Resumo
Este artigo propõe uma interpretação teológico-sociológica dos conceitos matemáticos de dividendo, divisor, quociente e resto, utilizando-os como categorias analíticas para a compreensão de fenômenos históricos e espirituais. Fundamenta-se na premissa de que, nos méritos de Cristo, dividir é multiplicar e agregar, e que a unidade fundamentada na verdade é a condição essencial da liberdade. O artigo aborda o racha entre judeus e cristãos como exemplo paradigmático e propõe uma leitura dialética do quociente e do resto como elementos da síntese.
1. Introdução
A matemática nos oferece não apenas ferramentas quantitativas, mas também categorias simbólicas que, reinterpretadas sob a luz da teologia, podem iluminar aspectos profundos da experiência humana e espiritual. Este artigo parte da analogia entre as operações matemáticas básicas da divisão e os processos históricos de unidade e cisma para oferecer uma reflexão sobre o papel do cristianismo na agregação dos homens por meio da verdade.
2. O dividendo como multiplicação pela partilha
O termo "dividendo" é aqui compreendido não em seu uso financeiro comum, mas como a parte que se oferece para divisão, simbolizando a generosidade espiritual. Nos méritos de Cristo, dividir é multiplicar, pois a partilha do que é verdadeiro e justo leva à agregação. Essa é a lógica do Evangelho: "Dai, e dar-se-vos-á" (Lc 6,38). A unidade cristã, portanto, é fruto da partilha do bem comum, da verdade e da fidelidade às exigências da caridade.
3. O Divisor: A subtração fundada no fato de se conservar o que é conveniente e dissociado da verdade
O divisor representa aqui aquele que causa cisma, que separa o que era uno, ao conservar o que lhe é conveniente, mas dissociado da verdade. Esse movimento subtrativo é bem ilustrado pelo racha histórico entre judeus e cristãos, no qual a recusa em reconhecer a plenitude da Revelação em Cristo gerou uma fratura espiritual. Como afirma Bento XVI:
"A separação entre a Sinagoga e a Igreja não foi apenas um processo histórico inevitável, mas um drama espiritual que ainda necessita de cura" (Jesus de Nazaré, 2007).
4. O Quociente: Análise Dialética do Fenômeno
O quociente, nesta analogia, é o resultado da divisão: o que sobra de compreensão após o encontro entre o dividendo (partilha) e o divisor (cisma). Ele representa o exame dialético do fenômeno: o discernimento. Inspirado em Hegel (cf. Fenomenologia do Espírito), este ponto revela que a história é movimento entre tese e antítese, cuja resultante é o quociente: a consciência histórica do conflito.
5. O Resto: Síntese entre Tese e Antítese
O resto é aquilo que resiste à lógica puramente racional: o excedente da divisão, que exige uma nova integração. Representa a síntese, não como solução final, mas como campo de possibilidade para a reconciliação. É no resto que se manifesta a misericórdia, pois é ele que dá oportunidade para a unidade futura:
"Os pedaços que sobraram encheram doze cestos" (Jo 6,13).
6. Conclusão
A divisão, nos méritos de Cristo, não é destruição, mas um modo de purificar e reorganizar a unidade. O dividendo que parte da verdade agrega. O divisor que conserva o erro subtrai. O quociente revela a estrutura do conflito. E o resto guarda a esperança da reconciliação final. Essa dialética entre partilha e cisma, discernimento e redenção, é o modo como a história se move na direção do Reino.
Bibliografia
BENTO XVI. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1992.
SANTO AGOSTINHO. De vera religione. In: Obras completas de Santo Agostinho. Lisboa: Edições 70.
SAGRADA ESCRITURA. Tradução da CNBB. São Paulo: Paulus, 2002.
SÃOTOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Lisboa: Edições Loyola, vários volumes.
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