1.1) Se a vida eterna é o bem mais importante, pois faz a pessoa organizar a casa de modo que o país seja tomado como se fosse um lar em Cristo - o que nos prepara para a pátria definitiva, que se dá no Céu -, então é válido afirmar que os que vivem em conformidade com o Todo que vem de Deus preferirão bens futuros aos bens presentes.
1.2.1) Se o futuro a Deus pertence, então as pessoas trabalharão guiadas pelo Santo Espírito de Deus de modo que as coisas sejam dadas por acréscimo.
1.2.2) Afinal, não é só de pão que vive o homem, mas da palavra de Deus. Se a palavra de Deus fornece conforto e esperança, então faz muito sentido preferir bens futuros a bens presentes, pois sem Deus nada podemos fazer.
1.3.1) Outro caso que pode explicar a preferência dos bens futuros aos bens presentes está num dizer dos nativos da América do Norte: "nós não herdamos a terra de nossos antepassados; o que fazemos é pedi-la emprestado aos nossos filhos, ainda que não nascidos."
1.3.2) Ao se ver o que não se vê, ao se dar o devido valor ao amanhã, que a Deus pertence, a riqueza gerada pela terra pode ser multiplicada e distribuída porque os vegetais e os animais se reproduzem. Se eles se reproduzem, então os bens futuros são preferidos aos bens presentes, a ponto de haver juros, cobrança justa por força de se investir em algo produtivo, como uma colheita bem-sucedida.
1.3.3) Somente numa sociedade onde o vil metal é o norte de todas as coisas que se costuma preferir os bens presentes aos bens futuros, pois o metal não se reproduz - o que nega a essência da vida. Se o metal não se reproduz, então não faz sentido cobrar juros a partir de algo que não é capaz de se reproduzir. E se um bem não se reproduz, então a cobrança é voltada para o nada, injusta e improdutiva.
1.3.4) E é dentro de uma economia de morte, fundada no metal, que a cooperação se torna competição, instrumentalizando na prática a cosmologia protestante de dividir o mundo entre eleitos e condenados, dando origem à luta de classes (os burgueses e os proletários).
2.1) A lei de preferência temporal só pode ser explicada num contexto cultural onde o mundo foi dividido nesta circunstância.
2.2) Se a riqueza é sinal de salvação, então muitos preferirão os bens presentes, materiais, a bens futuros, fundados na esperança da vida eterna. E a riqueza monetária é uma graça concedida aos eleitos, não aos condenados, que concentrarão os poderes de usar, gozar e dispor de modo a terem poder absoluto. E isso é conservar o que é conveniente e dissociado da verdade.
2.3.1) O kantismo é cria do protestantismo alemão - e a escola austríaca usa muitos elementos kantianos.
2.3.2) Como essa doutrina é anticatólica, então Angueth está certo em falar que a escola austríaca é tão contrária à Igreja quanto o marxismo.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 27 de abril de 2018 (data da postagem original).
Nenhum comentário:
Postar um comentário