1. Introdução
A crise civilizacional da América Latina — especialmente no século XXI — não pode ser compreendida apenas pelas categorias econômicas, sociológicas ou institucionalistas que usualmente dominam as análises da região. A verdadeira dimensão do problema é antropológica e, mais profundamente, espiritual.
É nesse ponto que emerge a noção proposta pelo usuário — inspirada no diagnóstico olaviano do subginasiano — do pré-colombiano mental: um indivíduo que, embora viva no mundo contemporâneo, opera psicologicamente em um nível pré-escolar, anterior à formação da consciência histórica e da responsabilidade pessoal.
Trata-se de uma metáfora não arqueológica, mas moral e intelectual: não se refere às sofisticadas civilizações pré-colombianas encontradas pelos espanhóis, mas ao estado mental pré-racional, caracterizado pela infantilização moral, pensamento mágico e tribalismo emocional.
Este artigo desenvolve esse conceito e o insere na narrativa maior da decadência latino-americana, contrastando-o com a tradição civilizacional católica ibérica e articulando-o com as análises de Olavo, Koneczny, Ortega y Gasset e outros pensadores da crise moderna.
2. Da categoria “subginasiano” ao “pré-colombiano mental”
Olavo de Carvalho utilizou a palavra subginasiano para identificar uma classe de pseudo-intelectuais incapazes de atingir o nível mínimo de maturidade que o antigo ginásio exigia: leitura séria, raciocínio ordenado, domínio básico da lógica e capacidade de formular argumentos.
O “subginasiano” vive num ambiente universitário, mas com mentalidade de aluno do ensino fundamental mal formado. Ele possui diplomas, mas não consciência.
O pré-colombiano mental, por sua vez, é uma categoria mais grave.
Enquanto o subginasiano habita uma infância tardia da razão, o pré-colombiano habita uma pré-infância da racionalidade, no sentido de:
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reagir ao mundo com afetos primários;
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não compreender a causalidade histórica;
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pensar por slogans;
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confundir política com tribalismo;
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e viver preso a fetiches ideológicos.
Se o subginasiano é o fracasso da educação formal, o pré-colombiano mental é o fracasso da civilização enquanto tal.
3. A América Latina como laboratório de regressões
A América Latina moderna tornou-se o terreno fértil para o florescimento desse tipo humano, por várias razões:
3.1. A destruição da memória histórica
Como ensinou Ortega y Gasset, quando um povo perde a noção de sua continuidade histórica, ele retorna ao estágio pré-político: não age — reage.
A destruição das narrativas católicas ibéricas e a substituição por ideologias importadas (iluminismo truncado, positivismo, marxismo tropicalizado) produziram:
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cidadãos sem memória,
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líderes sem responsabilidade,
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intelectuais sem tradição.
3.2. O colapso do ethos ibérico
A obra civilizatória católica ibérica tinha como pilares:
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hierarquia,
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senso de dever,
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sacralidade da autoridade,
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educação moral,
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noção de serviço e missão.
Ao ser substituída por ideocracias laicas e projetos revolucionários, abriu-se espaço para a regressão psicológica.
3.3. O triunfo da infantilização revolucionária
Como advertiu Koneczny, quando uma civilização abdica de seus valores espirituais, ela degenera para uma forma inferior de organização da vida.
Na América Latina, essa degeneração assume a forma:
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do caudilhismo sentimental,
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do identitarismo tribal,
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do autoritarismo emotivo,
-
e da política como catarse psicológica.
É nesse contexto que surge, com força, o pré-colombiano mental.
4. Características do pré-colombiano mental
O pré-colombiano é reconhecível por cinco traços centrais:
4.1. Pensamento mágico infantil
Ele não concebe causalidade, apenas desejos: “se eu quiser muito, a realidade muda”.
Isso é visível em discursos políticos que prometem riqueza sem trabalho, segurança sem autoridade, direitos sem deveres.
4.2. Tribalismo afetivo
A vida pública não é um espaço de debate racional, mas de disputa entre “minha tribo” e “a outra”.
4.3. Recusa da responsabilidade pessoal
Tudo é culpa:
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do colonialismo,
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do imperialismo,
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dos outros países,
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do passado,
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de forças invisíveis.
Nunca do indivíduo, nem da comunidade moral.
4.4. Hostilidade à verdade objetiva
A realidade é sentida, não conhecida. Quem discorda “ofende”.
4.5. Fascínio por líderes-pais
O pré-colombiano mental busca salvadores: líderes que pensem, ajam e decidam por ele. É o retorno ao pré-político, no sentido mais literal.
5. A implicação civilizacional: regressão espiritual
Se pensarmos a políica em termos mais profundos, dentro da tradição ouriqueana, o pré-colombiano mental representa uma queda espiritual.
A modernidade política latino-americana, ao romper com o eixo tradição–verdade–autoridade, cai numa forma de paganismo psicológico:
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fetichismo ideológico,
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culto à personalidade,
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magia política,
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e idolatria de narrativas.
É a descristianização da consciência.
6. O contraste com as civilizações pré-colombianas reais
É fundamental destacar: o termo não designa as grandes civilizações pré-colombianas históricas, que possuíam:
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astronomia,
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engenharia avançada,
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sistemas políticos,
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códigos morais,
-
tradições elaboradas.
O pré-colombiano mental é inferior até a elas. Não é um “asteca moderno”: é um pré-escolar político.
7. Conclusão: da necessidade de uma reintegração civilizacional
Superar o pré-colombianismo mental exige:
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restauração da memória histórica,
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retorno ao eixo ibérico-católico,
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educação para a responsabilidade,
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reintrodução da hierarquia e da disciplina,
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guerra cultural contra a infantilização,
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e reconstrução da consciência espiritual.
Sem isso, qualquer país latino-americano — por mais rico que seja — permanecerá preso à psicologia pré-racional e pré-política que caracteriza grande parte de suas lideranças atuais.
A verdadeira luta do século XXI, portanto, é entre a consciência cristã civilizatória e a regressão pré-colombiana mental. Trata-se de uma luta espiritual, antes de ser política.
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