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sábado, 15 de novembro de 2025

Pré-colombianismo mental e a crise civilizacional latino--americana: entre o eixo ouriqueano e o quincunx koneczniano

1. Introdução

A América Latina contemporânea enfrenta um processo de degradação civilizacional que não pode ser explicado apenas por categorias econômicas ou políticas. O núcleo da crise é antropológico e espiritual. Ela se manifesta como regressão da consciência — um retorno a estágios pré-racionais, pré-políticos e pré-civilizacionais.

É nesse contexto que surge o conceito de pré-colombianismo mental, que designa não um período histórico, mas um estado psicológico. Define um tipo humano incapaz de assumir responsabilidades, pensar causalmente, operar com hierarquias ou reconhecer verdades transcendentais — características que o aproximam mais do estágio pré-escolar do que de qualquer civilização histórica.

A análise dessa regressão só ganha profundidade quando integrada a:

  1. Ourique – como momento de fundação de uma consciência cristã-hierárquica que deu forma ao Império Português e, por extensão, ao Brasil.

  2. Koneczny – cuja teoria das civilizações fornece a chave para compreender a degeneração quando a ordem superior (civilização latina/católica) é abandonada e substituída por formas sociais inferiores.

  3. Olavo de Carvalho – que descreveu a infantilização intelectual moderna através do conceito de subginasiano.

  4. Ortega y Gasset – que analisou o homem-massa e a perda da continuidade histórica.

A partir dessas matrizes, o presente artigo expande o conceito de pré-colombianismo mental e o contextualiza como sintoma da guerra cultural e espiritual que marca o século XXI.

2. O caminho da regressão: de Ourique ao pré-colombianismo mental

2.1. Ourique como arquétipo civilizacional

Ourique não é apenas um evento militar; é uma estrutura espiritual.

Ali:

  • a Autoridade é legitimada por Deus;

  • a política é compreendida como serviço;

  • o rei jura defender a Cristandade;

  • o povo português adquire consciência de missão;

  • e nasce a forma mentis que gerou o Império Ultramarino.

Ourique, portanto, é:

  • hierarquia,

  • sacralidade,

  • transcendência,

  • responsabilidade,

  • e universalidade.

É exatamente essa forma mentis que a América Latina perdeu.

2.2. A ruptura pós-independência

Quando os novos Estados latino-americanos rejeitaram o eixo Ouriqueano (hierarquia–missão–Cristandade), substituindo-o por ideologias laicas (positivismo, iluminismo de terceira mão, marxismo tropical), houve uma queda de nível civilizacional — no sentido preciso de Koneczny.

Koneczny afirma:

“Uma civilização superior pode decair quando adota métodos próprios de civilizações inferiores.”
(O pluralismo das civilizações)

Foi o que ocorreu:
o ethos católico ibérico foi trocado por sistemas artificiais incapazes de estruturar sociedades complexas.

2.3. Da perda do eixo ao colapso da personalidade

Ortega y Gasset ensinou:

“Eu sou eu e minha circunstância.”
(Meditaciones del Quijote)

Quando a circunstância civilizacional (Ourique → Cristandade → Império → tradição luso-hispânica) é destruída, o indivíduo é incapaz de formar personalidade.

Sem tradição, ele torna-se o homem-massa.

Sem Ourique, ele torna-se o pré-colombiano mental.

3. O subginasiano olaviano como estágio intermediário

Olavo denominou de subginasianos os pseudointelectuais universitários que:

  • não leem,

  • não raciocinam,

  • repetem slogans,

  • e ostentam diplomas como substituto de conhecimento.

O subginasiano é o filho direto do colapso cultural universitário brasileiro (e latino-americano). Ele está acima da barbárie tribal, mas abaixo da civilização — uma ponte mal formada.

O pré-colombiano mental, porém, é mais radical.

4. O pré-colombianismo mental: definição aprofundada

O pré-colombiano mental não equivale às grandes civilizações pré-colombianas (astéca, inca, maia), que eram complexas e organizadas. Ele representa uma regressão ao estágio pré-lógico da consciência.

4.1. Características centrais

a) Pensamento mágico infantil

Causalidade é substituída por desejo. Realidade é substituída por narrativa.

b) Tribalismo emocional

Política não é busca do bem comum, mas guerra entre clãs ideológicos.

c) Pessoalidade pré-moral

Não há responsabilidade. Tudo é culpa do colonizador, do imperialismo, da “elite”, dos outros.

d) Inaptidão para racionalidade

Fatos são negociáveis. Contradições não incomodam.

e) Idolatria do líder-pai

Busca-se alguém que pense e aja pelo indivíduo. Koneczny classificaria essa mentalidade como tipicamente turaniana: coletivista, emocional, a-histórica, personalista e incapaz de criar instituições estáveis.

