Há situações aparentemente banais que, quando bem examinadas, revelam um campo espiritual de batalha em plena atividade. Uma delas é o momento em que um aluno deixa de prestar atenção à aula para prestar atenção demasiada à professora. Parece inofensivo, até simpático, mas pode ser a armadilha perfeita para a perda da finalidade, da pureza e do foco. E, o que é mais grave, da graça.
Quem entra numa sala de aula entra com um propósito: aprender. Esse é o fim legítimo de estar ali, e tudo que contribui para isso é bom. O conteúdo transmitido, a metodologia empregada, os exemplos utilizados — tudo serve ao crescimento intelectual do aluno. A figura do professor, ainda que humana e marcada por traços próprios, deve ser percebida como instrumento da Verdade, e não como objeto de afeição desordenada.
Contudo, quando a atenção se desloca do conteúdo para o corpo, o sorriso, o olhar ou a postura da professora, não estamos mais no território da educação, mas da distração. E essa distração não é neutra: é uma brecha espiritual. O diabo é mestre em usar o bem aparente para nos afastar do bem verdadeiro. Ele não aparece com chifres, mas com encantos. E muitos que entram numa sala para estudar, saem de lá apaixonados — não pelo saber, mas por quem o transmite.
Isso não quer dizer que seja errado admirar a beleza ou a simpatia de alguém. O problema não está na beleza, mas no lugar que ela ocupa dentro de nós. Quando a beleza de uma mulher — ainda mais investida de autoridade docente — começa a ocupar o lugar que pertence à Verdade ensinada, houve uma inversão da ordem dos afetos. E onde há desordem, há perigo. São Tomás de Aquino ensina que o pecado não é senão a desordem da vontade. Assim, prestar mais atenção à professora do que ao conteúdo da aula pode ser o início de um processo de queda.
O mais prudente, nesses casos, é reconhecer a fraqueza. Se a presença da professora se torna ocasião de pecado — por pensamentos impuros, distrações constantes, ou afetos desordenados —, é melhor “pular fora”, como diz a sabedoria popular. Em termos espirituais, isso se chama fuga das ocasiões de pecado. Não se trata de covardia, mas de inteligência espiritual. Como disse São Filipe Néri: "Na guerra contra a carne, o único valente é o covarde que foge."
Muitos jovens, hoje, perderam o senso da batalha interior. Acham que resistir à tentação é simplesmente “ignorar”. Mas a tentação é sutil. Ela começa como admiração, se alimenta da imaginação, se transforma em excitação e termina, não raro, em pecado. Não há vitória possível sem vigilância constante e humildade para reconhecer os próprios limites.
A sala de aula é um lugar sagrado quando se busca a verdade com pureza de intenção. Mas se o coração não está educado, ela se torna campo minado. Que o estudante reze, estude e mantenha a ordem dos afetos. Que veja em cada aula uma oportunidade de crescer na sabedoria, não de se perder em vãs imaginações. E que, se for preciso, fuja — como José do Egito fugiu da mulher de Potifar — para preservar a integridade da alma.
Porque, no fim das contas, o diabo não quer apenas te distrair. Ele quer te desviar. E para isso, basta uma professora bonita — e um coração que já não sabe mais por que entrou naquela sala.
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