1.1)
Muita gente tende a tomar o nacionalismo como o oposto do globalismo.
Fazem isso porque o horizonte de consciência é muito reduzido, a tal
ponto que confundem tomar o Brasil como um lar com país tomado como se
fosse religião.
1.2)
Isto é explicado não só por conta de o país estar fortemente
descristianizado, amputado das suas razões de ser, uma vez que o Brasil é
um desdobramento daquilo que houve em Ourique, em terras americanas. Ao
matarem esta árvore e colocarem no lugar a árvore envenenada do
quinhentismo e da independência, os frutos desta terra ficaram podres,
fundados numa liberdade voltada para o nada. Não é à toa que sigo o
conselho do professor Olavo: evito o mundo, o diabo e a carne.
2.1)
O nacionalismo é na verdade a tirania do Estado tomado como se fosse
religião em um só país. E isso prepara o caminho para o comunismo, que é
essencialmente internacionalista.
2.2.1)
Tal como cupins, eles destroem tudo o que é orgânico e bom, fundado na
conformidade que vem de Deus e que faz o país ser tomado como um lar em
Cristo - n'Ele, por Ele e para Ele, o que nos leva para a pátria
definitiva, a qual se dá no Céu.
2.2.2)
Em seu lugar colocam tudo o que é mecânico, com o intuito de tudo ser
controlado por meio de máquinas eficientes, criando uma espécie de
solidariedade forçada, que é na verdade mais pastosa do que sólida. Digo
pastosa porque ela é o estado intermediário entre o sólido e o líqüido -
o sólido leva à solidariedade, ao orgânico, fundado na conformidade com
o Todo que vem de Deus; o líqüido, leva à liberdade voltada para o
nada, uma vez que determinadas formas são assumidas de modo a se servir
um conteúdo venenoso e destrutivo, relativizando e pervertendo tudo o
que é sagrado e verdadeiro. Talvez o pastoso seja a síntese da tese, o
líqüido, e a antítese, o sólido, pois o sólido deve desmanchar-se no ar -
e o desmanche passa por meios intermediários, já que a conversão do cru
para o cozido não se dá num passe de mágica.
2.3.1)
Se a nação é um pequeno sistema, uma pequena máquina que se funda em si
mesma de modo a atender aos fins do Estado tomado como se fosse
religião, então o globalismo é uma grande máquina decorrente da
associação dessas outras máquinas de modo a produzir algo totalitário e
nefasto em larga escala.
2.3.2)
Como a eficiência se funda numa economia de escala, então decisões
totalitárias podem ser tomadas em escala global se os países forem todos
reduzidos a uma máquina, sistematicamente falando.
2.3.3)
O comunista se assemelha ao liberal, por conta de sua visão mecanicista
- e a economia fica subordinada aos fins da política, a tal ponto que a
propriedade privada é vista como uma concessão precária do Estado, que
vê o trabalho do particular que colabora com os fins do governo como
algo útil ao seu plano de dominação mundial. Em termos de Direito
Administrativo puro, tomado em si mesmo, a propriedade privada é uma
permissão de uso que o governo dá a bens sem destinação específica, os
chamados bens públicos dominicais - e esta permissão pode ser encampada
se houver conveniência e oportunidade.
3)
Enfim, nacionalismo não é o oposto de globalismo; se tomarmos por base a
teoria dos círculos concêntricos, é algo menor que prepara o caminho
para algo maior. Como bem apontou Bertrand de Jouvenel, se há meios de
se concentrar os poderes de usar, gozar e dispor dos bens em poucas mãos,
então os abusos se multiplicarão. E todo dia novos mecanismos são
criados com essa finalidade.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2017.
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