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domingo, 16 de novembro de 2025

A confusão civilizacional do conservadorismo brasileiro: Koneczny, Olavo, sionismo, maçonaria e a ruptura com a tradição latina

Resumo

Este artigo examina como o conservadorismo cristão brasileiro — especialmente após 2018 — se tornou uma mescla instável de elementos civilizacionais inconciliáveis: protestantismo pentecostal norte-americano, sionismo cristão, moralismo iluminista maçônico e retórica política nacional populista. À luz de Feliks Koneczny, demonstra-se que esse fenômeno não representa a continuidade da civilização latino-cristã do Brasil, mas a sua dissolução.

Ao mesmo tempo, analisa-se a crítica de Gustavo Barroso ao papel da maçonaria e sua relação com o sionismo, mostrando onde ele estava certo (quanto ao caráter anticatólico e iluminista da maçonaria, sua presença em setores protestantes e sua influência em movimentos nacionalistas modernos) e onde ele estava errado (a ideia de que a maçonaria seria “judaica”, o que não corresponde à história).

O resultado é uma leitura civilizacional rigorosa, onde se explica por que o “conservadorismo cristão” brasileiro não conserva Cristo — conserva conveniências ideológicas desconexas de nossa tradição ibérica.

1. Ideologia não tem força civilizacional: Olavo e Koneczny convergem

Olavo de Carvalho afirmava:

“Socialismo, liberalismo e conservadorismo cristão são ideologias.
Ideologias confundem tudo.”

Feliks Koneczny afirmava algo equivalente:

Civilizações são sistemas orgânicos; ideologias são construções artificiais. Não é possível viver segundo duas civilizações ao mesmo tempo.

Assim, quando o conservadorismo brasileiro — por influência dos EUA — assume uma forma ideológica (“conservadorismo cristão”), ele se afasta da própria tradição civilizacional brasileira.

O erro fundamental foi este: o Brasil é latino ecristão (Roma + Igreja). O modelo de conservadorismo que se adotou é americano e protestante (Bíblia literal + sionismo + iluminismo moralista). Não há compatibilidade estrutural entre essas duas formas civilizacionais.

2. O protestantismo político como elemento externo à civilização brasileira

Com a ascensão do bolsonarismo, um fenômeno novo emergiu no Brasil:

  • a política passou a ser guiada por

    • escatologia protestante,

    • sionismo cristão,

    • culto ao “ungido”,

    • guerra espiritual,

    • leitura literal da Bíblia,

    • rejeição ao sacramento e à tradição.

Para Koneczny, isso significa:

Adoção de normas morais e religiosas de outra civilização.

A civilização brasileira tem raízes:

  • ibéricas,

  • católicas,

  • romanas,

  • sacramentais,

  • jurídicas,

  • universais.

Nada disso está presente na matriz evangélica americana, que é:

  • bíblico-literal,

  • anti-sacramental,

  • individualista,

  • emocional,

  • escatológica,

  • e profundamente vinculada a uma teologia política de Israel moderna.

Essa importação criou uma ruptura civilizacional.

3. O sionismo cristão no Brasil: um fenômeno extracivilizacional

Segundo Koneczny, uma civilização se define por seu modo de:

  • fundamentar a moral,

  • estruturar o direito,

  • organizar as esferas da vida,

  • conceber o universal e o particular,

  • entender a relação entre fé e política.

O sionismo cristão — isto é, o apoio político-religioso a Israel por motivos escatológicos — não pertence à civilização latina-cristã.

Pertence a outra matriz civilizacional:

  • protestantismo anglo-saxão,

  • interpretação literal do Antigo Testamento,

  • teologia dispensacionalista,

  • crença na reconstrução do Terceiro Templo como gatilho escatológico,

  • fusão entre política exterior e expectativa escatológica.

Na civilização católica:

  • o Antigo Testamento é lido tipologicamente,

  • Jerusalém é figura de Cristo e da Igreja,

  • o Templo é superado na cruz,

  • a Nova Aliança substitui a Antiga,

  • e a política não é instrumento de profecias apocalípticas.

