Bruno Braga: José, como andam os seus trabalhos?
José Octavio Dettmann: Estou escrevendo bastante. Já estou sistematizando os meus escritos - encontrei alguém para me ajudar nisso.
Bruno Braga: Que bacana! E o que pretende com eles? Vai publicar em livro ou tem outra meta?
José Octavio Dettmann:
1) Eu vou publicar uma coletânea falando da diferença entre tomar o país como se fosse um lar em Cristo (nacionidade) e tomar o país como religião, em que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele ou contra ele (nacionalidade).
2) Esse estudo decorreu de um artigo que li no livro Um Mapa da Questão Nacional, intitulado "Para onde vão as nações e o nacionalismo?", Katherine Verdery. Ela menciona o trabalho de John Borneman, que distinguiu nacionidade e nacionalidade. E isso está no livro Belonging in the Two Berlins: kin, state, nation. A origem essa distinção está numa nota de fim em que Borneman debate com Gellner, o qual acredita que existem eras de nacionalismo - e é neste ponto que ele traça essa distinção (em inglês, o termo empregado é "nationness").
3) O livro de Borneman é cheio de marxismo de cabo a rabo. Por isso, tive que fazer muita engenharia reversa para entender o tema.
4) Devo ao Olavo tudo o que o compreendo sobre mentalidade revolucionária. Se não fosse por ele, esse trabalho de engenharia reversa não seria possível.
5) Além dos estudos em Borneman, encontrei outros subsídios no livro Cosmópolis, de Danilo Zolo., que é baseado num outro: o Cosmópolis, de Stephen Toulmin.
6) Por conta desse esforço, escrevi muitos artigos.
Bruno Braga: Suponho que esteja tendo muito trabalho, pois, só pelo "resumo" que fez aqui, já dá uma noção da complexidade do tema.
José Octavio Dettmann:
1) É um tema muito complexo mesmo. Não é fácil de ser tratado. É tão complicado que só mesmo por escrito é que consigo falar sobre isso. Se tivesse que falar sobre isso numa palestra, eu teria dificuldade - por isso que não faço hangouts, nem faço palestras. Estudo esse assunto desde 2004 e até hoje é complicado para mim.
2) Como já me disseram, não é assunto para um autor só. O que escrevi até agora são só impressões sobre o tema, visto que não tenho muitos recursos para ir mais a fundo ainda.
3) Sobre a diferença entre nacionidade e nacionalidade, eu tentei trazer a questão também para o contexto brasileiro também. Por isso, eu fui obrigado a estudar a História de Portugal também, coisa que ninguém faz.
Bruno Braga: Entendi. Falando sobre a História de Portugal - e tenho visto que frequentemente publica sobre o tema - qual a sua posição sobre o Loryel Rocha? Tenho visto várias críticas sobre ele e o seu Instituto.
José Octavio Dettmann: Tirando esse negócio que ele fala sobre magia e uma outra coisa que é condenada pela Igreja, o que ele fala sobe Ourique está correto, pois é exatamente aquilo que está escrito nas referências sobre o assunto. Eu tento não me guiar muito pelo que ele fala. Eu me baseio mais é nos livros e naquilo que o Plínio Corrêa de Oliveira fala.
Bruno Braga: Entendi. Porque - como você mesmo observou, que poucas pessoas abordam a História de Portugal - é preciso saber a respeito da confiabilidade das fontes.
José Octavio Dettmann:
1) Sim, claro. Aos poucos é que vou conseguindo a bibliografia de que necessito - esses livros certamente citam outros livros.
2) Sobre o que tenho estudado sobre Ourique, eu tenho tentado casar com aquilo que o Olavo fala no Curso de teoria de Estado dele. Como não há uma transcrição disponível, o trabalho fica ainda mais difícil.
Bruno Braga: Sim. A sua estratégia para recolher a bibliografia é importante. Então terá um bom trabalho pela frente...
José Octavio Dettmann: É um trabalho pesado, mas é o que melhor posso fazer, no momento.
Rio de Janeiro e Belo Horizonte, 8 de abril de 2017 (data da postagem original).