Pesquisar este blog

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Em qual tempo se baseia a lei da preferência temporal? No tempo de Deus ou dos homens?

1.1) A teoria dos juros está fundada numa tendência de que a maioria das pessoas preferem bens presentes a bens futuros, a chamada "lei da preferência temporal".

1.2) Ela foi analisada levando-se em conta o fato de que estávamos no século XIX, onde o processo de descristianização da Europa estava fortemente acelerado, por conta da Revolução Francesa, uma vez que a tendência de preferir bens presentes a bens futuros leva à uma liberdade voltada para o nada, profundamente hedonista e materialista.

1.3) Nela, o egoísmo tende a ser tomado como se fosse uma virtude, justificando o processo de proletarização geral da sociedade, onde a maioria das pessoas deixa de pensar no bem comum, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus, a ponto de passar a colaborar com a própria prole em detrimento da vida comunitária.

2.1) Devemos ver o que não se vê, pois o tempo de Deus não é o tempo dos homens.

2.2) Se as pessoas vissem isso, poderiam renunciar aos bens do presente que não são vantajosos para aquilo que nos prepara para a pátria definitiva, a qual se dá no Céu, em favor desses bens futuros, que virão por meio da providência divina e do trabalho humano que é comandado sob a ação do Espírito Santo.

2.3) Nesse sentido, os juros ditados pelas coisas que se fundam no tempo de Deus são mais liberais que os juros fundados no interesse humano pensado sem Deus, pois os juros arbitrados no tempo dos homens tendem a ser arbitrários, uma vez que a riqueza tende a ser vista como um sinal de salvação, a ponto de isso ser visto como uma usura e perder seu caráter produtivo, por força do abuso, da quebra de confiança.

3.1) Se os juros fundados no tempo de Deus são mais liberais, obviamente não há utilidade marginal decrescente, pois a unidade a ser imediatamente consumida tem o mesmo valor daquela que virá a ser consumida, caso haja necessidade no futuro. Isso faz com que a prudência dê um valor objetivo às coisas, de tal maneira que vejamos aquilo que não se vê.

3.2.1) Digamos que você encontra uma tenda que venda água mineral no meio do deserto.

3.2.2) Você compra uma garrafa de água mineral para matar a sua sede, o que satisfaz a sua necessidade humana mais imediata. Como não sabemos o que virá pela frente, é prudente levar três ou quatro garrafas de água mineral para atender a uma necessidade humana que virá pela frente, caso você continue encarando o deserto. Dependendo do caso, você pode levar o estoque inteiro, se tiver dinheiro para isso, uma vez que não se sabe quando você encontrará uma tenda igual àquela novamente, pois encontrá-la pode ter sido um verdadeiro milagre, já que Deus é bom. Afinal, a onisciência nos foi negada.

3.1) Além disso, se há uma demanda fundada na prudência do consumidor, a ponto de prezar tanto os bens futuros quanto os presentes, é perfeitamente justo se cobrar um preço maior para atender o cliente, desde que isso seja negociado entre as partes.

3.2) Se o preço for alterado unilateralmente, isso constitui quebra de confiança, uma vez que servir ao próximo implica servir a Cristo necessitado, que, como Deus, sabe tudo e pode tudo - por isso mesmo, Ele tem sempre razão, já que o Deus feito homem foi freguês um dia, ao ter sido homem como nós.

3.3) Há duas outras causas para o aumento generalizado de preços.

A) O Estado tomado como se fosse religião manipula a moeda, de modo a criar um imposto indireto e disfarçado, gerando quebra de confiança;

B) ou o aumento dos preços por força da inflação de demanda se dá por conta da ganância dos mercadores, que prezam mais os seus interesses do que o bem comum, já que isso leva a um tipo de concupiscência que atenta contra a ordem pública da cidade - e como isso é um atentado à ordem pública, trata-se de um crime contra a economia popular.

4) Por isso mesmo a lei da oferta e da demanda não é uma lei, pois isso não se dá de maneira automática, já que a ação humana não pode ser vista de maneira mecanicista, já que isso edifica liberdade com fins vazios, a ponto de relativizar os verdadeiros valores fundados na conformidade com o Todo que vem de Deus. E no lugar dos valores fundados na vida eterna, teremos os valores da ética utilitarista, valores esses que são materialistas e hedonistas, causa que edifica liberdade para o nada.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2017 (data da postagem original)..

Nenhum comentário:

Postar um comentário