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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Não existe esse negócio de ser liberal na economia e ser conservador nos costumes, uma vez que não há divórcio entre a ação humana e a produção de riquezas de modo a se criar um bem comum que nos prepare para a pátria definitiva, a qual se dá no Céu

1) Algumas pessoas na internet dizem que são conservadoras nos costumes e liberais na economia.

2) Isso cria uma espécie de dualismo entre a vida prática e a vida espiritual, a ponto de se tornarem coisas incompatíveis. É como estivessem fazendo do seu papel social, da sua vocação, um papel teatral, conservando o que é conveniente e dissociado da verdade, ao fingirem ser o que não são. Nada mais hipócrita do que isso!

3.1) Ocorre que é preciso conservar a dor de Cristo para ser livre n'Ele, por Ele e para Ele.

3.2) A liberdade nos costumes se dá quando você serve ao seu irmão naquilo que este mais precisar - e é neste ponto que a graça é a maior do que a lei em todos os aspectos, desde os aspectos do ponto de vista da troca até os aspectos penais, onde as leis draconianas são atenuadas, uma vez que Cristo assumiu o papel de legislador.

3.3.1) Se a vida do católico se funda na conformidade com o Todo que vem de Deus, então a vida prática e a vida espiritual precisam ser uma vida só - eis o fundamento da integridade, da sinceridade enquanto estar presente daquele que tudo sabe e vê: Deus. E o casamento de ambas se chama vocação, coisa que faz o trabalho santificador e nobre por excelência, já que o trabalho, enquanto caminho de vida escolhido, foi consagrado de modo a servir a Deus e ao próximo.

3.3.2) Quem vive em conformidade com o Todo que vem de Deus toma a obrigação para com Cristo fundamento, pois vê nisso um sentido de vida - e como isso se torna hábito, então isso prepara para a excelência, dado que este vê Cristo em tudo: seja no vizinho, seja nos parentes mais próximos, seja no consumidor necessitado de seus serviços.

3.3.3) E esse compromisso com a excelência se traduz em três cláusulas, em três ações práticas: dar, fazer e não fazer.

3.3.4) Quando essas três cláusulas são exercidas sistematicamente, torna-se distributivismo, uma vez que distribuir é dar sistematicamente aquilo que seu irmão tanto necessita, assim como fazer algo para alguém ou por alguém é doar-se sistematicamente, a ponto de ser uma distribuição também. E se você faz uma boa ação, então você é recompensado por isso, pois você gastou energia e tempo em prol daquela pessoa. E se a pessoa tem Deus no coração, então ela vai te recompensar por isso, pois quem trabalhou pelo próximo tem direito ao pão de cada dia.

3.3.5) A mesma coisa encontramos nas omissões úteis; se não faço algo por força de acordo com meu próximo, então isso é um incentivo que dou aos outros de modo a assumirem meu lugar, uma vez que o respeito é uma forma de distribuir meu consentimento para que os outros também possam fazer seu serviço. Assim, meu trabalho, por ser infungível, torna-se fungível, uma vez que o espaço que ocupo na vocação não dura para sempre. É neste ponto que a competição, fundada no amor de si, dá lugar à colaboração, onde meu exemplo é distribuído aos outros, seja pela minha ação ou pela omissão útil ao bem comum.

4.1) Se economia é organizar a casa de tal maneira a produzir riquezas, o que faz com que o país seja tomado como um lar em Cristo, então não existe esse negócio de os costumes estarem dissociados da ação humana fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus.

4.2) Se conservo a dor de Cristo em meu coração, então minhas ações, voltadas para servir ao próximo, são feitas com base no princípio de se amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. É dessa forma que distribuo a verdadeira liberdade, fundada no Deus feito homem, que é a verdade em pessoa - e faço isso por meio do apostolado do meu trabalho, servindo à comunidade bens e serviços que nos apontam para se tomar o país como um lar em Cristo, a ponto de nos preparar para a pátria definitiva, a qual se dá no Céu.

4.3.1) Se busco liberdade fora dessa mesma verdade, então minhas ações não serão de serviço, mas de ganância, de desserviço fundado no amor de si até o desprezo de Deus. Servirei o pior serviço possível e pelo preço mais alto possível, a ponto de gerar conflito de interesses qualificado pela pretensão resistida, já que estou fazendo do conservantismo a nova ordem do dia.

4.3.2) Como vejo a riqueza com um ídolo, um sinal de salvação, então edifico liberdade para o nada, já que relativo tudo o que há de mais sagrado, quando ponho na praça pública produtos e serviços que atentam contra a moral e os bons costumes. E neste ponto a economia de mercado deixa de ser um encontro e se torna uma sujeição, a tal ponto que o Estado substitui a vontade das partes, regulando todas as coisas.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2018.

Observações:

1) Eu tenho estudado muito o distributivismo tanto em Chesterton quanto em Belloc, como também tenho aprendido muita coisa na obra de São Josemaria Escrivá, em relação à santificação por meio do trabalho. Acredito que seja possível, sim, responder ao trabalho do Max Weber à altura, nesta direção.

2) As melhores respostas dar-se-ão no tempo de Deus: a eternidade. É por essa razão que não houve uma resposta à altura ao livro A Ética Protestante e ao Espírito do Capitalismo, lançado no início do século XX. O pensamento sociológico tende a ser justificador - por essa razão, a obra de Weber é um desafio, que deve ser respondido à altura. Um clássico precisa ser respondido com outro clássico, de modo que o debate se dê na eternidade.

3) Tenho trabalhado muito nesta direção. Espero fazer uma boa obra, neste sentido, criando as pontes necessárias que apontem as coisas à conformidade com o Todo que vem de Deus.

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