5. A leitura koneczniana da regressão latino-americana

Segundo Feliks Koneczny, as civilizações se distinguem por seu modo de organizar a vida (quincunx):

  • Verdade

  • Bondade

  • Beleza

  • Prosperidade

  • Saúde

A civilização latina (católica) equilibra essas dimensões e as orienta pela moral objetiva. Já as civilizações inferiores (turaniana, judaica clássica, asiáticas politizadas, civilizações “mágicas”) subordinam a moral ao poder, ao Estado ou à emoção.

Quando a América Latina abandona:

  • a verdade objetiva,

  • a hierarquia moral,

  • a transcendência,

  • e o ethos cristão,

ela decai para uma forma subcivilizacional.

Koneczny diria que o pré-colombiano mental é o produto:

  • de uma civilização latina mutilada,

  • invadida por elementos turanianos (autoritarismo emocional),

  • e mágica (pensamento afetivo).

6. A guerra cultural e espiritual do século XXI

A batalha política atual não é entre esquerda e direita. É entre:

  • consciência cristã (Ourique)
    e

  • pré-colombianismo mental (regressão civilizacional).

Por iss, trata-se de um combate espiritual, com meios culturais, legais, informacionais e psicológicos — exatamente como se vê no lawfare e na guerra híbrida.

A América Latina tornou-se um teatro de guerra entre:

  • o resíduo da Cristandade (hierarquia, responsabilidade, verdade),

  • e a nova infantilização tribal (magia política, ressentimento, personalismo).

7. Caminhos de superação

A superação exige:

7.1. Reconectar-se ao eixo Ouriqueano

Isso significa:

  • restaurar a ideia de missão,

  • recuperar a sacralidade da autoridade,

  • introduzir disciplina espiritual,

  • e recolocar Cristo no centro da vida política, cultural e pessoal.

7.2. Restaurar o quincunx koneczniano

Isso implica:

  • verdade como fundamento da liberdade,

  • moral objetiva como base do direito,

  • prioridade da pessoa sobre o Estado,

  • prosperidade subordinada à justiça,

  • e saúde entendida como harmonia antropológica.

7.3. Combater a infantilização intelectual

Por meio de:

  • digitalização do patrimônio,

  • republicação de obras fundamentais,

  • reconstrução da educação moral,

  • e meios de ação culturais (Olavo).

8. Conclusão

O pré-colombianismo mental não é um fenômeno sociológico, mas espiritualmente estrutural. Ele é o estágio final da perda da tradição Ouriqueana e da degeneração da civilização latina, conforme descrito por Koneczny.

A América Latina só poderá emergir deste ciclo regressivo se:

  • restaurar sua consciência cristã,

  • recuperar sua memória histórica,

  • reconectar-se ao Império espiritual que a gerou,

  • e reconstruir a personalidade humana contra o homem-massa.

É uma batalha que exige inteligência, disciplina e fé — mas sobretudo, verdade, que é o fundamento da liberdade.

Bibliografia

1. Civilização e Ourique

  • Herculano, Alexandre. História de Portugal.

  • Mattoso, José. Identificação de um País.

  • Saraiva, José Hermano. História Concisa de Portugal.

  • Oliveira Martins, Joaquim Pedro de. Os Filhos de D. João I.

  • Carvalho, Olavo de. O Jardim das Aflições (capítulos sobre Império e transcendência).

2. Feliks Koneczny

  • Koneczny, F. O pluralismo das civilizações.

  • ———. On the Plurality of Civilizations (tradução inglesa).

  • ———. Państwo i prawo w cywilizacji łacińskiej.

  • ———. Cywilizacja bizantyjska.

  • ———. O wielości cywilizacyj.

  • Chodakiewicz, Marek Jan. Intermarium: The Land Between the Black and Baltic Seas (contextualiza Koneczny).

  • Bartyzel, Jacek. Myśl polityczna Feliksa Konecznego.

3. Olavo de Carvalho

  • Carvalho, Olavo de. O Mínimo que Você Precisa Para Não Ser um Idiota.

  • ———. Aristóteles em Nova Perspectiva.

  • ———. A Nova Era e a Revolução Cultural.

  • ———. A Coletânea dos Seminários de Filosofia.

4. Ortega y Gasset

  • Ortega y Gasset, José. Meditaciones del Quijote.

  • ———. La Rebelión de las Masas.

  • ———. El Espectador.

5. Filosofia política e história ibérica

  • Marías, Julián. Historia de la Filosofía.

  • Bello, Andrés. Filosofia del Entendimiento.

  • García Pelayo, Manuel. Derecho Constitucional Comparado.

  • Juan Donoso Cortés. Ensayo sobre el catolicismo, el liberalismo y el socialismo.

6. Civilização cristã e direito natural

  • Tomás de Aquino, Suma Teológica (especialmente I-II e II-II).

  • Pieper, Josef. The Four Cardinal Virtues.

  • Ratzinger, Joseph. A Europa de Bento XVI.

  • Guardini, Romano. O Fim da Era Moderna.

7. Sociologia da regressão

  • Barzun, Jacques. From Dawn to Decadence.

  • Christopher Lasch. The Culture of Narcissism.

  • Allan Bloom. The Closing of the American Mind.

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