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quarta-feira, 18 de abril de 2018

Notas sobre a economia de permissão e patrocínio

1) Em termos de economia de ordem pública, todo príncipe deveria chamar os que estão interessados a servir de modo que a cidade seja tomada como um lar em Cristo.

2) Os que são chamados a servir se dividem em duas categorias: os que estão subordinados diretamente à autoridade do príncipe e, por extensão, ao próprio Cristo, que podem ser chamados de servidores públicos, e os que estão agindo sob livre iniciativa, cuja liberdade é patrocinada pelo príncipe por meio da autonomia, já que há nuances no serviço público em que a liberdade para agir é mais essencial do que o comando. Eis os particulares que colaboram com a iniciativa pública, na figura de autônomos.

3) Não tratarei aqui dos servidores públicos, do que têm uma carreira de Estado, mas dos que agem sob livre iniciativa, dos que não estão subordinados diretamente à autoridade do príncipe.

4.1) Quem é autônomo tem em geral permissão para colaborar com o serviço público tendo por base aquilo que tem de melhor. Se é um bom motorista, ele pode dirigir um táxi; se é um bom médico, pode ter uma clínica; se é um bom advogado, pode ter um escritório de advocacia; se é um bom pintor ou escultor, pode ter um ateliê.

4.2) À medida que ele vai servindo a todos da comunidade, mais ele vai promovendo o nome do príncipe que concedeu a sua autonomia - e quanto mais vai bem servindo, mais vai subindo na hierarquia de modo a ter mais liberdade, para melhor servir a seus semelhantes.

4.3) Se ele tem permissão para ter um negócio, ele terá liberdade para ter dois negócios ou mais, se tiver capacidade e condições para servir bem os seus semelhantes nesta circunstância. E quanto mais liberdade ele tiver, mais ele poderá colaborar com a coroa, quando for chamado a recolher os tributos que devem ser dados por conta de o príncipe ter servido a todos de modo que a cidade seja tomada como um lar em Cristo.

4.4) Afinal, dar ao príncipe o que é próprio do príncipe, que é o tributo que deve ser dado a este por bem servir aos que estão sujeitos à sua proteção e autoridade, é dar a Deus o que é de Deus, já que este só é príncipe pela graça de Deus, por força do princípio de que o acessório segue a sorte do principal.

5.1) Se a autoridade do príncipe aperfeiçoa a liberdade, então a economia de permissão e patrocínio evita que os bens sejam concentrados em poucas mãos, coisa que se funda no amor de si até o desprezo de Deus.

5.2.1) A livre iniciativa só tem sua razão de ser se o que serve ama a todos de sua comunidade, por conta de amarem e rejeitarem as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento.

5.2.2) É preciso que se veja Cristo na figura do príncipe que governa a cidade, bem como na figura de todos os que tomam a cidade como um lar em Cristo.

5.2.3) Se ele fizesse as coisas olhando só para o próprio umbigo, não colaboraria em nada para o aperfeiçoamento da coisa pública, para o bem comum. Isso sem mencionar que não ensinaria os filhos a serem bons cidadãos, mas a usarem a sociedade de modo a conseguirem o que querem para depois traí-la, se houver algo que atenda melhor a seus anseios do que viver sob a autoridade e proteção de um príncipe que serve a Deus ao reger bem seu povo, de modo a preparar todos sistematicamente para a pátria definitiva, que se dá no Céu.

5.2.4) Esse tipo de egoísmo leva à proletarização geral da sociedade, pois a riqueza, ao invés de ser usada para aprimorar o bem comum, será usada como salvação, já que o mundo será artificialmente dividido entre eleitos e condenados - e os eleitos, segundo os que conservam o que é conveniente e dissociado da verdade, são geralmente agraciados com a riqueza e os condenados com a miséria.

