Resumo
Este artigo examina como o conservadorismo cristão brasileiro — especialmente após 2018 — se tornou uma mescla instável de elementos civilizacionais inconciliáveis: protestantismo pentecostal norte-americano, sionismo cristão, moralismo iluminista maçônico e retórica política nacional populista. À luz de Feliks Koneczny, demonstra-se que esse fenômeno não representa a continuidade da civilização latino-cristã do Brasil, mas a sua dissolução.
Ao mesmo tempo, analisa-se a crítica de Gustavo Barroso ao papel da maçonaria e sua relação com o sionismo, mostrando onde ele estava certo (quanto ao caráter anticatólico e iluminista da maçonaria, sua presença em setores protestantes e sua influência em movimentos nacionalistas modernos) e onde ele estava errado (a ideia de que a maçonaria seria “judaica”, o que não corresponde à história).
O resultado é uma leitura civilizacional rigorosa, onde se explica por que o “conservadorismo cristão” brasileiro não conserva Cristo — conserva conveniências ideológicas desconexas de nossa tradição ibérica.
1. Ideologia não tem força civilizacional: Olavo e Koneczny convergem
Olavo de Carvalho afirmava:
“Socialismo, liberalismo e conservadorismo cristão são ideologias.
Ideologias confundem tudo.”
Feliks Koneczny afirmava algo equivalente:
Civilizações são sistemas orgânicos; ideologias são construções artificiais. Não é possível viver segundo duas civilizações ao mesmo tempo.
Assim, quando o conservadorismo brasileiro — por influência dos EUA — assume uma forma ideológica (“conservadorismo cristão”), ele se afasta da própria tradição civilizacional brasileira.
O erro fundamental foi este: o Brasil é latino ecristão (Roma + Igreja). O modelo de conservadorismo que se adotou é americano e protestante (Bíblia literal + sionismo + iluminismo moralista). Não há compatibilidade estrutural entre essas duas formas civilizacionais.
2. O protestantismo político como elemento externo à civilização brasileira
Com a ascensão do bolsonarismo, um fenômeno novo emergiu no Brasil:
-
a política passou a ser guiada por
-
escatologia protestante,
-
sionismo cristão,
-
culto ao “ungido”,
-
guerra espiritual,
-
leitura literal da Bíblia,
-
rejeição ao sacramento e à tradição.
-
Para Koneczny, isso significa:
Adoção de normas morais e religiosas de outra civilização.
A civilização brasileira tem raízes:
-
ibéricas,
-
católicas,
-
romanas,
-
sacramentais,
-
jurídicas,
-
universais.
Nada disso está presente na matriz evangélica americana, que é:
-
bíblico-literal,
-
anti-sacramental,
-
individualista,
-
emocional,
-
escatológica,
-
e profundamente vinculada a uma teologia política de Israel moderna.
Essa importação criou uma ruptura civilizacional.
3. O sionismo cristão no Brasil: um fenômeno extracivilizacional
Segundo Koneczny, uma civilização se define por seu modo de:
-
fundamentar a moral,
-
estruturar o direito,
-
organizar as esferas da vida,
-
conceber o universal e o particular,
-
entender a relação entre fé e política.
O sionismo cristão — isto é, o apoio político-religioso a Israel por motivos escatológicos — não pertence à civilização latina-cristã.
Pertence a outra matriz civilizacional:
-
protestantismo anglo-saxão,
-
interpretação literal do Antigo Testamento,
-
teologia dispensacionalista,
-
crença na reconstrução do Terceiro Templo como gatilho escatológico,
-
fusão entre política exterior e expectativa escatológica.
Na civilização católica:
-
o Antigo Testamento é lido tipologicamente,
-
Jerusalém é figura de Cristo e da Igreja,
-
o Templo é superado na cruz,
-
a Nova Aliança substitui a Antiga,
-
e a política não é instrumento de profecias apocalípticas.
Portanto, o sionismo cristão brasileiro é um corpo estranho à forma de vida do Brasil.
