1,1) Em digitalização, há uma técnica chamada par sobre par. Ao começarmos a página 2 de um livro jovem, recém editado, a curvatura começa bem rebelde. É como domar um cavalo selvagem.
1.2) Mesmo que você consiga domar essa página com um peso de papéis, o que era torto termina se endireitando por força do constante avanço, o que faz com que as páginas 4, 6, 8 em diante de um livro acabem colaborando umas com as outras até se tornarem todas retas. Quando você chegar à página 50, a referida página 2 está pronta para a fotografia de revisão, assim como as páginas subseqüentes.
2.1) Se a verdade é filha do tempo, então isso é verdade também no estudo histórico.
2.2) Quando registramos os fatos, nós fazemos impressões autênticas do momento - e muitas vezes não temos consciência de quais coisas no passado contribuíram para que tivéssemos esse cenário que estamos a registrar. É como estivéssemos fotografando algo borrado, estranho - em si mesmo, parece não fazer muito sentido, quando se tratar de fazer uma leitura da realidade.
2.3) De posse de outros registros e fazendo uma análise sistemática, de modo a encadear um fato ao outro, é que compreendemos o que realmente aconteceu. É como na digitalização: o texto turvo ou curvado dá lugar a um texto reto e cristalino, fácil e gostoso de ler. Com os fatos históricos ocorre a mesma coisa - por isso, temos o revisionismo constante de modo a examinar os fatos do passado de modo a compreender o presente. Isso implica não só atualização mas também reforma de modo a que a mais reta tradição acabe não se curvando a rebeldia dos tempos atuais, tal como vemos num livro jovem, cujas páginas ainda não foram amarelecidas pela ação do tempo.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 4 de junho de 2017.
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