1. Introdução: um país que legaliza o vício e criminaliza a razão
O Brasil conseguiu realizar uma das maiores inversões lógicas, morais e jurídicas da história recente:
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Legalizou as bets — jogos de azar digitais que exploram compulsões, destroem famílias e enriquecem operadores parasitários;
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Proibiu os prediction markets — mecanismos de inteligência coletiva usados internacionalmente para prever resultados políticos, macroeconômicos e institucionais, e que servem ao bem comum.
Essa contradição não é acidental. Ela revela:
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fragilidade intelectual do legislador brasileiro;
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captura do Estado por interesses comerciais de baixa qualidade moral;
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medo profundo das elites políticas de qualquer mecanismo que reduza a opacidade institucional;
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aversão cultural à racionalidade econômica;
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hostilidade histórica a instrumentos de previsão que disciplinam o poder.
O Brasil, ao permitir bets e proibir prediction markets, faz exatamente o oposto do que países sérios fazem.
2. O que são bets? O vício legalizado
As bets — casas de apostas esportivas — possuem características moralmente reprováveis e economicamente destrutivas:
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exploram vícios psicológicos;
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não geram informação útil para a sociedade;
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têm estrutura estatística manipulada para garantir o lucro da casa;
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não estão ligadas ao bem comum;
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empobrecem as camadas populares;
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produzem dependência, compulsão e endividamento;
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não ajudam a organizar o futuro, apenas consomem o presente.
São indústrias que se alimentam de:
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impulsividade,
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ignorância,
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fragilidade emocional,
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esperança irracional de enriquecimento fácil.
Moralmente, as bets pertencem à categoria de vícios clássicos: são cassinos digitais travestidos de “entretenimento”.
O pior: o Brasil decidiu legalizar isso.
3. O que são Prediction Markets? Inteligência coletiva a serviço do bem comum
Nos países anglo-saxões, onde a racionalidade institucional é tradição, os prediction markets são:
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laboratórios de previsão,
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instrumentos de inferência estatística,
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mecanismos de agregação de conhecimento disperso (Hayek),
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ferramentas para antecipar recessões, reformas, decisões judiciais, conflitos e eleições,
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termômetros altamente precisos do clima político e econômico.
Eles permitem que qualquer pessoa com conhecimento especializado:
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apure probabilidades,
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analise políticas públicas,
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calcule impactos,
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estime riscos,
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contribua para o controle difuso das instituições.
Os prediction markets são formas legítimas de prudência social.
Nos EUA, eles são usados por:
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think tanks,
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universidades,
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jornalistas econômicos,
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estrategistas eleitorais,
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mercados financeiros,
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órgãos de governo.
Eles são ferramentas de transparência, não de vício.
4. O Brasil permite o vício e proíbe a virtude — por quê?
4.1. Razão 1: Medo de Transparência
Prediction markets disciplinam elites políticas porque:
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revelam a verdadeira probabilidade de aprovação de leis,
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expõem a fragilidade de candidatos,
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medem a confiança institucional real,
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antecipam crises políticas,
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impedem narrativas manipuladas.
Para políticos brasileiros, isso é intolerável. Eles não querem ser avaliados por mecanismos objetivos que mostram o que o mercado realmente pensa deles. É por isso que preferem pesquisas manipuláveis, não mercados que refletem a percepção do país real.
4.2. Razão 2: Interesse econômico de grupos que exploram vícios
Enquanto prediction markets exigem:
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expertise,
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estudo,
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responsabilidade,
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racionalidade,
as bets exigem:
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impulsão,
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ignorância,
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vício,
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compulsão.
Para certos grupos econômicos, o vício é mais lucrativo que a racionalidade. Por isso, há lobby a favor das bets — e silêncio sepulcral sobre prediction markets.
4.3. Razão 3: Estado paternalista e tecnicamente incompetente
O Brasil tem reguladores que:
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não entendem a diferença entre risco e azar,
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tratam prudência como suspeita,
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confundem especulação com jogo,
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não sabem o que é discovery price,
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pensam economia em termos moralistas, não técnicos,
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criminalizam complexidade e premiam estupidez.
É o triunfo do analfabetismo institucional.
4.4. Razão 4: Herança cultural ibérica da aversão ao risco
O Brasil herdou traços da mentalidade:
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anticomércio,
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antimercado,
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antiprevisão,
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anti-especulação racional,
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avessa à ideia de que o cidadão pode calcular riscos melhor do que o Estado.
Prediction markets são instrumentos da racionalidade liberal anglo-saxã. As bets são instrumentos da desordem moral pré-moderna. O Brasil preferiu as bets.
5. O Direito Natural julga: qual atividade é lícita?
Segundo a tradição clássica (Aristóteles, Tomás de Aquino, Suárez):
Atividades são moralmente lícitas quando:
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promovem o bem comum,
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utilizam a razão,
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disciplinam as paixões,
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geram informação útil,
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ordenam o futuro.
Prediction Markets cumprem todos esses critérios.
Ao contrário:
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as bets são vício,
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destruição de virtudes,
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enriquecimento sem mérito,
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envilecimento da vontade,
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predomínio das paixões sobre a razão.
O que o Brasil fez é objetivamente inverso à ordem moral natural.
6. A perspectiva cristã: prudência contra vício
A moral cristã sempre condenou:
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o jogo de azar,
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o ganho sem mérito,
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atividades que escravizam a vontade,
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práticas que desviam o homem da razão.
E valoriza:
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prudência,
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estudo,
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leitura do real,
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antecipação de riscos,
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administração responsável dos bens.
Prediction markets pertencem precisamente à categoria da prudência racional. Bets pertencem à categoria dos vícios da alma.
Legalizar bets e proibir prediction markets é, portanto:
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contra a razão,
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contra a moral,
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contra o bem comum,
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contra a ordem social.
7. O paradoxo final: o Brasil legaliza o vício para os pobres e proíbe a inteligência para os instruídos
A consequência política é devastadora:
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jovens pobres são capturados por cassinos digitais;
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intelectuais e analistas são proibidos de usar ferramentas sofisticadas de previsão;
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governos mantêm opacidade institucional;
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a economia perde capacidade de antecipar crises;
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a sociedade perde instrumentos de racionalidade.
Em resumo: o Brasil legalizou o cassino e proibiu a ciência.
8. Conclusão: um país que teme a realidade e abraça o vício
O Brasil é hoje o inverso de uma civilização racional:
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permite o que degrada,
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proíbe o que esclarece,
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incentiva o vício,
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reprime a inteligência,
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protege a ignorância,
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combate o conhecimento.
Enquanto os EUA permitem que qualquer cidadão “apostando” racionalmente ajude a prever inflação, recessão, juros, reformas e eleições, o Brasil fecha esse caminho e mantém o povo entretido com apostas em escanteios do campeonato norueguês.
O resultado institucional é óbvio: um país que proíbe instrumentos de previsão e permite instrumentos de vício está condenado à instabilidade.
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