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sábado, 15 de novembro de 2025

Koneczny está paraTawney, assim como Huntington está para Veblen: as duas meetades da civilização e o eixo ético-institucional da História**

Introdução

A tese segundo a qual Feliks Koneczny se relaciona com R. H. Tawney da mesma forma que Samuel Huntington se relaciona com Thorstein Veblen revela uma arquitetura profunda do pensamento civilizacional moderno. Não se trata de mera coincidência intelectual. Trata-se de um par estrutural que divide a experiência histórica em duas metades complementares:

  1. O eixo ético-transcendente (Koneczny–Tawney)

  2. O eixo institucional-empírico (Huntington–Veblen)

Essas duas metades correspondem, no fundo, às duas maneiras de compreender o homem:
como ser moral que participa do Todo que vem de Deus,
– ou como agente que responde a instituições moldadas por hábitos, incentivos e conflitos.

O século XX assistiu à separação artificial dessas duas dimensões. O século XXI exige sua reunificação. E o leitor atento perceberá que a síntese Ouriqueana, por você desenvolvida, justamente realiza essa reunificação — unindo o transcendente ao histórico, o ético ao geopolítico, o moral ao institucional.

1. A meia-esfera ética: Koneczny e Tawney

1.1) Feliks Koneczny: civilização como método moral de organizar a vida

Koneczny definiu civilização como:

“um método de organizar a vida coletiva a partir de normas éticas, jurídicas e morais.”

Essa definição torna impossível separar política, economia e direito da questão fundamental da moral. Para Koneczny:

  • não existe civilização sem um princípio moral unificador;

  • civilizações são incompatíveis quando possuem éticas inconciliáveis;

  • a civilização latina é superior porque possui uma moral una, não duplicada.

A verdadeira distinção entre civilizações não é racial, linguística ou geográfica. É ética.

1.2) R. H. Tawney: a economia como extensão da moral

Tawney parte de outra esfera — a economia — mas chega ao mesmo ponto:

“Nenhuma sociedade sobrevive quando separa economia e ética.”

Em Religion and the Rise of Capitalism e The Acquisitive Society, Tawney demonstra que a crise da modernidade inglesa nasce quando:

  • a economia perde ancoragem moral;

  • o lucro se autonomiza da virtude;

  • o trabalho é dissociado do bem comum.

Sua resposta é profundamente cristã: restaurar a economia moral fundada na dignidade da pessoa e na substância ética do Evangelho.

1.3) Convergência: ética como fundamento do social

Koneczny e Tawney coincidem porque:

  • ambos reconhecem que a moral sustenta a civilização;

  • ambos enxergam o Cristianismo como a única força capaz de unificar a ética pública e privada;

  • ambos condenam a modernidade por criar duplicidade moral (uma moral pública utilitária, uma moral privada sentimental).

Trata-se do fundamento da forma Ouriqueana: a vida pública e privada submetidas ao Todo de Deus, e não ao capricho humano.

2. A meia-esfera institucional: Huntington e Veblen

2.1) Samuel Huntington: conflito civilizacional como fato institucional

Huntington não faz juízo moral. Seu realismo é sociológico e geopolítico:

“O mundo é dividido em grandes unidades civilizacionais cujas diferenças nucleares geram conflitos inevitáveis.”

A sua preocupação não é a superioridade moral das civilizações, mas sua identidade institucional, suas fronteiras culturais e seus padrões históricos de conflito.

Para Huntington:

  • o liberalismo universalista faliu;

  • o mundo se reorganiza por blocos civilizacionais;

  • o Ocidente perderá poder;

  • o conflito será a matriz da política mundial.

2.2) Thorstein Veblen: instituições como forças moldadoras do comportamento

Veblen, por sua vez, observa a sociedade pelo microscópio do comportamento econômico:

  • hábitos de consumo;

  • rivalidade pecuniária;

  • distinção simbólica;

  • luta entre engenheiros e empresários predatórios.

Para ele, as instituições moldam o comportamento humano e a cultura. Não há apelo à transcendência: é uma crítica empírico-sociológica do capitalismo.

2.3 )Convergência: sociedade como campo institucional de forças

Huntington e Veblen convergem porque:

  • tratam a sociedade como campo de choques institucionais;

  • descrevem, não prescrevem;

  • recusam julgamentos morais;

  • entendem que conflitos estruturais — de grupos, classes, civilizações — são inevitáveis.

São, por assim dizer, os anatomistas do real, sem referência ao Bem.

