1) Eis o pacto que farei com Deus: pedirei a graça de ter uma polonesa muito católica como esposa. Se isso me for concedido, então muito me será dado. E se muito me será dado, então muito me será cobrado.
2) De onde virá o dinheiro para o casamento? Da advocacia. A advocacia é aquela cláusula do pacto que lembra muito aquilo vemos na obra Fausto, de Goethe; ela é um verdadeiro inferno. Afinal, se quero o paraíso em forma de mulher, então eu vou ter que me preparar para o inferno: a advocacia. Esse é o preço que tenho que pagar. Por sorte, posso me consagrar à Nossa Senhora de Częstochowa, a padroeira dos poloneses, e consagrar a advocacia e o meu casamento a ela - assim vencerei o inferno da minha profissão tal como Cristo venceu a morte, com a sua redenção.
3) Tirando meu amigo Heitor-Serdieu Buchaul, ninguém foi testemunha dos sofrimentos por que passei na faculdade de Direito. Formar-me foi um martírio - tive depressão e tive muita ajuda da família para conseguir me formar. Se há uma cruz cujo madeiro é indiscutivelmente de chumbo, com certeza isso está na advocacia, principalmente nas nossas atuais circunstâncias. Se tenho o paraíso na forma de esposa, certamente poderei carregar minha cruz do modo mais terno possível.
4) Se minha esposa é parte de um povo que suportou até mesmo a dura provação do comunismo de modo a sair fortalecido na fé, com certeza precisarei de uma pessoa muito forte, capaz de me consolar, pois posso ter crises de ansiedade e depressão por força do trabalho. E de uma polonesa com certeza terei isso, não tenho dúvida. Ela não precisa trabalhar - por ela agüento o tormento dos tribunais de modo a pôr comida na mesa para ela e meus filhos. Se me sobrar alguma coisa, eu continuo escrevendo.
5) Quando os direitos autorais dos meus escritos pagarem mais que meus honorários, volto a minha profissão de escritor, pois advocacia pra mim é bico. Um bico que paga muito bem, infelizmente.
6) Se tiver que defender alguma causa importante, levo minha polonesa e meus filhos para o tribunal para assistirem ao julgamento. Sem apoio da família, não consigo nada.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 8 de outubro de 2017 (data da postagem original).
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