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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Notas sobre o espírito de corpo que havia no Brasil quando de seu povoamento

1.1) Por conta da cultura de servir a Cristo em terras distantes, um produtor rural tende naturalmente a buscar uma associação de produtores, pois sozinho sabe que não tem poder de ajudar as pessoas naquilo que mais necessitam, visto que as necessidades são muitas. Como nossa sociedade é muito carente, muitas pessoas se encontram em desespero, uma vez que esperar é morrer.

1.2) Reunidos na forma de uma associação, esses produtores se tornam mais fortes e estabelecem um projeto em comum, uma atividade econômica organizada que supre a demanda de várias regiões inteiras. E nesses locais, eles estabelecem uma sede, uma filial, que os representa de modo a ouvir as queixas e as demandas da população local de modo a melhor supri-la, tal qual um Cristo necessitado. Assim nasce a corporação. E a cooperativa é a mais orgânica e democrática das corporações de ofício.

2.1) Toda corporação possui uma cultura organizacional, um espírito de corpo - ela tem, portanto, valores. Ela colabora com as autoridades públicas, fazendo com que a idéia de que a autoridade que aperfeiçoa a liberdade se aperfeiçoa a cada dia, uma vez que essas coisas decorrem da verdade, do verbo que se fez carne, não da pretensa inteligência do governante. Como a autoridade conhece as famílias, e decorre dessas famílias a ponto de amarem e rejeitarem as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, a mera reunião com os mestres das corporações de ofício da cidade acaba sendo uma espécie de prestação pública de contas em relação a tudo o que é feito com relação aos assuntos da cidade, uma vez que todo cidadão faz parte de alguma guilda e ele está sendo devidamente representado e tomado como parte da família. E isso fortalece o senso de se tomar o país como um lar em Cristo.

2.2) Como são todos tomados como parte de uma mesma família, então o menor dos cidadãos dispõe dos meios de ação para levar suas queixas ao representante da sua guilda ou das outras guildas, quando estivesse consumindo um produto feito por estas outras organizações de modo a tornar sua atividade pessoal mais completa. Por isso, o mestre das guildas, o protótipo do empresário, via no seu empregado um companheiro de profissão, a ponto de defender seus interesses também. Não havia divórcio entre capital e trabalho, pois não havia divisão entre eleitos e condenados, uma vez que todos eram unidos em Cristo. No final, o conflito terminava numa conciliação, numa concórdia entre as classes.

3) Graças a essa liberdade fundada na verdade e ao senso de servir a Cristo em terras distantes, era natural que sua atividade organizada se expandisse conforme o país se expandisse, chamando e convertendo outros povos ao Império que Cristo quis fundar para si em Ourique. Isto explica a razão pela qual o Brasil é grande territorialmente. Quanto maior esse ativismo fundado na verdade, mais rápido Cristo viria pela segunda vez. Afinal, isso é próprio da Igreja militante.

4.1) Bastou-se afastar Cristo e esse senso de servir a Ele em terras distantes, com a falsa alegação de que o Brasil era colônia de Portugal, que houve uma corrupção sistemática na organização social no Brasil, a ponto de as coisas perderem o seu completo sentido.

4.2) As guildas, as corporações de ofício, todas elas foram transmutadas em sindicatos. Houve a divisão entre capital e trabalho. A maçonaria implementou a cultura da riqueza tomada como um sinal de salvação e a divisão da sociedade entre eleitos e condenados. A república sindical nasceu justamente disso: da corrupção daquilo que era naturalmente português, cristão e ouriqueano. E não será importando idéias americanas de liberdade que se resolve isso.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 8 de maio de 2020.

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