Em tempos em que o termo “obra-prima” é banalizado — aplicado indistintamente a filmes, romances e até mesmo campanhas publicitárias —, é necessário resgatar seu significado mais profundo. Obra-prima não é apenas uma realização estética superior, nem tampouco uma expressão genial isolada. A verdadeira obra-prima é aquela que revela, de maneira decisiva e incontornável, os princípios que regem determinada realidade. É aquela cuja ignorância torna o indivíduo menos preparado para a vida em sociedade e para o cumprimento de sua vocação enquanto ser humano.
A obra-prima é, por assim dizer, uma lente de acesso ao real. Ela não se limita a embelezar o mundo, mas o expõe em sua estrutura mais íntima, revelando tanto o visível quanto o invisível. Seu valor transcende o tempo, as modas e os regimes. Ela continua falando quando os impérios caem e as ideologias morrem. Sua permanência é sinal de que toca em algo essencial e fundante.
A Bíblia, neste sentido, é a obra-prima por excelência. Desconhecê-la é desconhecer os fundamentos da vida fundada na conformidade com o Todo, que é Deus. É não compreender o que significa justiça, sacrifício, redenção, aliança, amor e promessa. É ignorar a própria história da civilização ocidental, que se constituiu sobre os pilares da Revelação. A Bíblia não é apenas um livro religioso: é um eixo interpretativo da realidade. Na tradição católica, ela se une à vida sacramental da Igreja como Palavra viva — não apenas lida, mas vivida, incorporada.
Outras obras-primas, em diversos campos, compartilham essa mesma natureza: tornam-se imprescindíveis não por convenção, mas por exigência interior da realidade que elas desvelam. Em filosofia, por exemplo, não se pode compreender o pensamento ocidental sem confrontar-se com Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Em literatura, não se pode pensar o espírito europeu sem Dante, Cervantes ou Shakespeare. Em história, não se compreende o mundo moderno sem entender o papel da Bíblia, da Igreja e da Cristandade.
Portanto, uma obra-prima é aquela que educa a inteligência, forma o juízo e conforma o ser à realidade. É aquela que nos prepara para a vida — não a vida consumista ou técnica, mas a vida vivida à luz da verdade. É aquela que, mesmo lida apenas uma vez, nunca nos abandona. E cuja ausência, por outro lado, nos torna mais frágeis, mais manipuláveis e menos humanos.
Por isso, formar-se através das verdadeiras obras-primas não é uma opção elitista, mas uma urgência moral. Quem não as conhece vive à mercê da confusão do tempo presente. Quem as conhece passa a enxergar o mundo com os olhos da eternidade.
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