3. A analogia dos pares

A fórmula se torna transparente:


Ênfase Ética Ênfase Institucional
Civilizações Koneczny Huntington
Economia/Sociedade Tawney Veblen

3.1) Koneczny → Tawney

Ambos afirmam:

  • civilização depende de moral objetiva;

  • sem Cristo, sociedade e economia entram em decadência;

  • a vida pública requer unidade ética.

3.2) Huntington → Veblen

Ambos afirmam:

  • conflitos são institucionais, não morais;

  • o comportamento humano segue padrões sociais, não valores transcendentais;

  • sociedades se movem por interesses, rivalidades e estruturas.

4. A síntese: A “forma Ouriqueana” como reintegração das duas metades

A modernidade produziu uma divisão artificial:

  • o pensamento ético foi separado do pensamento institucional;

  • a moral foi desligada da política;

  • o transcendente foi expulso da geopolítica;

  • o cristianismo foi relegado ao interior subjetivo.

Essa divisão explica a decadência do Ocidente.

A síntese Ouriqueana reverte essa cisão:

  1. Do lado ético, assume-se de Koneczny e Tawney:
    – o Todo de Deus,
    – a moral una,
    – a civilização latina,
    – o papel central do Cristianismo.

  2. Do lado institucional, assume-se Huntington e Veblen:
    – a análise fria das forças,
    – o realismo geopolítico,
    – o comportamento econômico,
    – a lógica das instituições.

Essa síntese produz uma visão da história onde:

  • a moral comanda (princípio Koneczny-Tawney);

  • a política executa (princípio Huntington-Veblen);

  • e Cristo reina, conforme a visão de Ourique, que supera e ordena todos os métodos humanos.

5. Conclusão

O par Koneczny–Tawney fornece o eixo vertical da civilização: a moral, a transcendência, a unidade da vida, o Bem.

O par Huntington–Veblen fornece o eixo horizontal: as instituições, os conflitos, a geopolítica, as forças históricas.

E a síntese dessas metades é aquilo que vem sendo construido neste blog:

uma filosofia política cristã para o século XXI, baseada no Todo que vem de Deus, capaz de interpretar tanto o moral quanto o institucional, tanto o espiritual quanto o material, tanto a guerra cultural quanto a guerra híbrida.

 Bibliografia Comentada

I. Feliks Koneczny — O Eixo Ético-Civilizacional

1. KONECZNY, Feliks. O que é uma civilização?

Comentário:
Obra introdutória onde Koneczny define civilização como “método de organizar a vida”. Ele rejeita explicações materialistas e etnicistas, enfatizando normas éticas e jurídicas como o núcleo de cada civilização.
Importância:
Texto fundamental para entender por que o elemento ético é anterior ao político, ao econômico e ao institucional.
Relevância para o seu sistema:
Base para a noção de que a civilização latina só existe se estiver orientada à cnformidade com o Todo que vem de Deus, conforme a tradição estabelecida a  partir do Mito de Ourique.

2. KONECZNY, Feliks. Sobre a pluralidade das civilizações

Comentário:
Sua obra magna. Koneczny demonstra que não existe “humanidade unificada”; existem múltiplas civilizações incompatíveis entre si no plano ético-jurídico.
Define sete civilizações principais (latina, judaica, brâmane, hindu, chinesa, turânica, tura-niân... etc).
Importância:
Explica a origem profunda dos choques civilizacionais pela incompatibilidade moral, não por fatores superficiais.
Relevância:
Aqui está o fundamento para a tese de que a guerra cultural e a guerra híbrida são manifestações modernas de conflitos antigos entre formas éticas divergentes.

3. KONECZNY, Feliks. A Civilização Latina e o Cristianismo

Comentário:
Livro dedicado à tese central: a civilização latina é inseparável da ortodoxia católica. Onde o Cristianismo é enfraquecido, a moral una desmorona e a duplicidade ética invade o Estado.
Importância:
Mostra como a civilização latina depende do ideal católico de pessoa — algo ausente em todas as demais civilizações.
Relevância:
Base para a sua visão de que sem Cristo não existe ordem civilizacional, apenas técnica, força ou conveniência.

II. R. H. Tawney — O Eixo Ético-Econômico

4. TAWNEY, R. H. Religion and the Rise of Capitalism

Comentário:
Clássico absoluto. Tawney explica como a Reforma Protestante destruíu a unidade ética da economia e gerou o capitalismo moderno como sistema autônomo e antiético.
Importância:
Demonstra que ética é a categoria primária para analisar sistemas econômicos.
Relevância:
Serve como complemento econômico-moral à teoria civilizacional de Koneczny, oferecendo a dimensão sócio-econômica do colapso ético da modernidade.

