"Na sustentação de traços múltiplos de uma multiplicidade delimitada e definida, a coisa é em realidade ambígua. O delimitado e definido da multiplicidade concerne aos traços; a ambiguidade concerne a sua sustentação, a sua atualização, é um modo intrínseco de atualização. Junto ao modo de atualização de indeterminação e de indício, temos agora um terceiro modo de atualização: a ambiguidade. É a coisa real mesma a que em realidade se atualiza ambiguamente a respeito das simples apreensões.
Pois bem, a atualização da coisa real como ambígua se concretiza em um modo próprio de realização de intenção afirmativa: é a dúvida. Dúvida é formalmente a afirmação do real ambíguo enquanto ambíguo. Dúvida é etimologicamente um modo de duplicidade. Mas aqui não se trata da dualidade da intelecção em distância, senão do caráter duplo da própria atualização do real. É esse modo especial de dualidade o que constitui a ambiguidade. Digamos de passagem, que ao falar de dúvida e de ambiguidade não é forçoso que haja somente dois termos (cachorro, arbusto); poderia haver uma multiplicidade mais ampla, mais me limito para maior clareza à multiplicidade dual da ambiguidade. E isto é o essencial. A dúvida não se funda em uma disjunção: não se funda em que a coisa real é em realidade ou bem cachorro ou bem arbusto. A dúvida se funda pelo contrário em uma conjunção: a coisa pode ser tanto cachorro como arbusto, isto é, se funda em ambiguidade. E como modo de afirmação, a dúvida não é uma espécie de oscilação ou vacilação entre duas afirmações. É pelo contrário um modo de afirmar o que a coisa real é ambiguamente em realidade. Vacilamos porque há afirmação duvidosa, mas não há afirmação duvidosa porque vacilamos. A dúvida é um modo de afirmação, não é um conflito entre duas afirmações. Afirmamos dubitativamente a ambiguidade do que a coisa real é em realidade. Não é um estar indeciso, senão saber que a coisa é em realidade ambígua. Já se sobreentende que a coisa é realmente ambígua a respeito de minhas simples apreensões. Nada é ambíguo em si mesmo".
(ZUBIRI, Xavier. Inteligencia y Logos. 1a reimpressão. Madrid: Alianza, 2002, pp. 192-193)
Do mural de Joathas Bello
Pois bem, a atualização da coisa real como ambígua se concretiza em um modo próprio de realização de intenção afirmativa: é a dúvida. Dúvida é formalmente a afirmação do real ambíguo enquanto ambíguo. Dúvida é etimologicamente um modo de duplicidade. Mas aqui não se trata da dualidade da intelecção em distância, senão do caráter duplo da própria atualização do real. É esse modo especial de dualidade o que constitui a ambiguidade. Digamos de passagem, que ao falar de dúvida e de ambiguidade não é forçoso que haja somente dois termos (cachorro, arbusto); poderia haver uma multiplicidade mais ampla, mais me limito para maior clareza à multiplicidade dual da ambiguidade. E isto é o essencial. A dúvida não se funda em uma disjunção: não se funda em que a coisa real é em realidade ou bem cachorro ou bem arbusto. A dúvida se funda pelo contrário em uma conjunção: a coisa pode ser tanto cachorro como arbusto, isto é, se funda em ambiguidade. E como modo de afirmação, a dúvida não é uma espécie de oscilação ou vacilação entre duas afirmações. É pelo contrário um modo de afirmar o que a coisa real é ambiguamente em realidade. Vacilamos porque há afirmação duvidosa, mas não há afirmação duvidosa porque vacilamos. A dúvida é um modo de afirmação, não é um conflito entre duas afirmações. Afirmamos dubitativamente a ambiguidade do que a coisa real é em realidade. Não é um estar indeciso, senão saber que a coisa é em realidade ambígua. Já se sobreentende que a coisa é realmente ambígua a respeito de minhas simples apreensões. Nada é ambíguo em si mesmo".
(ZUBIRI, Xavier. Inteligencia y Logos. 1a reimpressão. Madrid: Alianza, 2002, pp. 192-193)
Do mural de Joathas Bello
Facebook, 14 de abril de 2018.
Postagem relacionada:
http://blogdejoseoctaviodettmann.blogspot.com/2018/04/por-que-nas-coisas-duvidosas-deve-haver.html
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