Em tempos de crise civilizacional, poucos sintomas são tão alarmantes quanto a substituição dos melhores — os verdadeiramente preparados — por figuras grotescamente inadequadas para os cargos que ocupam. Essa é uma realidade que atravessa fronteiras e sistemas políticos, e que, de maneira emblemática, pode ser descrita por duas palavras de origens distintas, mas de sentido convergente: pierwszoklasista, em polonês, e subginasiano, na linguagem do professor Olavo de Carvalho.
O que é um pierwszoklasista?
No uso cotidiano da língua polonesa, pierwszoklasista refere-se a uma criança que acaba de ingressar no ensino fundamental — o equivalente a um aluno da primeira série. Trata-se, portanto, de alguém em fase inicial de formação, inexperiente, imaturo, e naturalmente limitado por sua idade e vivência. No entanto, quando transposto para o campo político, cultural ou institucional, esse termo pode adquirir uma carga crítica: um pierwszoklasista simbólico é aquele que, embora ocupe um posto de responsabilidade, possui uma mentalidade e uma estrutura cognitiva que mal superaram os rudimentos da educação básica.
O conceito olaviano de subginasiano
Já no Brasil, o filósofo Olavo de Carvalho cunhou o termo subginasiano para designar indivíduos que não atingiram sequer o nível de formação esperado de um estudante de ginásio (o antigo ensino fundamental). São pessoas que não dominam os fundamentos do raciocínio lógico, da linguagem ou do conhecimento histórico, mas que, mesmo assim, são promovidas a posições de autoridade — seja na mídia, nas universidades, na política ou mesmo na Igreja.
Olavo não se limitava à crítica das ideias desses personagens: sua denúncia era contra a própria inversão de critérios que permitia que tais pessoas alcançassem tamanha projeção. Em um mundo ordenado pela verdade, dizia ele, os melhores ocupariam os cargos mais altos; mas em um mundo governado pela mentira, são os medíocres, os deformados e os arrogantes que ascendem ao topo.
A convergência dos termos
O que une o pierwszoklasista simbólico e o subginasiano é justamente esse abismo entre o cargo e a capacidade. A criança na sala de aula está exatamente onde deveria estar. O problema é quando alguém com mentalidade de criança ocupa o ministério da educação. O pierwszoklasista se torna então a imagem de uma elite infantilizada, que opera com categorias simplistas, incapaz de enxergar a complexidade dos problemas que deveria resolver. Age com o emocionalismo de um aluno mimado e toma decisões com o discernimento de um principiante.
Já o subginasiano, na concepção olaviana, é mais do que infantil: ele é resultado de um colapso educacional e espiritual. Muitas vezes, trata-se de alguém orgulhoso de sua ignorância, incapaz de reconhecer os próprios limites, mas extremamente habilidoso em manipular os códigos de aparência — o diploma, o jargão, o politicamente correto — para mascarar sua vacuidade.
O preço da inversão
Essa substituição dos melhores pelos piores não é apenas uma tragédia intelectual: é um perigo civilizacional. Quando as elites são compostas por pierwszoklasiści e subginasianos, toda a estrutura social começa a ruir. A verdade se torna irrelevante, a virtude é substituída pela vaidade, e a competência cede espaço ao populismo, à demagogia ou ao servilismo ideológico.
No fundo, trata-se de um problema de lealdade: as elites deveriam ser leais à verdade, ao bem comum e à missão transcendente de servir a algo maior do que elas mesmas. Mas quando são formadas por indivíduos que nunca amadureceram intelectualmente — nem moralmente —, essa lealdade se dilui e cede lugar à conveniência pessoal, ao carreirismo e à manipulação emocional das massas.
A resposta
A resposta a essa infantilização das elites não está em mais tecnocracia, nem em fórmulas mágicas de gestão. Está, antes, no resgate de uma verdadeira formação — espiritual, moral, intelectual. Precisamos de homens e mulheres que tenham ultrapassado as fases da educação infantil, não apenas no sentido escolar, mas no sentido profundo: que tenham aprendido a pensar, a discernir e a sacrificar-se por algo maior.
Em outras palavras: precisamos expulsar os pierwszoklasiści simbólicos dos cargos de chefia, e formar uma nova geração de adultos, no mais elevado sentido da palavra — adultos intelectuais, espirituais, morais. Gente que compreenda o peso e a natureza do cargo que ocupa, e que não transforme a vida pública numa sala de recreação.
Bibliografia Recomendada
1. Olavo de Carvalho — "O Imbecil Coletivo"
Um dos livros mais importantes para compreender a crítica olaviana à degradação intelectual da elite brasileira. É aqui que ele expõe com mais vigor o conceito de subginasiano e a inversão de critérios que domina a vida universitária, jornalística e política.
2. Olavo de Carvalho — "O Jardim das Aflições"
Neste livro, Olavo mapeia as raízes filosóficas da crise ocidental, conectando o colapso das elites ao abandono da filosofia realista e da ordem espiritual. Ajuda a entender o pano de fundo metafísico da infantilização das instituições.
3. Josiah Royce — "A Filosofia da Lealdade"
Obra recomendada por Olavo de Carvalho como antídoto à desagregação moderna. Royce propõe que a lealdade a causas superiores é a base da coesão social e da formação do caráter. Essencial para entender o que se espera de uma elite legítima.
4. Christopher Lasch — "A Rebelião das Elites"
Uma análise sociológica contemporânea sobre como as elites deixaram de servir à sociedade para servir a si mesmas. Lasch antecipa a ideia de uma elite emocionalmente infantilizada e descomprometida com o bem comum.
5. Julien Benda — "A Traição dos Intelectuais"
Um clássico que denuncia a politização dos intelectuais e sua traição ao ideal do pensamento desinteressado. Ilustra como os pierwszoklasiści simbólicos surgem quando a autoridade se divorcia da verdade.
6. Antoine de Saint-Exupéry — "O Pequeno Príncipe" (leitura simbólica)
Embora seja uma obra infantil, O Pequeno Príncipe mostra com sensibilidade como a mentalidade da infância precisa ser superada para alcançar a responsabilidade do amor, da verdade e da missão — ideias que, de forma inversa, são violadas pela elite infantilizada.
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