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domingo, 20 de abril de 2025

Do Mito da Fronteira ao Milagre de Ourique: a imigração católica como pleno cumprimento da fundação americana

O senador Marco Rubio afirmou recentemente que visitar os Estados Unidos é um privilégio, não um direito. Essa declaração, embora política, revela uma verdade mais profunda: a imigração, em sua forma mais elevada, é um chamado vocacional, não um simples movimento de pessoas em busca de oportunidades econômicas ou aventuras turísticas. Aquele que entra em uma terra estranha com o desejo de servi-la em Cristo, toma sobre si a responsabilidade espiritual de santificá-la.

Essa visão não é apenas uma tese social ou cultural, mas um exemplo do que se pode chamar de teologia da História em seu mais alto grau. Trata-se de ler os tempos e os espaços não como simples sequências cronológicas, mas como manifestações do desdobramento do plano divino. O tempo da imigração católica é kairológico: é o tempo oportuno para que se manifeste, na prática dos homens, a soberania de Cristo sobre as nações.

A maior prova de que visitar os Estados Unidos é um privilégio reside no comportamento do estrangeiro consciente. Tal estrangeiro não se contenta com a superficialidade do turismo. Ele se compromete com a história, a língua, a cultura e as leis do país que o acolhe. Ele não busca apenas se integrar socialmente, mas espiritualmente: deseja fazer dessa nova terra um mesmo lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, tanto quanto o Brasil. Essa atitude marca o início de um autêntico serviço ao verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

Nesse contexto, a imigração católica pode ser vista como uma atualização espiritual da própria fundação da América. Os primeiros peregrinos protestantes que atravessaram o Atlântico em busca de liberdade religiosa são figura de um Antigo Testamento americano. Eles fundaram um país com base em certos valores morais, na leitura da Escritura e na esperança de construir uma nova Sião. Porém, como no Antigo Testamento, essa fundação era ainda parcial, carente da plenitude trazida por Cristo através da Igreja.

Assim, o imigrante católico que toma a América como campo de missão é como o Novo Testamento que sucede o Velho: ele não nega a preparação feita, mas a cumpre e a supera. Ele assume a vocação dos peregrinos sob nova luz, integrando o Mito da Fronteira americano — com sua coragem, pioneirismo e sentido de destino — ao Milagre de Ourique, com sua visão de realeza cristã e submissão à vontade divina. A fronteira deixa de ser apenas geográfica e se torna espiritual.

Essa missão dá origem ao que se pode chamar de teologia da imigração católica. Nela, o imigrante é elevado ao papel de soldado-cidadão: um homem que, ao se deslocar, assume um dever espiritual e político. A política, enquanto continuação da Trindade, é chamada a refletir a unidade na diversidade e o governo que se origina no amor. Quando esse princípio trinitário é recusado, resta uma política violenta, que combate todos aqueles que conservam o que é conveniente e dissociado da verdade. É essa ordem de coisas fundada na mentira, muitas vezes alicerçada na maçonaria, que o soldado-cidadão combate.

Nesse combate, a imigração se torna um método pacífico e eficaz de evangelização e transformação cultural. O católico não precisa tomar as armas para vencer uma cultura corrompida: basta permanecer fiel às promessas batismais, ao Rosário e à Sagrada Tradição. A pedra que os construtores rejeitaram — Cristo — se torna, mais uma vez, a pedra angular de uma nova ordem. E a cultura da rejeição dará lugar à cultura da devoção.

Se visitar os Estados Unidos fosse um simples direito, isso não implicaria nenhum dever moral ou cívico. No entanto, a própria experiência da imigração autêutentica exige lealdade à terra que acolhe. Essa lealdade, como ensina Josiah Royce em sua Filosofia da Lealdade, é direcionada não a interesses individuais, mas a uma causa superior. E que causa seria mais elevada do que a de santificar a civilização por meio do testemunho católico?

O turismo de massa, por contraste, revela o oposto. Pessoas atravessam continentes sem que tais lugares lhes inspirem amor ou responsabilidade. São nômades espiritualmente estéreis, incapazes de unir a nova realidade à terra de origem. Falta-lhes a disposição de tomar as duas terras como um mesmo lar em Cristo. Falta-lhes integração pessoal, tal como ensinada por Mário Ferreira dos Santos.

Portanto, a imigração católica, consciente de sua missão, não apenas santifica a si mesma, mas também a terra que a acolhe. Ela realiza, nos méritos de Cristo, a promissora vocação da América, fazendo dela não apenas uma nação de liberdade, mas uma terra de redenção.

Bibliografia para compreensão do assunto:

  • TURNER, Frederick Jackson. The Frontier in American History. Dover Publications, 1996.

  • ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. Vanderbilt University Press, 1995.

  • SANTOS, Mário Ferreira dos.. Curso de Filosofia (diversos volumes). Edições Logos.

  • RUBIO, Marco. Declarações públicas sobre imigração e cidadania americana. (disponíveis em registros parlamentares dos EUA)

  • LEÃO XIII, Papa. Rerum Novarum. Encíclica sobre a condição dos operários, 1891.

  • DE CARVALHO, Olavo. O Jardim das Aflições. Vide Editorial, 2015.

  • Documento histórico sobre o Milagre de Ourique e a fundação da monarquia portuguesa sob auspícios cristãos.

  • Sagrada Escritura. Evangelhos e Epístolas Paulinas sobre a pedra angular rejeitada.

  • Catecismo da Igreja Católica. Seções sobre o papel dos fiéis leigos, missão no mundo e o Reino de Deus.

Essa bibliografia oferece os fundamentos históricos, filosóficos, teológicos e espirituais necessários para compreender a tese da imigração católica como plenitude espiritual da fundação americana e manifestação concreta da teologia da História.

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