Quando um homem toma duas nações como seu lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, ele não se dissolve nelas nem se submete aos seus particularismos. Antes, procede como o observador-participante de Malinowski — abre-se às forças vivas de cada cultura, mas não se deixa hipnotizar por elas. Essa abertura não é passividade; é um exercício de discernimento espiritual. pois em cada povo há um duplo movimento:
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o espírito divino que o eleva, cujo rastro de Cristo é perceptível mesmo onde Ele não é conhecido nominalmente;
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o espírito animal da conservação, que defende conveniências históricas, políticas e sociais, frequentemente dissociadas da verdade.
Aquele que vive referenciado em Cristo aprende a distinguir os dois. Ele assimila o que há de nobre, belo, virtuoso e verdadeiro nas culturas — aquilo que, embora revestido de cor local, participa do Logos — e rejeita o que é mera blindagem instintiva de um grupo humano tentando perpetuar seus vícios, seus medos e seus interesses.
1. A unidade em Cristo supera a geopolítica
Quando eu afirmo que tomo dois países como um mesmo lar em Cristo, eu não estou diluindo suas identidades. Pelo contrário: estou reconhecendo que a identidade última de um lugar não se reduz à sua política ou às suas circunstâncias históricas, mas ao modo como aquele povo participa da verdade eterna.
Assim, a pátria cristã não é apenas o solo onde se nasce, mas também o solo onde se reconhece Cristo e onde sua presença se manifesta de modo singular. Essa abertura permite amar autenticamente mais de uma nação — não como turista sentimental, mas como cidadão do Reino que vê, em cada cultura, uma parte da herança espiritual do gênero humano.
2. Isso é nacionismo, não nacionalismo
Aqui emerge a diferença central entre o nacionismo e o nacionalismo, o qual não passa de uma caricatura.
Nacionalismo idolátrico
O nacionalismo moderno — herdeiro de revoluções ideológicas — toma a nação como fim absoluto. Ele confere caráter sagrado ao que é meramente histórico, eleva contingências políticas ao plano do dogma e transforma o amor à pátria em culto tribal. Seu erro é ontológico: absolutiza o que é relativo.
Nacionismo cristão
O nacionismo, ao contrário, reconhece:
– que a nação é real;
– que ela é boa em sua ordem;
– que possui vocação própria;
– mas que só encontra seu sentido último em Cristo.
O nacionista não idolatra sua pátria: ele a purifica, discernindo nela o que participa da verdade eterna e rejeitando o que é mero vício coletivo.
E, porque seu critério é Cristo — não o sangue, não a língua, não o Estado — ele pode reconhecer a obra de Deus em mais de um povo sem trair sua identidade. Pode ter dois, três ou mais lares espirituais, porque sabe que todos eles se tornam verdadeiramente pátria apenas quando ordenados ao Reino.
3. A assimilação em Cristo: o método espiritual do nacionista
Assimilar duas culturas “por Cristo” significa:
– absorver delas o que expressa a vocação divina de cada povo;
– integrá-las na própria vida como riqueza espiritual;
– recusar tanto o relativismo (que não distingue) quanto o fanatismo (que não reconhece valor no outro).
É o mesmo movimento descrito por São Tomás quando ele se apropria do melhor de Aristóteles e o integra na visão cristã, rejeitando o que contradiz a fé. O princípio é idêntico: tudo o que é verdadeiro pertence a Cristo; tudo o que é falso O contradiz.
Duas nações podem, assim, tornar-se um único lar na ordem do espírito. O que une não é a política, mas a verdade. O que fundamenta não é a origem, mas o destino.
4. Contra o globalismo: o nacionismo mantém as fronteiras
Diferentemente do globalismo — que dissolve identidades e trata os povos como peças intercambiáveis de um mercado — o nacionismo reconhece as formas concretas da vida humana: língua, história, religião, paisagem, heróis, sofrimento.
Ele não apaga as diferenças; ele as integra.
Não cria um “homem global”, mas um “homem católico”:
– capaz de amar uma segunda nação sem trair a primeira,
– capaz de habitar dois mundos culturais sem perder o centro,
– capaz de ser realmente universal porque está enraizado no eterno.
5. Conclusão: a pátria unificada em Cristo
Aquele que toma dois países como seu lar em Cristo vive uma forma rara de patriotismo purificado. Não se deixa guiar pelo instinto do rebanho nem pelos particularismos que cada cultura carrega como cicatrizes da história.
Seu critério é transcendente. Seu amor é ordenado. Sua pátria é elevada. Ele encarna o verdadeiro nacionismo: a unificação do que há de melhor nas nações sob o reinado do Cristo.
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