professora te quer: o reverso da tentação e o juízo da verdade

No cotidiano da vida intelectual, é comum advertir o aluno que começa a prestar mais atenção à pessoa da professora do que ao conteúdo da aula. Trata-se de uma inversão da ordem própria ao ato de aprender. Quando o desejo se antepõe à escuta, o saber cede lugar à tentação, e o espírito perde a vigilância.

Mas há uma situação ainda mais sutil e espiritualmente exigente: quando não é o aluno que se encanta, mas a professora que demonstra interesse pessoal por ele — fora do ambiente da sala de aula, em circunstâncias sociais, acadêmicas ou virtuais. E então? Que fazer quando o desejo vem do outro lado? Quando é o mestre que deseja o discípulo?

A tentação inverte-se, mas o perigo permanece. Talvez até aumente.

Muitos, ao perceberem que são admirados, especialmente por alguém que possui autoridade ou prestígio, se deixam levar pela vaidade. Alimentam o vínculo. Mantêm a troca de mensagens. Correspondem ao elogio. Cedem aos convites. Ainda que saibam que há ali um desalinho de princípios, valores ou fé, cedem — porque foram tocados em sua carência ou orgulho.

Contudo, o juízo do espírito deve ser mais forte do que qualquer impulso da carne ou do ego. A admiração, quando não está fundada na verdade, pode se tornar um laço de iniquidade. Nem todo elogio é um presente; alguns são armadilhas. A maturidade espiritual de um homem se mede não apenas pela sua capacidade de resistir ao desejo, mas pela sua firmeza em rejeitar ser desejado quando esse desejo compromete sua fidelidade ao que é eterno.

Em casos assim, a decisão reta exige corte. E corte firme. Às vezes, é necessário deletar. Cortar o contato. Abrir mão de um vínculo que poderia render afeto, mas jamais renderia comunhão na verdade.

Um exemplo emblemático é o de um homem que, após perceber o interesse de uma professora por ele, tomou a decisão de se afastar. Não por orgulho ou frieza, mas por amor à verdade. Ao notar que ela era admiradora do “espírito de independência” americano — símbolo moderno de uma liberdade sem Deus —, recusou-se a manter o vínculo. Pois sabia que tal “independência” é, na verdade, uma forma disfarçada de rebeldia. E que há uma diferença abissal entre a liberdade cristã e a autonomia revolucionária.

Essa distinção é essencial: enquanto certos povos, como os poloneses, lutaram historicamente pela liberdade como fidelidade à identidade cristã — uma independência para melhor servir a Deus —, outros, como os americanos modernos, transformaram a liberdade em culto ao indivíduo, à autodeterminação e ao rompimento com toda autoridade, inclusive a divina.

Aceitar o elogio de alguém que sustenta essa visão distorcida seria, nesse caso, comprometer a própria integridade espiritual. Porque, ainda que o afeto pareça legítimo, se ele brota de uma alma desordenada, ele não edifica — apenas enreda. A alma que busca a verdade deve amar apenas aquilo que é conforme a Verdade. Todo o resto deve ser deixado de lado, mesmo que venha com sorrisos, gestos afetuosos ou propostas de proximidade.

Cristo deixou claro: “Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim” (Mt 10, 37). E isso se estende a qualquer tipo de vínculo. Aquele que ama ser admirado mais do que ama a verdade, também não é digno d’Ele. Aquele que se alegra mais por ser desejado do que por permanecer fiel, não compreendeu o sentido da cruz.

A verdadeira liberdade não é seguir os impulsos do coração, mas submeter o coração à luz da verdade. É por isso que muitos vínculos devem ser evitados antes mesmo de começarem. Porque já nascem feridos pela desordem.

O homem que entende isso torna-se verdadeiramente livre. Não se vende por elogios, não se comove com bajulações, não se deixa conduzir por olhares ou propostas. Ele ama a Deus acima de todas as coisas — inclusive acima de sua própria necessidade de ser amado.

E esse é o segredo da santidade: julgar todas as coisas à luz da eternidade.

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