1) O Estado tomado como se fosse religião é o lugar onde o primeiro cidadão da cidade, o príncipe, tende a ter os dois corpos: o corpo temporal e o corpo espiritual, de tal maneira que seja tomado como se fosse uma espécie de Deus vivo, o primus inter pares de todos os que estão na qualidade de pater familias, uma pessoa de direito sui iuris, que tem poder de vida e de morte sobre todos os que estão sujeitos à sua autoridade (que se encontram na qualidade de alieni iuris)
2) Tal como o faraó no tempo da escravidão dos hebreus no Egito, ele determina, de maneira conveniente e dissociada da verdade, quem é inimigo e amigo, segundo critérios humanos, do Adão decaído no pecado original.
2.2) É por força desses critérios fundados no Adão decaído que o Rei Henrique VIII não só rompeu com Roma por ter se recusado a anular o casamento com a rainha Catharina de Aragão - o que o levou a fundar sua própria Igreja. E ao determinar que todos os católicos da Inglaterra eram inimigos, ele simplesmente confiscou terras da Igreja sistematicamente. Como a Igreja protegia os pobres camponeses, muitos deles acabaram se tornando despossuídos, compondo aquela massa de pobres que iria acabar servindo de substrato para a proletarização geral da sociedade que viria por força da Revolução Industrial, em que o processo de se concentrar os poderes de usar, gozar e dispor ficou concentrado em poucas.
3.1) Da combinação do princípio do "um só príncipe, uma só religião" com a noção de que a riqueza é indício de salvação predestinada, num mundo dividido entre eleitos e condenados, a economia fundada no amor de si até o desprezo de Deus passou a se consolidar, a ponto de gerar coisas ainda mais tenebrosas.
3.2)Não é à toa que é da ética protestante e do espírito do capitalismo que vêm as primeiras chagas da mentalidade revolucionária, como bem apontou o professor Olavo.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 2018.
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