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quarta-feira, 30 de abril de 2025

Uma ponte energética transatlântica entre o Brasil e a Europa: oportunidade estratégica após o apagão na Península Ibérica

Uma ponte energética transatlântica entre o Brasil e a Europa: oportunidade estratégica após o apagão na Península Ibérica

O recente apagão que afetou Portugal e partes da Espanha em abril de 2025 trouxe à tona uma realidade incômoda: a matriz energética europeia, mesmo com os avanços em sustentabilidade e descentralização, ainda é vulnerável a falhas sistêmicas. O episódio escancarou a necessidade urgente de diversificação das fontes de energia e de fortalecimento das interconexões internacionais.

Nesse cenário, emerge uma oportunidade estratégica inédita: a construção de um cabo transatlântico de transmissão elétrica entre o Brasil e a Península Ibérica.

Por que conectar Brasil e Europa através da energia elétrica?

O Brasil detém uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta. Cerca de 80% da eletricidade brasileira é gerada a partir de fontes renováveis — com predominância da energia hidrelétrica, seguida pelo crescimento exponencial das fontes solar e eólica. Já a Península Ibérica, embora venha investindo pesadamente em energias renováveis, continua sujeita à intermitência dessas fontes e à limitação de integração com o restante da Europa.

Um cabo transatlântico de alta voltagem em corrente contínua (HVDC) permitiria exportar o excedente energético limpo do Brasil para Portugal e Espanha, reforçando a segurança energética europeia e criando uma nova geopolítica do Atlântico Sul-Norte baseada na sustentabilidade.

Tecnologia e viabilidade

Projetos semelhantes já existem em outras regiões do mundo. O North Sea Link, por exemplo, conecta o Reino Unido à Noruega por um cabo submarino de 720 km. A tecnologia HVDC é madura, confiável e eficiente para longas distâncias submarinas. Embora o Atlântico represente um desafio logístico maior (cerca de 5.800 km), os avanços tecnológicos e a urgência climática tornam o projeto plausível.

O investimento necessário seria bilionário, mas não inalcançável, especialmente com o envolvimento de:

  • Bancos multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Europeu de Investimento (BEI) e o BNDES;

  • Fundos verdes europeus e internacionais, que buscam projetos de alto impacto ambiental positivo;

  • Empresas multinacionais de energia renovável, interessadas em diversificar suas redes globais.

Benefícios geoestratégicos

  1. Segurança energética para a Europa
    O continente reduziria sua dependência de gás natural (particularmente o russo) e de fontes fósseis ainda ativas em países do Leste Europeu.

  2. Reconhecimento internacional do Brasil como potência verde
    O projeto consolidaria a posição do Brasil como exportador global de energia limpa, atraindo investimentos e projeção política internacional.

  3. Integração Atlântica sustentável
    Uma aliança energética baseada em sustentabilidade fortaleceria os laços diplomáticos e comerciais entre América do Sul e Europa.

  4. Diversificação econômica para o Brasil
    A exportação de energia poderia gerar novas receitas em moeda forte, estimular cadeias produtivas e fomentar o desenvolvimento das regiões produtoras.

Desafios a serem enfrentados

  • Viabilidade econômica e política: O custo da infraestrutura precisa ser compensado por acordos comerciais e garantias de longo prazo.

  • Estabilidade regulatória e diplomática: O projeto depende da cooperação entre governos, marcos legais transparentes e estabilidade institucional.

  • Complexidade ambiental: O impacto ecológico do cabo submarino e das subestações precisa ser rigorosamente avaliado.

Conclusão: o futuro começa no presente

O apagão na Península Ibérica foi um alerta. Mais do que um problema técnico, ele evidenciou uma oportunidade geopolítica. Conectar o Brasil à Europa por meio de um corredor energético renovável é uma ideia audaciosa, mas plenamente alinhada com os desafios do século XXI.

Num mundo em transição energética, quem tiver fontes limpas e confiáveis terá poder. O Brasil possui essas fontes. Falta apenas a visão estratégica e a coragem para transformá-las em um novo vetor de soberania, desenvolvimento e cooperação internacional.

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