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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Devemos evitar o termo "capitalismo"

Nando Gomes, um dos meus leitores, me fez este comentário, na introdução que fiz aos estudos da economia:

  O capitalismo se preocupa em produzir; o socialismo, em dividir. Mas se não produzir, não há o que dividir.

Só não publiquei o comentário porque há um erro na colocação dele, coisa que merece uma postagem específica sobre isso. E vou dizer o porquê:

1.1) O termo "capitalismo" foi cunhado por Karl Marx.

1.2) Ele dizia que o capital (o acúmulo de riquezas mediante o trabalho organizado feito ao longo do tempo) é antigo, mas o capitalismo (fazer disso uma forma de salvação predestinada, tal como decorre da ética protestante) é recente. Afinal, a revolução protestante ocorreu em 1517 - ou seja, é bem recente.

2.1) Economia de mercado é tão natural quanto a formação de uma comunidade, onde as pessoas se unem por conta de amarem e rejeitarem as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento.

2.2) Aliás, onde há uma polis organizada você encontrará uma economia de mercado, com comércio e prestação de serviço. A diferença daqueles tempos para os nossos é que a atividade mercantil fundada no autointeresse era uma atividade marginal, proletária, uma vez que o sujeito não se preocupava com a promoção do bem comum - ele só estava interessado na própria prole, uma vez que para ele a riqueza era uma espécie de sinal de salvação. Platão já denunciava a concupiscência dos governantes.

3) O que diferencia o capitalismo do distributivismo é que o capitalismo promove a concupiscência como fosse se virtude, quando na verdade ela é condenável - isso é a base do relativismo moral - do amor líqüido, tal como vemos na modernidade; para o sólido se desmanchar no ar, o sólido precisa se dissolver no líqüido primeiro para só então dissolver-se no gasoso, na anarquia. No distributivismo, a economia de mercado é praticada tendo-se por base a benevolência, uma vez que quando servimos aos nossos semelhantes, nós servimos a quem ama e rejeita as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento - se vejo em quem me serve o Cristo carpinteiro trabalhando de modo a ter o sustento da família, eu devo remunerá-lo por isso, pois isso é lei que se dá na carne. 

4.1) A sociedade aberta, pensada por Popper, fundamenta-se numa ordem onde cada um tem a verdade que quiser de tal maneira que quem empreende está interessado em ganhar dinheiro de maneira egoísta e nunca colaborar para a promoção do bem comum - e isso é mentalidade proletária. Por isso, vai servir o pior produto de pior qualidade e promovê-lo como se fosse o melhor produto do mundo, por meio da propaganda. E isso é essencialmente um tipo de concupiscência, pois nega aquilo que Cristo disse: "faça do seu sim um sim e do seu não um não".

4.2) Além disso, o interesse egoísta implica em negar o fato de que você está diante de um ouvinte onisciente e que sabe tudo sobre você, uma vez que Deus é criador e você é criatura, sem mencionar que a ordem que promove o fato de que tem a sua verdade só forma seres arrogantes, pois faz a criatura arrogar-se o que não é: Deus. Ou seja, qualquer um pode ser um faraó do Egito, aquele combatido por Moisés de modo a libertar seu povo da escravidão no Egito.

5) A crítica de que Platão era socialista não é verdadeira - na verdade, ele estava denunciando os efeitos nefastos da liberdade voltada para o nada promovida pelo amor de concupiscência, coisa que se faz por meio de uma economia de mercado onde o amor ao dinheiro e não a Deus é base de todas as coisas (por isso mesmo, o capitalismo é a economia de mercado pervertida, pois se funda numa ética protestante, que é herética). E Platão antecipou os ensinamentos de Cristo neste aspecto.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2017.

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http://blogdejoseoctaviodettmann.blogspot.com/2017/10/capitalismo-metacapitalismo.html

2 comentários:

  1. Obrigado Dettmann. Na verdade, podemos então definir que o termo "capitalismo" é inerente a visão deturpada de Marx quanto ao distributismo?

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  2. Sim. Marx era mau-caráter - o termo criado é acessório que segue a sorte do principal

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