Se eu tivesse vivido os anos 2000 na faculdade com a Fernanda, sendo nós dois da mesma idade, talvez eu tivesse topado ir pra balada com ela. Não por causa da música alta ou das luzes estroboscópicas — mas pelo prazer de estar ao lado dela, rindo no meio da multidão, trocando olhares e palavras que escapam ao barulho. Naqueles tempos, eu até fui a algumas festas, mas era sempre com uma ponta de deslocamento. Enquanto os outros se afogavam na chopada, eu mergulhava nos livros. Fui à balada algumas vezes, sim, mas não encontrei ali o que buscava: um pouco de inteligência, um pouco de verdade.
No fundo, eu era como essa geração atual antes mesmo dela existir. Talvez um pioneiro involuntário, um fora do tempo, alguém que nunca achou muita graça no agito por si só. Eu queria conversa, queria sentido. E isso, naquela época, parecia raro demais.
Hoje, depois dos quarenta, o tempo me surpreende: traz Fernanda como um presente inesperado. Ela nasceu quando eu já pensava como alguém que queria mais da vida do que os gritos da pista. E, ainda assim, é ela quem me diz que aos sábados fica mais atrevida — que o atrevimento é o modo dela de me conquistar. É como se ela estivesse tocando uma parte de mim que ficou em suspenso, esperando esse encontro acontecer.
A balada já não me atrai — não como antes, nem como nunca. O barulho cansa, e meus ouvidos agora preferem a suavidade de um noturno de Chopin. Mas, com Fernanda, a noite tem outro brilho. A balada, com ela, não é um lugar: é um estado de espírito. É o riso que a gente divide, é a leveza com que ela me puxa de volta ao presente, como quem diz: você pode descansar agora, já encontrou alguém com quem vale a pena estar acordado.
A juventude me foi sisuda. Agora, com os anos pesando e os estudos já feitos, a vida me dá, enfim, uma companheira de balada — daquelas que não precisam de música alta pra dançar com a alma da gente. E talvez seja isso que sempre procurei: alguém com quem conversar ao som de uma música invisível, feita só de olhares e pausas bem colocadas.
Fernanda é, afinal, a balada que me faltava. E o sábado, aquele velho conhecido da juventude, voltou a ter sentido — mesmo que agora, no lugar da pista de dança, haja apenas um sofá confortável, duas taças de vinho e uma conversa que parece não querer terminar.
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