1) O município e o conjunto de famílias que toma o lugar onde se vive como um lar em Cristo tendem a se tornar um só ente, pois há a junção de dois corpos numa entidade só - eis o casamento da iniciativa pública com a iniciativa privada no tocante à construção do bem comum, se as coisas tiverem fundamento em Cristo. Enquanto o município for pequeno, as pessoas tendem a conhecer bem umas às outras, tornando mais fácil para a população cobrar soluções do prefeito, pois ele faz parte das famílias locais, a ponto de este ser acessível.
2.1) Se o município abraça a riqueza como um sinal de salvação, então a localidade vai buscar o desenvolvimento a qualquer preço - e quanto maior for o desenvolvimento, maior a necessidade de uma intervenção do Estado de modo a garantir o pleno desenvolvimento local, pois a cidade se tornou mais complexa, mais problemática. E quanto maior a necessidade de intervenção, maior a capacidade de concentrar poderes em poucas mãos, a ponto de haver risco de tirania.
2.2) Quanto mais desenvolvido for o município, mais gente morará no lugar a ponto de ninguém mais conhecer uns aos outros - e por conta de ninguém mais conhecer bem uns aos outros, surgem os conflitos de interesse qualificados pela pretensão resistida, fazendo com que o Estado tenha de aplicar a lei e dizer o direito. E como vemos no Brasil, muitos advogados preferirão a jurisdição à transação ou à mediação, a ponto de se tornar uma espécie de fetiche, pois o culto à jurisdição faz o Estado ser tomado como se fosse religião.
3.1) A administração pública impessoal é inerente de um lugar densamente povoado e desenvolvido - e quanto maior a impessoalidade dessa administração, maior a possibilidade de reduzir os atos da pessoa jurídica que administra o município a seus atos e funções, fazendo com que a solidariedade orgânica fundada na junção de dois corpos num só, o município e as famílias que tomam o lugar como um lar em Cristo, se torne uma solidariedade mecânica, fazendo com que a administração pública fique de costas para as necessidades dos munícipes, das famílias. E neste ponto a burocracia tende a se expandir, pois suas necessidades estão sempre em constante expansão, a ponto de ter um fim em si mesmo.
3.2) É por força da solidariedade mecânica, onde tudo é regido pelo Estado tomado como se fosse religião, que as pessoas humanas se tornam insolidaristas e traiçoeiras.
3.3) Num ambiente de solidariedade mecânica, onde a pessoa jurídica do Estado se reduz a seus atos e funções, esses atos e funções passam a ser desempenhados por aquela ínfima parcela da humanidade que trabalha na burocracia, o que comprova a sua natureza impessoal e formal, a ponto de conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, a ponto de dizer o direito com fins vazios.
3.4) A maior prova dessa redução está no fato de que pessoa jurídica do município se divide em diversos órgãos dotados de uma função específica prevista em lei e não no bom senso administrativo.
3.5) Cada órgão tem sua razão de ser, sua especialização e os agentes públicos lotados não podem ser demitidos, pois o governo da cidade tornou-se mais instável, por conta do desenvolvimento a qualquer preço - e por não poderem ser demitidos, tendem a não se comprometer com a coisa pública, por força do carreirismo.
3.6.1) É por força do carreirismo que conservam o que é conveniente e dissociado da verdade, a ponto de estarem à esquerda do Pai sistematicamente.
3.6.2) Essa situação tende a se agravar no momento em que a cultura local adota a ética protestante e o espírito do capitalismo, já que a riqueza se torna o sinal de salvação, aumentando ainda mais a influência do grupo de burocratas sobre a população, fazendo com que o casamento entre o município e o conjunto de famílias que toma aquele lugar como um lar em Cristo termine em divórcio.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 24 de abril de 2018.
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