5.2.5) Se a riqueza se torna um fim em si mesmo, então a justa causa, fundada no trabalho de bem servir, tem pouca relevância, a ponto de esta ser equiparada com o roubo - e não demorará muito para dizerem que a propriedade é um roubo. Afinal, quem ama a si mesmo despreza Deus e praticará atos contrários ao bom Direito de modo a conseguir o que deseja.

5.2.6) Eis aí a economia do crime organizado: dinastias fundadas nesse tipo de amor desordenado não hesitarão de empregar um exército de mercenários de modo a conseguir o poder que desejam e assim estabelecer uma nova ordem sobre a terra. Eis a transição da sociedade cristã para a sociedade onde o paganismo passa a ser revivido - eis a origem da Renascença.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 18 de abril de 2018 (data da postagem original).

Comentários:

Vito Pascaretta:

1.1) O interessante desse texto é que mostra justamente a maior crítica dos libertários (anarco-capitalistas) aos Estados: que são organizações criminosas que usam de coação para obter impostos.

1.2) Obviamente, os libertários chegaram a essa conclusão por outras vias, baseados apenas na “ética libertária” de livre associação e de não-agressão mútua, ao passo que nós, cristãos, podemos chegar a essa conclusão baseados no fato de que quem serve a Cristo o faz de livre, boa e espontânea vontade, se associando em comunidades com a finalidade de evangelizar e promover o bem comum, tendo a Igreja Católica como instituição de valores morais, sem a necessidade do Estado, tomado como religião, ditá-los.

2.1) A existência de um principado estaria ligada ao direito de propriedade da terra, tendo aquela dinastia desbravado o território ou adquirido direito sobre aquelas terras e promovido o cristianismo sobre elas. Isso transformaria os tributos cobrados às pessoas que optaram por tomar aquele país como um lar em Cristo num arrendamento, e nesse arrendamento estão aí inclusas as permissões para exercerem atividades economicamente organizadas; se as terras têm dono, então ele decide o que ocorre nela conforme seus valores - nesse caso, os valores cristãos. Logo, todo o Reino e todas as terras a serem povoadas no além-mar se tornam uma grande enfiteuse, onde o povo todo paga foro anual ao Rei - e isso é uma espécie de tributo, que é dado em honra a quem deu liberdade para eles tomarem o país como um lar em Cristo.

2.2) Quando repúblicas são criadas em mera substituição às monarquias, sem que haja fato justificador, há, de fato, roubo do direito de propriedade do soberano pelos republicanos, legitimando plenamente que se questionem impostos cobrados, assim como o fez Antonio Conselheiro e o faz a quase totalidade dos cidadãos de bem atualmente no Brasil.

José Octavio Dettmann:

1) Esse direito de propriedade da terra, no caso a soberania, foi dado por Deus. No caso de Portugal, ele foi dado pelo Cristo Crucificado diretamente; nos demais reinos, por intermédio da Igreja Católica, já que o vigário de Cristo, o Papa, coroou os reis, de modo que fossem como Cristo para os que estão sujeitos à sua proteção e autoridade dentro dos limites de seu Reino.

2) Portugal recebeu a missão para servir a Cristo em terras distantes - por isso, teve permissão para transformar o pequeno reino num Império de ultramar, por força de Cristo - e enquanto bem serviu a Cristo, esse império pôde ser expandido.

3) Quem ousou questionar a vontade de Deus, como ocorreu com o Rei da França, ou foi aos mares em busca de si mesmo - como Espanha, Inglaterra ou Holanda - tornou-se um expropriador de riquezas alheias, pois o soberano mais se preocupou com o amor de si até o desprezo de Deus e não se preocupou em desenvolver esses territórios recém-descobertos em estados, partes integrantes do Reino, ainda que no ultramar.

4) O Brasil foi elevado à categoria Reino Unido porque foi tomado como um lar em Cristo junto com Portugal - e o começo da nossa desgraça se deu quando D. Pedro traiu seu pai D. João VI e secedeu o Brasil de Portugal de modo a criar um Império fundado no amor de si até o desprezo de Deus- e esse império desaguou numa república, alimentando a apatria e a má consciência de muitos. 

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