Cheguei à conclusão de que, para estudar processo civil de verdade, eu teria que seguir um caminho próprio — e esse caminho não estava em nenhum dos professores de Direito Processual Civil que conheci. Todos eram tecnicistas. Falavam de prazos, recursos, procedimentos, jurisprudência, mas não me ajudavam a compreender o essencial: o sentido profundo daquilo que estávamos estudando.
A virada de chave se deu com Olavo de Carvalho. Foi ele quem me ensinou, com sua autoridade de mestre, que o mais importante é estudar a realidade. Parece simples, quase banal, mas essa constatação me deslocou por inteiro do paradigma jurídico universitário. A realidade não cabe nos esquemas formais do Direito Positivo, e muito menos no tecnicismo que separa a norma da vida. Quando se perde o contato com a realidade, todo o conhecimento jurídico vira um jogo de linguagem sem alma, a ponto de criar uma teoria geral sobre o nada, no lugar de uma Teoria Geral do Processo.
Com Olavo, entendi que o processo civil não é apenas um conjunto de regras para solucionar conflitos — é, antes de tudo, uma tentativa humana de buscar a justiça. E justiça supõe verdade. A verdade real dos fatos. A verdade das intenções. A verdade como fundamento da liberdade, que por sua vez aponta para Deus.
Comecei então a estudar o processo com outros olhos. Não mais como um instrumento neutro, mas como um drama humano onde se decide o destino de pessoas reais. O juiz, nesse novo olhar, não é apenas um funcionário da lei, mas alguém diante de uma responsabilidade tremenda: fazer justiça sem deixar de ser justo. O processo, por sua vez, não é apenas um ritual, mas uma via dolorosa em busca da verdade possível.
Foi por isso que percebi que eu não poderia aprender processo civil sem antes (ou ao menos ao mesmo tempo) estudar filosofia do Direito, história e economia. Essas três disciplinas me deram as chaves para entender o processo como ele é: um fenômeno jurídico, sim, mas também histórico, político, cultural e moral. Um campo de batalha onde se joga não só o interesse das partes, mas o próprio senso de justiça de uma sociedade.
Meus professores, bons em suas técnicas, nunca me ensinaram isso. Talvez porque eles mesmos não sabiam. Ou talvez porque o tecnicismo lhes parecia suficiente. Mas para mim, que busco a verdade, nunca foi. Pois sei que a verdade é o fundamento da liberdade — e a liberdade, se for verdadeira, conduz àquele que é a própria Verdade: Deus em pessoa.
Hoje, continuo estudando processo civil, mas agora com outra disposição interior. Não busco dominar o código, mas servir à justiça. Não procuro atalhos para aprovações, mas caminhos que me levem à contemplação da ordem justa das coisas. E se um dia eu for chamado a julgar, a advogar ou a ensinar, espero fazê-lo com a seguinte consciência: de que todo processo é, no fundo, uma pequena luta pela verdade — e que sem verdade, não há justiça. Sem justiça, não há liberdade. E sem liberdade, não há sequer humanidade.
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