Portanto, o sionismo cristão brasileiro é um corpo estranho à forma de vida do Brasil.

4. A maçonaria: correções históricas necessárias

4.1. Onde Gustavo Barroso estava certo e rigorosamente correto

Gustavo Barroso identificou com precisão:

  • a hostilidade doutrinária da maçonaria ao catolicismo,

  • sua vinculação ao ideal iluminista,

  • seu caráter racionalista e anticlerical,

  • sua influência no liberalismo político brasileiro e português,

  • e sua penetração em setores protestantes (sobretudo batistas e metodistas).

Nesse sentido, Barroso está correto: a maçonaria é um vetor cultural antilatino e anticatólico, contrário ao ethos civilizacional brasileiro.

4.2. Onde Barroso estava errado (e onde o artigo corrige)

O equívoco de Barroso foi afirmar que a maçonaria é “judaica”.

Historicamente:

  • ela nasceu na Inglaterra protestante (Loja de Londres, 1717),

  • sua ideologia é iluminista e deísta,

  • seus símbolos são sincréticos,

  • seus membros sempre foram majoritariamente protestantes e racionalistas,

  • sua estrutura é moderna, não bíblica.

Portanto, a maçonaria não é judaica, mas: é uma criação da modernidade anticatólica que destruiu a unidade da civilização latina. Barroso identificou corretamente o inimigo político, mas atribuiu-lhe uma genealogia incorreta.

5. A mistura explosiva no Brasil: protestantismo + maçonaria + sionismo

Esta é a parte crucial:

5.1. Elemento 1 — Protestantismo pentecostal

Importa símbolos e moral de outra civilização.

5.2. Elemento 2 — Maçonaria iluminista

Introduz racionalismo moral, anti-sacramentalismo e anticlericalismo.

5.3. Elemento 3 — Sionismo cristão

Introduce teleologia escatológica estrangeira e subordinação espiritual a Israel moderno.

Quando esses três elementos se fundem, produzem:

  • nacionalismo emocional,

  • teologia política sem tradição,

  • leitura bíblica literalista,

  • rejeição da filosofia e da patrística,

  • ruptura com Roma,

  • culto ao “Estado de Israel” como mediador da história,

  • esvaziamento da tradição católica brasileira.

Para Koneczny, isso é: a destruição da civilização latina por contaminação de normas civilizacionais externas. É exatamente o que ele chamava de mixofenia moral: quando uma sociedade tenta viver segundo normas de duas ou mais civilizações simultaneamente — isso é algo impossível.

6. O resultado: um “conservadorismo” que não conserva a dor de Cristo

O conservadorismo cristão brasileiro, influenciado por:

  • televangelistas americanos,

  • teologia dispensacionalista,

  • sionismo cristão,

  • pastores ligados à maçonaria,

  • moralismo iluminista,

  • culto político,

  • e leitura superficial da Bíblia,

acabou se tornando:

  • antitradicional,

  • anticivilizacional,

  • antilatino,

  • anticatolico,

  • anti-omano,

  • e profundamente ideológico.

É por isso que Olavo disse:

“Conservadorismo cristão é ideologia.”

E é por isso que Koneczny diria:

“A civilização latina não pode florescer sob normas de origem protestante e iluminista; muito menos sob escatologia americana.”

7. Conclusão: como restaurar a forma civilizacional brasileira

A solução não é:

  • liberalismo,

  • conservadorismo americano,

  • maçonaria,

  • sionismo cristão,

  • teologia da prosperidade.

A solução é:

A. Recuperar a tradição latino-cristã

Roma + Igreja + Direito natural.

B. Rejeitar a mistura de civilizações

Protestantes e católicos podem conviver, mas não podem fundir suas matrizes civilizacionais.

C. Retomar a filosofia e a patrística

Contra o emocionalismo e o literalismo.

D. Abandonar a escatologia política importada

Brasil não é peça da profecia americana.

E. Restaurar a consciência civilizacional brasileira

Que é ibérica, romana, católica e universalista.

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