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sábado, 8 de setembro de 2018

Da família, da comunidade e do Estado ou notas sobre esta unidade de três elementos que organizam a polis

1) De certa forma são três os elementos que compõem o todo, embora esse todo não seja a mera soma das partes: família, a comunidade e o Estado. Eles compõem uma trindade, o que é essencial para se tomar o país como um lar em Cristo.

2) A família forma a persona do indivíduo e esse indivíduo só se realiza enquanto tal quando oferece seus dons a serviço do bem comum, da polis, contribuindo para a boa fama da família que o formou - eis a essência da nobreza.

3.1) Tudo o que é sólido deriva daquilo que é nobre, daquilo é feito com excelência: o indivíduo é uma pessoa, uma vez que ela está em constante solidão enfrentando as suas circunstâncias de vida. Quando esse indivíduo compartilha a sua solidão sistematicamente com os outros que eventualmente descobre, o seu mundo interior cresce, uma vez que seu eu está amalgamado e lastreado aos eus de outras pessoas que lhe antecederam no caminho que está traçando, a ponto de o nós não ser a mera soma de vários eus ao longo do tempo, seja no passado, no presente ou no futuro, uma vez que o nós é a eternidade, é uma unidade fundada em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Por isso que é preciso descobrir os outros de modo a se viver a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus. Eis a essência da tradição e da família.

3.2.1) Quando uma família estabelece uma atividade econômica organizada, ela visa a responder aos ditames da vida particular, das suas circunstâncias e o que ela aprende nas suas circunstâncias acaba beneficiando a polis como um todo. 

3.2.2) Por isso que não é sensato estabelecer uma economia de competição, pois as circunstâncias vividas de uma família são exclusivas, uma vez que são irrepetíveis. É mais sensato falar em economia de colaboração, onde famílias ajudam outras famílias compartilhando experiências, bens e recursos de modo que umas e outras cresçam em constante ajuda mútua.

3.3) Como um dos fundamentos da atividade economicamente organizada é a integração entre as pessoas, então as experiências sistematicamente compartilhadas acabam fazendo com que as economias particulares virem cooperativas de crédito, edificando uma ordem comunitária, uma ordem pública fundada na ação das iniciativas particulares das famílias, cabendo ao Estado proteger tal trabalha contra quem deseje sabotá-la

4.1) É preciso ressaltar muito bem a diferença de particular e privado.

4.2) A iniciativa privada desordenada se funda no amor de si até o desprezo de Deus - e por isso mesmo ela exclui os outros, por força do egoísmo. Se esse egoísmo for tomado como se fosse religião, isto leva a uma ordem pautada no relativismo moral, onde a liberdade será servida com fins vazios, uma vez que para esse indivíduo o direito é um preconceito e os vícios são virtudes.

4.3.1) A iniciativa particular decorrente da ação de um único homem virtuoso que enfrenta suas circunstâncias e suas misérias perante a vida, a Deus e a História, esta é digna de ser vivida, pois isto exige a melhor parte do ser humano, que é a coragem. Foi a partir desta coragem que ele consagrou sua vida e sua atividade economicamente organizada, a serviço de Deus e de todo aquele que precisar de sua ajuda. 

4.3.2) Essa iniciativa particular, em consórcio com outras iniciativas particulares, ela pode ser tornar uma iniciativa comunitária. Ela colabora com a missão dada em Ourique de servir a Cristo em terras distantes, naquilo que é capaz de fazer de melhor. 

4.3.3) Por isso mesmo, por honra a essas virtudes heróicas, essa atividade precisa de um sucessor, geralmente alguém da família, pois os filhos tendem a conhecer mais a persona do pai do que qualquer outra pessoa.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 8 de setembro de 2018 (data da postagem original).

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