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segunda-feira, 28 de abril de 2025

O próximo Papa e a purificação doutrinal: Um chamado à condenação dos erros?

No dia 8 de abril de 2025, o portal LifeSiteNews publicou uma entrevista concedida por Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana, ao conhecido podcaster católico Dr. Taylor Marshall. A entrevista repercutiu fortemente no meio tradicionalista ao levantar uma tese que, embora antiga em seu espírito, ganha contornos dramáticos diante do contexto atual da Igreja: o próximo papa deveria, como primeira tarefa, revogar e condenar os erros doutrinários do Papa Francisco.

A declaração de D. Schneider é direta e incisiva. Segundo ele, o próximo sucessor de Pedro terá a obrigação moral de emitir uma profissão de fé que identifique e rejeite “erros e doutrinas ambíguas” atribuídos ao atual pontificado, corrigindo formalmente expressões e documentos que, segundo sua interpretação, contrariam a doutrina católica.

1. Entre a Profissão de Fé e o Programa de Erros

D. Schneider retomou uma proposta já ventilada em círculos conservadores: a criação de um Programa de erros, inspirado em compilações doutrinais como o Syllabus Errorum de Pio IX, que denunciava os principais erros modernos. A diferença é que agora, ao invés de combater os erros externos à Igreja, a proposta visa corrigir documentos e posições doutrinais de um papa reinante ou ainda vivo, o que representa um passo inédito na história moderna da Igreja.

A iniciativa visaria, segundo Schneider, restaurar a clareza doutrinal, apagando ambigüidades e afirmando sem concessões o ensinamento perene da fé católica. Documentos como Amoris Laetitia (especialmente no que tange à comunhão de divorciados recasados), Fiducia Supplicans (sobre bênçãos de uniões homoafetivas) e o Documento de Abu Dhabi (que afirma que “Deus quer a diversidade das religiões”) são citados como os principais alvos dessa suposta correção.

2. A Teologia da Continuidade e o Julgamento de um Papa

O posicionamento de D. Schneider baseia-se numa hermenêutica da continuidade, conforme defendida por Bento XVI, mas com um viés mais rígido, quase restauracionista. A crítica implícita a Francisco é de que ele teria promovido uma hermenêutica da ruptura, minando a doutrina tradicional da Igreja com inovações pastorais ambíguas.

No entanto, essa proposta levanta questões profundas:

  • Um papa pode formalmente condenar e revogar o magistério de seu predecessor imediato?

  • É prudente ou legítimo reverter diretrizes doutrinais que foram promulgadas sob a autoridade papal?

  • O que isso significaria para a autoridade e unidade do magistério petrino ao longo do tempo?

A resposta a essas questões não é simples, mas levanta a possibilidade de um precedente perigoso: a de que um pontificado seja julgado e revogado pelo próximo, abrindo caminho para uma instabilidade doutrinal ao sabor das tendências eclesiais de cada época.

3. Unidade ou Cisma? O Risco de Romper com o Próprio Corpo

A insistência em uma condenação formal de documentos papais recentes, especialmente em público, pode gerar graves consequências:

  • Estimula uma polarização intraeclesial, separando os católicos em “fidelistas” de Francisco e “puristas” doutrinais.

  • Oferece combustível para grupos cismáticos ou sedevacantistas, que já negam a legitimidade do atual papa.

  • Dificulta o exercício da autoridade pastoral e teológica do sucessor de Pedro, tornando o papado refém de pressões ideológicas.

O próprio Papa Bento XVI, ao abordar a crise pós-conciliar, sempre rejeitou tanto o espírito do Concílio progressista quanto a recusa do Concílio por parte de tradicionalistas extremados. Sua proposta era clara: reformar na continuidade, sem rupturas, sem condenações desnecessárias.

4. O que esperar de um futuro papa?

A questão posta por D Schneider não é apenas sobre documentos: é sobre a identidade eclesial da Igreja neste século. O próximo papa — seja ele quem for — terá diante de si uma tarefa delicada:

  • Restaurar a confiança entre os diversos setores do corpo eclesial.

  • Reafirmar a doutrina sem alimentar o espírito faccioso.

  • Promover a caridade da verdade, sem transformar o papado num tribunal inquisitorial contra seus predecessores.

Mais do que revogar e condenar, talvez o próximo papa deva discernir profundamente o que significa governar com justiça, ensinar com fidelidade e unir com caridade.

Fonte: 

https://www.lifesitenews.com/news/bishop-schneider-next-pope-must-abrogate-and-condemn-francis-errors/?fbclid=IwY2xjawJ89TNleHRuA2FlbQIxMQBicmlkETE1WjFMTE9lU1lXS1RVQ1lhAR4CNoNVdCr4Ok3zHzXdcszTjiTwK7F5Qj_y6H0xjMTV4MsfIeWecbqwAdteiw_aem_QZMp95rJSJXPP7ERfXfA-w

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