O senador Marco Rubio afirmou recentemente que visitar os Estados Unidos é um privilégio, não um direito. Essa declaração, embora política, revela uma verdade mais profunda: a imigração, em sua forma mais elevada, é um chamado vocacional, não um simples movimento de pessoas em busca de oportunidades econômicas ou aventuras turísticas. Aquele que entra em uma terra estranha com o desejo de servi-la em Cristo, toma sobre si a responsabilidade espiritual de santificá-la.
Essa visão não é apenas uma tese social ou cultural, mas um exemplo do que se pode chamar de teologia da História em seu mais alto grau. Trata-se de ler os tempos e os espaços não como simples sequências cronológicas, mas como manifestações do desdobramento do plano divino. O tempo da imigração católica é kairológico: é o tempo oportuno para que se manifeste, na prática dos homens, a soberania de Cristo sobre as nações.
A maior prova de que visitar os Estados Unidos é um privilégio reside no comportamento do estrangeiro consciente. Tal estrangeiro não se contenta com a superficialidade do turismo. Ele se compromete com a história, a língua, a cultura e as leis do país que o acolhe. Ele não busca apenas se integrar socialmente, mas espiritualmente: deseja fazer dessa nova terra um mesmo lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, tanto quanto o Brasil. Essa atitude marca o início de um autêntico serviço ao verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
Nesse contexto, a imigração católica pode ser vista como uma atualização espiritual da própria fundação da América. Os primeiros peregrinos protestantes que atravessaram o Atlântico em busca de liberdade religiosa são figura de um Antigo Testamento americano. Eles fundaram um país com base em certos valores morais, na leitura da Escritura e na esperança de construir uma nova Sião. Porém, como no Antigo Testamento, essa fundação era ainda parcial, carente da plenitude trazida por Cristo através da Igreja.
Assim, o imigrante católico que toma a América como campo de missão é como o Novo Testamento que sucede o Velho: ele não nega a preparação feita, mas a cumpre e a supera. Ele assume a vocação dos peregrinos sob nova luz, integrando o Mito da Fronteira americano — com sua coragem, pioneirismo e sentido de destino — ao Milagre de Ourique, com sua visão de realeza cristã e submissão à vontade divina. A fronteira deixa de ser apenas geográfica e se torna espiritual.
Essa missão dá origem ao que se pode chamar de teologia da imigração católica. Nela, o imigrante é elevado ao papel de soldado-cidadão: um homem que, ao se deslocar, assume um dever espiritual e político. A política, enquanto continuação da Trindade, é chamada a refletir a unidade na diversidade e o governo que se origina no amor. Quando esse princípio trinitário é recusado, resta uma política violenta, que combate todos aqueles que conservam o que é conveniente e dissociado da verdade. É essa ordem de coisas fundada na mentira, muitas vezes alicerçada na maçonaria, que o soldado-cidadão combate.
Nesse combate, a imigração se torna um método pacífico e eficaz de evangelização e transformação cultural. O católico não precisa tomar as armas para vencer uma cultura corrompida: basta permanecer fiel às promessas batismais, ao Rosário e à Sagrada Tradição. A pedra que os construtores rejeitaram — Cristo — se torna, mais uma vez, a pedra angular de uma nova ordem. E a cultura da rejeição dará lugar à cultura da devoção.
Se visitar os Estados Unidos fosse um simples direito, isso não implicaria nenhum dever moral ou cívico. No entanto, a própria experiência da imigração autêutentica exige lealdade à terra que acolhe. Essa lealdade, como ensina Josiah Royce em sua Filosofia da Lealdade, é direcionada não a interesses individuais, mas a uma causa superior. E que causa seria mais elevada do que a de santificar a civilização por meio do testemunho católico?
O turismo de massa, por contraste, revela o oposto. Pessoas atravessam continentes sem que tais lugares lhes inspirem amor ou responsabilidade. São nômades espiritualmente estéreis, incapazes de unir a nova realidade à terra de origem. Falta-lhes a disposição de tomar as duas terras como um mesmo lar em Cristo. Falta-lhes integração pessoal, tal como ensinada por Mário Ferreira dos Santos.
Portanto, a imigração católica, consciente de sua missão, não apenas santifica a si mesma, mas também a terra que a acolhe. Ela realiza, nos méritos de Cristo, a promissora vocação da América, fazendo dela não apenas uma nação de liberdade, mas uma terra de redenção.
Bibliografia para compreensão do assunto:
TURNER, Frederick Jackson. The Frontier in American History. Dover Publications, 1996.
ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. Vanderbilt University Press, 1995.
SANTOS, Mário Ferreira dos.. Curso de Filosofia (diversos volumes). Edições Logos.
RUBIO, Marco. Declarações públicas sobre imigração e cidadania americana. (disponíveis em registros parlamentares dos EUA)
LEÃO XIII, Papa. Rerum Novarum. Encíclica sobre a condição dos operários, 1891.
DE CARVALHO, Olavo. O Jardim das Aflições. Vide Editorial, 2015.
Documento histórico sobre o Milagre de Ourique e a fundação da monarquia portuguesa sob auspícios cristãos.
Sagrada Escritura. Evangelhos e Epístolas Paulinas sobre a pedra angular rejeitada.
Catecismo da Igreja Católica. Seções sobre o papel dos fiéis leigos, missão no mundo e o Reino de Deus.
Essa bibliografia oferece os fundamentos históricos, filosóficos, teológicos e espirituais necessários para compreender a tese da imigração católica como plenitude espiritual da fundação americana e manifestação concreta da teologia da História.
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