4. A maçonaria: correções históricas necessárias
4.1. Onde Gustavo Barroso estava certo e rigorosamente correto
Gustavo Barroso identificou com precisão:
-
a hostilidade doutrinária da maçonaria ao catolicismo,
-
sua vinculação ao ideal iluminista,
-
seu caráter racionalista e anticlerical,
-
sua influência no liberalismo político brasileiro e português,
-
e sua penetração em setores protestantes (sobretudo batistas e metodistas).
Nesse sentido, Barroso está correto: a maçonaria é um vetor cultural antilatino e anticatólico, contrário ao ethos civilizacional brasileiro.
4.2. Onde Barroso estava errado (e onde o artigo corrige)
O equívoco de Barroso foi afirmar que a maçonaria é “judaica”.
Historicamente:
-
ela nasceu na Inglaterra protestante (Loja de Londres, 1717),
-
sua ideologia é iluminista e deísta,
-
seus símbolos são sincréticos,
-
seus membros sempre foram majoritariamente protestantes e racionalistas,
-
sua estrutura é moderna, não bíblica.
Portanto, a maçonaria não é judaica, mas: é uma criação da modernidade anticatólica que destruiu a unidade da civilização latina. Barroso identificou corretamente o inimigo político, mas atribuiu-lhe uma genealogia incorreta.
5. A mistura explosiva no Brasil: protestantismo + maçonaria + sionismo
Esta é a parte crucial:
5.1. Elemento 1 — Protestantismo pentecostal
Importa símbolos e moral de outra civilização.
5.2. Elemento 2 — Maçonaria iluminista
Introduz racionalismo moral, anti-sacramentalismo e anticlericalismo.
5.3. Elemento 3 — Sionismo cristão
Introduce teleologia escatológica estrangeira e subordinação espiritual a Israel moderno.
Quando esses três elementos se fundem, produzem:
-
nacionalismo emocional,
-
teologia política sem tradição,
-
leitura bíblica literalista,
-
rejeição da filosofia e da patrística,
-
ruptura com Roma,
-
culto ao “Estado de Israel” como mediador da história,
-
esvaziamento da tradição católica brasileira.
Para Koneczny, isso é: a destruição da civilização latina por contaminação de normas civilizacionais externas. É exatamente o que ele chamava de mixofenia moral: quando uma sociedade tenta viver segundo normas de duas ou mais civilizações simultaneamente — isso é algo impossível.
6. O resultado: um “conservadorismo” que não conserva a dor de Cristo
O conservadorismo cristão brasileiro, influenciado por:
-
televangelistas americanos,
-
teologia dispensacionalista,
-
sionismo cristão,
-
pastores ligados à maçonaria,
-
moralismo iluminista,
-
culto político,
-
e leitura superficial da Bíblia,
acabou se tornando:
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antitradicional,
-
anticivilizacional,
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antilatino,
-
anticatolico,
-
anti-omano,
-
e profundamente ideológico.
É por isso que Olavo disse:
“Conservadorismo cristão é ideologia.”
E é por isso que Koneczny diria:
“A civilização latina não pode florescer sob normas de origem protestante e iluminista; muito menos sob escatologia americana.”
7. Conclusão: como restaurar a forma civilizacional brasileira
A solução não é:
-
liberalismo,
-
conservadorismo americano,
-
maçonaria,
-
sionismo cristão,
-
teologia da prosperidade.
A solução é:
A. Recuperar a tradição latino-cristã
Roma + Igreja + Direito natural.
B. Rejeitar a mistura de civilizações
Protestantes e católicos podem conviver, mas não podem fundir suas matrizes civilizacionais.
C. Retomar a filosofia e a patrística
Contra o emocionalismo e o literalismo.
D. Abandonar a escatologia política importada
Brasil não é peça da profecia americana.
E. Restaurar a consciência civilizacional brasileira
Que é ibérica, romana, católica e universalista.
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