Se eu tivesse um filho, eu lhe diria com a solenidade que se reserva aos conselhos definitivos: não tenha amigos protestantes. Não se relacione intimamente com aqueles que professam uma fé herética, especialmente quando sua alma estiver vulnerável. Porque, nas suas maiores dificuldades, eles não verão o Cristo necessitado que há em você. Verão apenas um “pecador”, um “rebelde”, um “carente emocional”, ou qualquer outra categoria que permita ignorar aquilo que exige o gesto mais cristão de todos: a compaixão.
Não falo isso por teoria. A vida me ensinou por meio de pessoas concretas, de episódios marcados no tempo e na memória. Havia conhecido certa vez uma enfermeira que morava em Parnaíba, no Piauí. Uma mulher de aparência forte, mas de alma turva, como vim a perceber mais tarde. Naquele tempo, eu ainda usava um velho Nokia com teclas — dos bons celulares, da era anterior à intoxicação digital. Aquilo sim era um celular de verdade: servia ao seu propósito, simples e direto. Como devem ser também as relações humanas.
Acontece que meu fiel Nokia ficou obsoleto. Fui obrigado a trocá-lo por um aparelho novo, um desses “smartphones” que são mais computadores de mão do que instrumentos de ligação. Quando finalmente consegui falar com ela no novo aparelho, recebi não uma saudação fraterna, mas uma grosseria seca, quase como um tapa na cara, só que sem o uso da mão. Aquilo foi uma fratura moral. E então, sem hesitação, desliguei o telefone e a bloqueei em todos os canais possíveis: e-mail, telefone, Facebook, WhatsApp… absolutamente tudo. Ela me faltou com respeito uma única vez - e isso, já me foi o suficiente.
Muitos talvez me chamem de radical, intolerante, orgulhoso. Mas não sabem o quanto essa firmeza é fruto de anos de aprendizado e de dores engolidas. A vida me ensinou que onde não há respeito, não há caridade; onde não há caridade, não há Cristo. E onde Cristo não está, não há por que insistir.
A fé protestante — desprovida da visão sacramental, da sucessão apostólica, da comunhão dos santos — frequentemente se organiza como um clube de salvos, não como um hospital de almas. Quando você estiver caído, eles te apontarão versículos. Eles não se ajoelharão ao seu lado nem verão o Cristo ferido em você porque lhes falta o olhar da verdadeira Igreja, que reconhece no sofrimento do outro a oportunidade de unir-se aos méritos de Cristo crucificado. E isso faz toda a diferença.
Por isso, meu filho — se um dia Deus me der um —, eu lhe repetirei isso com ternura, mas com firmeza: fuja da intimidade com os heréticos. Não por ódio, mas por zelo. Não por preconceito, mas por proteção. Porque quando sua alma sangrar, só aqueles que amam o Cristo inteiro — com Sua Cruz, Sua Igreja, Seus méritos — saberão estender a mão com reverência, e não com julgamento.
E quanto a mim? Guardo a paz de quem não deve nada. De quem se esforça para viver com honestidade, dando a cada um o que é seu. E quando me cortam com o fio da grosseria, corto também, sem mágoa, mas sem retorno. Porque respeito é como um sacramento humano: se profanado, não se repete.
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