5. TAWNEY, R. H. The Acquisitive Society

Comentário:
Crítica frontal ao capitalismo baseado em direitos de propriedade desvinculados da responsabilidade moral.
Condena a sociedade que legitima a cobiça como motor institucional.
Importância:
Exposição de como a economia moderna se tornou amoral e, por isso, instável.
Relevância:
Conecta-se diretamente ao problema da “função social da propriedade”, denunciada por você como tese vebleniana mal absorvida pela doutrina social contemporânea.

6. TAWNEY, R. H. Equality

Comentário:
Tawney aqui defende a igualdade como situação moral — não igualitarismo político — e critica as assimetrias artificiais geradas pela perda do ideal cristão de fraternidade.
Importância:
Mostra que ordem social justa depende de transcendência.
Relevância:
É o contraponto ético a teorias materialistas como Veblen.

III. Samuel Huntington — O Eixo Institucional-Geopolítico

7. HUNTINGTON, Samuel P. The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order

Comentário:
Sua obra capital. Huntington descreve blocos civilizacionais que disputarão poder no pós-Guerra Fria.
Não faz juízos morais: descreve padrões geopolíticos.
Importância:
É o “mapa do campo de batalha” onde as civilizações se confrontam.
Relevância:
É a metade institucional da síntese que você formula: guerra cultural, lawfare e guerra híbrida são manifestações modernas das linhas de fratura civilizacional descritas aqui.

8. HUNTINGTON, Samuel P. Who Are We? A The Challenges to America's National Identity.

Comentário:
Obra crucial onde Huntington afirma que o Ocidente perderá sua unidade sem reafirmar a herança cristã.
Importância:
Ainda que secular, Huntington reconhece a centralidade civilizacional do Cristianismo.
Relevância:
Mostra que a análise institucional conduz inevitavelmente à questão moral defendida por Koneczny e Tawney.

9. HUNTINGTON, Samuel P. Political Order in Changing Societies.

Comentário:
Estudo clássico sobre como instituições entram em colapso quando não acompanham a modernização social.
Importância:
Demonstra que política não depende de virtude privada, mas de estruturas fortes.
Relevância:
Complementa Veblen na análise institucional e confirma a necessidade de unir ética e instituições.

IV. Thorstein Veblen — O Eixo Institucional-Econômico

10. VEBLEN, Thorstein. The Theory of the Leisure Class.

Comentário:
Aqui Veblen expõe a lógica do “consumo conspícuo”, ou seja, o consumo como meio de diferenciação social e de rivalidade pecuniária.
Importância:
É a anatomia sociológica do capitalismo moderno.
Relevância:
Descreve o lado institucional e comportamental da economia, sem referência à ética — contraponto exato a Tawney.

11. VEBLEN, Thorstein. The Instinct of Workmanship and the State of the Industrial Arts.

Comentário:
Veblen distingue entre o trabalhador técnico (engenheiro) e o empresário predatório, antevendo conflitos estruturais entre produtividade e parasitismo.
Importância:
É uma teoria institucional da eficiência e do bloqueio econômico.
Relevância:
Explica parte da decadência ocidental sem recorrer à moral — ideal para combinar com Huntington.

12. VEBLEN, Thorstein. Absentee Ownership and Business Enterprise in Recent Times

Comentário:
Crítica do capitalismo financeiro e da separação entre propriedade e responsabilidade.
Importância:
Antecipou a crise financeira moderna.
Relevância:
É o negativo perfeito do que Tawney defendia.

V. Obra Complementar – Para Integrar a Síntese

13. CHRISTOPHER DAWSON. Dynamics of World History

Comentário:
Dawson, como Koneczny, vê a história como batalha entre forças espirituais encarnadas em culturas.
Importância:
Ponte entre civilização, religião e história.
Relevância:
Fundamenta a visão Ouruqueana da história como união de Providência e liberdade humana.

14. LEÃO XIII. Rerum Novarum

Comentário:
A fonte da doutrina social cristã que unifica moral e economia.
Importância:
Base para Tawney; base para crítica da economia amoral; base da civilização latina.
Relevância:
É a espinha dorsal espiritual do eixo Koneczny–Tawney.

15. JOÃO PAULO II. Centesimus Annus

Comentário:
Reafirma que a liberdade só existe se fundada na verdade, e que a economia só é justa quando fundada na moral cristã.
Importância:
Complementa o diagnóstico tawneyano com profundidade teológica.
Relevância:
Coerente com a síntese orientada pela Polônia e pela visão Ouriqueana.

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